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Esportes

Cristiano Lenhardt, Guilherme Teixeira, Igor Vidor, Paulo Nazareth, Paulo Nenflídio, Marcone Moreira, Romy Pocztaruk, Yuri Firmeza e Ana Azevedo (Brasil), Bernardo Zabalaga (Bolivia), Antje Majewski, Sabine Vogel, Samuel Herzog (Alemanha) e Daniela Rodrigues (Portugal), estão em Palmas, no Tocantins, desde o dia 21 de outubro e ficarão até o dia 1º de novembro, convidados pelo Instituto Goethe Brasil. Essa trupe de criadores terá a missão de desenvolver trabalhos inspirados na primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas. A curadoria é de Alfons Hug; a cocuradoria, de Paula Borghi.

Todo o processo será documentado diariamente em um blog realizado em parceria com o DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico), no qual os integrantes compartilharão suas impressões intelectuais e imagéticas sobre os Jogos. O material coletado vai compor a mostra "Jogos do Sul", que será exibida em agosto de 2016 durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica.

O que está em jogo

A grande singularidade do projeto está em unir, de forma bastante especial, a arte, o esporte e a diversidade – combinação rara no panorama da cultura contemporânea, que, além de tudo, é pouco comum fora do Brasil. É uma oportunidade de refletir sobre a inter-relação entre essas três esferas, tratadas com linguagens artísticas e esportivas que se situam fora dos grandes estádios e que justapõem o lúdico ao reflexivo.

"O fato de expor o resultado artístico dessa imersão nos Jogos Indígenas durante os Jogos Olímpicos 2016 é particularmente interessante porque nos permite uma análise das motivações da mídia num megaevento como as Olimpíadas, à luz de fatores como a interação entre indivíduo e sociedade, quando as duas partes têm oportunidade de medir seus limites", explica Alfons Hug.

A primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas irá reunir aproximadamente dois mil participantes de mais de uma dezena de países. Os artistas visuais, a cineasta, os jornalistas e cientistas que integram o projeto buscarão vestígios de esportes no continente com o objetivo de produzirem obras que remetam às tradições de cada país – considerando, em primeiro plano, - as formas esportivas tradicionais, indígenas, rurais, amadoras, ameaçadas de extinção, incomuns e mais raras.

A mostra “Jogos do Sul”, que nasce dos Jogos Mundiais Indígenas, em sua originalidade e autenticidade, propõe uma atmosfera em que competir é mais importante do que ganhar ou perder, ou do que contar medalhas. Num momento em que o jogo é inocente, basta-se a si mesmo e o esporte aflora espontaneamente.

Olhares em contraponto

Desde Berlim (1936), a estética de Leni Riefenstahl, representada pela combinação entre um corpo “belo” e a massa “feliz”, permeia a coreografia dos Jogos Olímpicos. Às vezes mais, como em Moscou e Beijing; às vezes menos, como nos jogos “serenos” de Munique em 1972. Nem sequer a introdução de cenários da cultura pop, a partir dos anos 1980, foi capaz de mudar esse quadro tão influenciado pela propaganda. Essa influência ganhou uma dimensão muito maior, a partir da comercialização globalizada.

Ainda que apenas no gesto, o projeto dessa corrida de revezamento pela arte busca se distanciar do espírito de Riefenstahl, ao resgatar a atenção sobre a autodeterminação do esporte e seus momentos poéticos. Sob esta perspectiva, esportes como corrida de tora, lutas corporais, canoagem rústica, xikunahati (ou futebol de cabeça), natação de travessia, corrida de velocidade rústica, cabo de força, arremesso de lança e tiro com arco e flecha, entre outros, serão a matéria-prima em cima da qual os criadores trabalharão para construir o trajeto dessa nova e instigante corrida artística.

O projeto, idealizado pelo Goethe-Institut do Rio, tem patrocínio da GIZ, do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Durante os Jogos Mundiais Indígenas, a equipe produzirá o material da exposição, em vídeos, fotos, pesquisas e outras formas de interação.