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Estado

O Grupo Comunicação e Democracia, do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná, lançou em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), no evento XX Encontro Nacional dos Jornalistas em Assessoria de Imprensa (ENJAI), em Fortaleza, uma pesquisa sobre o comportamento dos jornalistas brasileiros diante de pressões editoriais provenientes de interesses alheios ao bem-público. A intenção é identificar e mensurar em que grau as redações brasileiras são afetadas por relações de poder com grupos políticos e econômicos e compreender de que forma os profissionais de comunicação reagem a essas interferências externas à lógica da prática jornalística.

O questionário está sendo aplicado em todo Brasil por meio de formulário online, que pode ser acessado no link http://www.questionarios.ufpr.br/index.php/133733/lang-pt-BR  até dia (07/12). O roteiro é anônimo, composto de 50 perguntas e pode ser respondido em aproximadamente 10 minutos. A intenção dos pesquisadores é ouvir cerca de 2.800 jornalistas de todo Brasil.

Dados do Paraná

A pesquisa sobre liberdade de informação é uma iniciativa de um grupo de pesquisa da UFPR coordenado pelo professor e jornalista Mário Messagi Júnior e dá continuidade a pesquisa semelhante realizada pela jornalista Ester Athanásio em 2013. Na ocasião, a pesquisa ouviu 277 jornalistas paranaenses a respeito do assunto. Os dados revelaram que grande parte dos profissionais está sujeito a pressões comerciais e políticas na rotina das redações e tende a se submeter a infrações éticas a fim de preservar as relações de trabalho e o próprio emprego, já que se sentem desprotegidos. Apesar do conformismo, os paranaenses reconhecem que o cenário é prejudicial ao papel social da profissão; o que a pesquisadora denomina “apatia consiciente”.

De acordo com os resultados, 88,6% dos jornalistas percebe, em alguma medida, a interferência editorial originada de critérios não-jornalísticos (interesses político-econômicos, por exemplo); 74,3% já realizou pauta “recomendada” (instrução para escrever reportagem de acordo com interesses do veículo enquanto empresa) e 55,7% não concordam com as pressões, mas mesmo assim administram o impasse “com cautela”, sendo que 8,5% obedece a esse tipo de ordem para manter emprego. Outra conclusão importante diz respeito a autocensura. Prevendo o corte de textos inadequados a linha editorial do veículo, os profissionais tendem a antecipar a censura. Ao menos 70% já deixou de publicar determinado assunto prevendo o corte.

Agora a pesquisa nacional amplia ainda mais o debate sobre imprensa e democracia, já que acrescenta perguntas sobre acesso à informação e violência que não apareciam no questionário original. Com dados de todo o Brasil, os pesquisadores esperam obter um mapeamento da situação e um quadro comparativo entre regiões e estados brasileiros, a fim de identificar as situações mais críticas e fomentar um debate a respeito.

Apoio

A pesquisa sobre liberdade de informação busca amostragem equivalente a Pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro, desenvolvida pela UFSC em 2012, sob coordenação do professor Jaques Mick. Na ocasião, foram levantados dados demográficos sobre a classe jornalística brasileira.

O grupo da UFPR é apoiado pela Federação Nacional dos Jornalistas, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Sindijor-PR). Para alcançar amplitude em outros estados, os pesquisadores buscam ainda suporte dos sindicatos regionais de jornalismo.  Os relatórios estarão disponíveis posteriormente para que sindicatos estaduais e Fenaj façam análise dos dados; os dados serão disponibilizados na mídia.