O presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders, disse que é preciso construir uma política de diversificação do consumo de feijão no país. Segundo ele, o hábito do brasileiro de consumir prioritariamente feijão-carioca deixa o País e os produtores muito dependentes. Então, quando há algum problema na safra, como ocorreu atualmente por causa da seca prolongada, há aumento do preço do produto.
Atualmente já há um entendimento sobre a necessidade de diversificação dos tipos de feijão. “Se o consumidor estivesse habituado a ter uma variedade constante de feijão-branco, vermelho, rajado, caupi, por exemplo, neste momento [de aumento de preço do carioca] iria consumir mais os outros, que poderiam ser importados da China, dos Estados Unidos ou da Argentina”, disse.
A presidente da Associação de Nutrição do Distrito Federal, Simone Rocha, explicou que é possível substituir o feijão-carioca pelo feijão-preto, de corda ou fradinho, que estão mais baratos. Segundo ela, a base proteica das diversas variedades de feijão é muito similar, com o preto, por exemplo, tendo mais ferro e o fradinho, mais carboidrato. “Mas a combinação arroz e feijão forma o aminograma [quantidade de aminoácidos, que formam as proteínas] perfeito, como o aminograma da carne. Por isso o brasileiro era considerado um dos povos que melhor se alimentava”, disse.
Importação autorizada
Para tentar baixar os preços dos grãos, a taxa de importação de feijões preto e carioquinha ficará zerada por 90 dias. Atualmente, o feijão que entra no País paga tarifa de 10%. No entanto, o produto de países do Mercosul já é isento de tarifa de importação, então, na prática, a medida estendeu a alíquota zero para países de fora do bloco econômico que produzam feijão, como a China.
Entretanto, Luder ressalta que o feijão-preto é que deve ser importado, então, o preço do feijão-carioca só deve cair com a primeira colheita de feijão da safra 2016/2017, em fevereiro e março do ano que vem, caso as condições climáticas não atrapalhem o plantio.
Nova safra
O Brasil tem três safras de feijão, uma colheita em abril; a segunda até julho; e a última, que é irrigada, está com o plantio sendo finalizado este mês para ser colhido até outubro. “Com a entrada da safra irrigada a partir desse mês e a concentração em julho e agosto, prevê-se uma queda nos preços, que devem fazer o movimento inverso até a entrada da safra 2016/2017, cujo plantio inicia-se a partir de setembro”, disse o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller.
Entretanto, para Marcelo Lüders, essa terceira safra será “uma gota d´água no deserto”, que vai amenizar, mas não eliminar os fatores que elevaram o preço do feijão. A terceira safra de feijão está estimada em 873,3 mil toneladas, 2,4% acima da terceira safra de 2014/2015.
Seca prolongada
De acordo com o nono levantamento da safra 2015/2016, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) as estiagens prolongadas e altas temperaturas levaram ao recuo na produção total de grãos, inclusive do feijão. A estimativa é de 2,9 milhões de toneladas de feijão nesta safra, 6,1% inferior à anterior. (CNM)