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Opinião

Foto: Divulgação

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Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a safra 2016/2017 de cana-de-açúcar produzida pelo Brasil deverá chegar a 691 milhões de toneladas, com um aumento de 3,8% em relação à safra anterior, quando foram colhidas 665,6 milhões de toneladas. Esta será a maior safra já colhida no País. 

Apesar dos números bastante promissores, um problema cresce e já está gerando quedas na produtividade, podendo se agravar ainda mais em um futuro próximo. A mudança de colheita manual e, consequentemente, queima de palha da cana para a colheita mecanizada, definida pelo Protocolo Agroambiental para acontecer até 2017, apesar de muito benéfica pelo ponto de vista ambiental, traz uma nova realidade para o agricultor se adaptar quando se fala em manejo da alteração da dinâmica populacional de plantas daninhas nos canaviais.

O fim das queimadas foi um avanço nos impactos ambientais causados pelo cultivo, mas abriu espaço para incremento das plantas daninhas da classe das folhas largas, como mamona, mucuna, merremias, cordas-de-viola, bucha, entre outras, que raramente eram vistas nos canaviais.

Estas ervas, se não combatidas da forma correta, podem rapidamente infestar as áreas cultivadas de cana e causar sérias consequências. A primeira delas é operacional. Durante a colheita elas dificultam a operação das colheitadeiras, que precisa ser paralisada até que seja feita a limpeza. Este tempo perdido gera grandes prejuízos ao produtor, já que o custo deste tipo de equipamento é alto e cada minuto perdido interfere no prazo para realizar a colheita.

A segunda é a influência da erva na qualidade industrial da matéria prima enviada para a indústria. A mistura da cana-de-açúcar com as plantas daninhas feitas na hora da colheita mecanizada diminui o teor de sacarose e pureza do extrato final, diminuindo a qualidade do produto que o agricultor tem em sua lavoura e, consequentemente, o rendimento tecnológico. Com isso, as usinas passam a pagar menos, gerando ainda mais prejuízo para o produtor.

Outro fator de risco causado é a queda de produtividade, comum em todas as lavouras cujo controle das folhas largas foi inadequado durante os tratos culturais. Atualmente, as “reboleiras” - como são chamadas os focos de ervas no meio do canavial - podem causar redução no resultado da safra 2016/2017 na maioria das unidades de produção de cana do País.

O desconhecimento dos produtores de cana das infestações que ocorrem no interior do canavial já desenvolvido, pois é difícil observar quando em fase final de colheita, faz com que este problema seja negligenciado, uma acomodação do agricultor em prevenir um futuro risco. É preciso antever para o problema já mesmo na hora do plantio para que estas folhas largas não infestem o canavial e tomem proporções que dificultem o controle.

Para enfrentar este novo desafio, os produtores de cana-de-açúcar precisam se preparar para fazer o manejo das plantas daninhas folhas largas de difícil controle da forma correta até o fechamento do canavial. Após isso, a dificuldade aumenta, pois só se consegue fazer o controle com aplicação aérea de herbicidas específicos utilizando avião ou até helicóptero, representando alto custo.

O intercâmbio de informações com agricultores que trabalham com outras culturas também é importante. Produtores de soja, algodão ou milho já enfrentam este problema há anos e podem passar experiências importantes no combate e na forma de se fazer o manejo preventivo.

O setor canavieiro já enfrenta graves crises ao longo dos últimos anos e precisa se precaver para não enfrentar outra no futuro. A nova realidade da colheita mecanizada trará grandes benefícios para todos, mas como qualquer mudança gera uma fase de adaptação. Aqueles que se planejarem e se preparem para mudança devem sair mais fortes e ilesos.

Pedro Jacob Christoffoleti é pesquisador da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Wolf Team da UPL Brasil