Após assembleia geral realizada na noite da última segunda-feira, 31 de outubro, onde a maioria dos discentes propuseram pela ação de ocupação, o Campus da Universidade Federal do Tocantins, na cidade de Tocantinópolis, extremo norte do Estado, amanheceu nesta terça-feira, 1º de novembro, ocupado pelos estudantes universitários. Com o ato, mais um Campus se torna ocupado no Estado.
A ocupação conta com estudantes dos Cursos de Pedagogia, Ciências Sociais, Educação Física e Educação do Campo. De acordo com a secretária de Assuntos Acadêmicos do CA de Pedagogia, Wagna da Silva Ferreira, o ato é em favor da Educação e reivindica algumas propostas e reformas instituídas pelo Governo Federal.
“Estamos reivindicando posicionamentos ditatoriais de um governo golpista que veio impor propostas que vão respingar principalmente nas áreas da saúde, educação e assistência social. Infelizmente sabemos que todos esses setores irão ser prejudicados, afetando diretamente a população, uma vez que são as classes menos favorecidas que necessitam desses atendimentos públicos”, destacou.
Segundo a secundarista, o “Movimento Ocupa UFT” que possui o apoio da maioria dos professores, não tem previsão de desocupar a Universidade, mas reitera que a aplicação das provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), realizadas sábado (5) e domingo (6) próximo, não será prejudicada, pois assim como nos demais Campis, a ação é pacifica e ordeira.
“Não pretendemos desocupar e nem viemos aqui para fazer baderna e nem para perder tempo, viemos aqui para termos formação política, para debatermos e termos momentos de conversa coletiva aonde cada irá um expor suas ideias e ajudar nas estratégias. Estamos aqui para termos visibilidade, e termos nossos diretos reconhecidos e valorizados”, frisou Wagna.
Os ocupantes afirmam que a classe dos professores, da qual futuramente irão fazer parte, já que são graduandos em cursos de licenciatura, apregoam que os educadores são tratados com indiferenças e vergonha no Estado e no País.
“Nós não podemos nos calar, pedimos à população de Tocantinópolis e das cidades vizinhas que não nos olhe como “vagabundos desocupados”, que não nos olhe como “vândalos” e nem como pessoas que querem ocupar um espaço para ter momentos de diversão, pelo contrário, estamos aqui em protesto, e a nossa causa é protestar a tudo que o Governo Temer tem imposto a nós e por tudo o que tem sido propagado nas mídias que atendem a um grupo que é minoria. Nós não devemos nos opor à nossa luta”, acrescentou.
A Universidade é um espaço constituído onde se deve ter por meio de discussões amplo grau de conhecimento e criticidade em favor da sociedade. São espaços onde se discuta análises politicas e fatos sociais atinentes à coletividade. Ou seja, um ambiente aberto e propício ao diálogo, e segundo os estudantes, esse espaço corre sérios riscos de ser tomado por medidas ditatoriais, onde cada cidadão terá que seguir regras e viver em neutralidade.
Os estudantes universitários que participam do ato são contrários à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 aprovada na Câmara dos Deputados, que limita os gastos públicos no País, a medida provisória da reforma do Ensino Médio e a Lei da “Escola Sem Partido”, que prevê "neutralidade política, ideológica e religiosa".
“Não concordamos com tais medidas, visto que são medidas inerentes ao aprendizado e formação da capacitação da mão de obra e manutenção desse mercado. Disciplinas como Filosofia, Sociologia capacitam o aluno a pensar a sociedade, a organização social e criticar o que está posto, a tomar partido, a tomar posicionamento. Nós precisamos reivindicar sim essa medida provisória que vem nos desvalorizar, que vem nos envergonhar e que vem nos colocar novamente no lugar de oprimidos. Não aceitamos essa condição e iremos reivindicar e lutar, pois a nossa bandeira é a Educação. Temos ideais e defendemos nossos ideais. Portanto, convidamos a comunidade para nos apoiar e a conhecer o nosso movimento, para adentrar a universidade nesse momento e participar da programação e conhecer de fato o que estamos propondo; um movimento aberto para toda sociedade”, disse Wagna.
O professor do curso de Pedagogia, Joedson Brito destacou que os movimentos e ocupações devem ter uma pauta, um por que, um cronograma e uma sequência, para saber por que estão parando e o que pretendem atingir e alcançar para não jogar contra si mesmos, e para não ter o viés de apenas parar por parar.
“É um ato muito interessante. Duas coisas: primeira, é o fato dos alunos despertarem para uma consciência política, entendimento do contexto atual, das problemáticas, pensarem sobre as questões das compreensões, tanto do lado positivo como negativo. É importante os alunos se juntarem e se mobilizarem, fazendo formação política e também problematizar esses conceitos atuais inclusive de reformas com impactos na Educação. Segunda, o processo de ocupação que está acontecendo no País, sendo mais de mil instituições ocupadas, reflete também esse momento, porque muitos não estão aceitando essas reformas que tem um impacto direto na saúde, educação e nas políticas sociais. Acredito que é um ato positivo pelo processo de conscientização e pelo processo de luta. Precisamos ter essas ocupações e manifestações para termos uma resposta do Governo e um posicionamento na própria universidade e das instituições públicas sobre essas questões”, esclareceu.
Cerca de 20 alunos estão dormindo no local, enquanto outros oferecem suporte com alimentação e outras necessidades. Os estudantes estão recebendo donativos alimentícios para a estadia durante a ocupação. Com o Campus de Tocantinópolis, agora são três os Campis da UFT ocupados por estudantes. Os outros são o Araguaína e Porto Nacional.