Conexão Tocantins - O Brasil que se encontra aqui é visto pelo mundo
Saúde

Foto: Cleia Gomes

Foto: Cleia Gomes

Se despir do preconceito para realizar um diagnóstico mais profundo e preciso para a Hanseníase tem sido o ensinamento repassado aos profissionais de saúde da Prefeitura de Palmas pelo médico especialista em Hanseníase, Jaison Barreto, do Instituto Lauro de Souza Lima (Bauru - SP). Ele está em Palmas, onde permanece até sexta-feira, 10, para uma série de capacitações com aulas práticas dentro dos Centros de Saúde Comunitários (CSC) da Capital. As atividades fazem parte do programa “Palmas Livre da Hanseníase”, que objetiva eliminar a doença por meio de diagnóstico precoce e tratamento adequado para o paciente e seus familiares.

Desde o início do programa, Barreto vem a Palmas todos os meses, ficando por pelo menos dez dias, visitando todas as unidades de saúde dando treinamento prático a médicos (clínicos e dermatologistas), enfermeiros, fisioterapeutas e dentistas.

Segundo ele, a doença vem sendo negligenciada ao longo dos anos por causa do preconceito, desconhecimento e até mesmo medo por parte dos profissionais que não tem a instrução adequada durante a formação. “A Hanseníase que antigamente era chamada de Lepra ainda carrega muito preconceito. Muita gente tem medo de atender porque tem medo de pegar a doença, acha que é altamente contagiosa, que vai ficar aleijado, vai apodrecer vivo. Então a gente tem que recuperar o prejuízo, ensinando o indivíduo depois que ele se forma. E a única forma é mostrar que Hanseníase não é aquele mito todo, que pode tocar no paciente sem luva, não precisa máscara. Não tem segredo para fazer o diagnóstico: dois tubinhos com água muito quente e muito fria e uma agulhinha de insulina, que eu chamo de tecnologia de ponta, a gente consegue fechar o diagnóstico de mais de 90% dos casos”, ressalta Barreto, que recomenda exames laboratoriais e radiológicos, somente em casos em que o paciente não responda adequadamente a esses estímulos de apalpação nos punhos, cotovelos, tornozelos, joelhos e manchas.

Programa Modelo

Barreto elogia a iniciativa da Secretaria de Saúde de Palmas e diz que o programa serve de modelo para o Tocantins e Brasil, uma vez que visa capacitar o profissional que trabalha com Saúde da Família para o diagnóstico, controle e tratamento na própria unidade de saúde, mais próximo ao paciente, não limitando apenas a uma unidade de referência que nem sempre tem condições de atendê-lo adequadamente.

“A maior parte dos pacientes diagnosticada em 2016 foi pelos profissionais de saúde do município após o treinamento, fechamos o ano com mais de 700 casos. Ficaram muito anos com 100 a 150 por ano, ou seja, havia uma demanda reprimida muito grande. Tínhamos um número de casos pequenos em relação ao que se tem hoje, só que casos bem avançados e pacientes que tratavam uma, duas, três, quatro vezes e não curavam nunca. Na verdade o paciente tomava o remédio, mas seu pai, sua mãe, a família não sabia que também estava doente e o paciente não curava nunca. Então mais próximo da casa do paciente, tem total atenção, tanto do ponto de vista de  medicação, das intercorrências, acompanhamento das complicações. É mais fácil buscar todos os familiares e ver quem está doente e tratar todos ao mesmo tempo”, destaca o especialista, explicando que é natural esse aumento significativo nos primeiros anos, mas que a partir do diagnóstico e tratamento adequados a tendência é diminuir o número de casos nos próximos anos, com o controle da doença.

A responsável técnica pela Hanseníase no Território Karajá (que abrange cinco unidades de saúde da Região Sul de Palmas), Alana Lima, considera que antes faltava aos profissionais uma avaliação mais aprofundada. “Depois desse treinamento a explosão que teve de casos foi grandiosa, porque nos anos anteriores, a doença estava silenciosa. Porque muitas vezes a gente pensa que hanseníase é só ter uma mancha e na realidade vai além disso. Então necessitava dessa sensibilização dos profissionais de saúde para que fossem encontrados novos casos, para que a doença fosse tratada da forma correta e que o manuseio desses casos fosse da forma correta também”, destaca Alana, lembrando que o tratamento dura de seis a doze meses.

Iniciando o tratamento

A aposentada Isa Pereira Silva, 86 anos, acordou bem cedinho e foi ao CSC Novo Horizonte, no Jardim Aureny IV, em busca do diagnóstico preciso, aproveitando a aula prática do médico Jaison Barreto, que ao examinar a paciente, fazendo o exame dermatoneurológico constatou que a mesma está com a doença e irá iniciar imediatamente o tratamento.

De acordo com o médico que atua na unidade, Fellipe Magela de Araújo, a aposentada é a quarta pessoa na família a ser diagnosticada com a doença. “Ano passado, durante a campanha do Novembro Azul, o genro dela apareceu na unidade com várias queixas e uma delas era perda de sensibilidade e áreas esbranquiçadas e nós o diagnosticamos com hanseníase, e a partir daí fizemos a busca ativa das pessoas que têm contato com o paciente. Foi quando chegamos à esposa dele e ao filho que já estão tratando, e agora à dona Isa que pela perda de sensibilidade e comprometimento neurológico que ela tem, podemos dizer que há muito tempo ela tem a doença, e o lado bom disso, é que com o tratamento a doença vai regredir, dando mais qualidade de vida a essa paciente”, ressalta o médico.

Saiba mais

Hanseníase é uma doença infecciosa que atinge principalmente a pele e os nervos (em especial os da face e extremidades, como braços e mãos; pernas e pés). Ela é causada por uma bactéria, chamada Mycobacterium leprae, descoberta em 1873. Esta bactéria é mais conhecida como Bacilo de Hansen, em homenagem ao seu descobridor, o cientista norueguês Gehard Amauer Hansen.

Existem três tipos de hanseníase: Indeterminada - forma mais benigna. Geralmente, encontra-se apenas uma mancha, de cor mais clara que a pele normal, com diminuição da sensibilidade. Mais comum em crianças; Paucibacilar - forma também benigna e localizada, ocorre em pessoas com alta resistência ao bacilo. Caracteriza-se por poucas manchas ou apenas uma, avermelhada, levemente elevada e com limites bem definidos. Há ausência de sensibilidade, dor, fraqueza e atrofia muscular; Multibacilar - neste caso o bacilo se multiplica muito, levando a um quadro mais grave. Há atrofia muscular, inchaço das pernas e surgimento de nódulos na pele.

Os órgãos internos também são acometidos pela doença.