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Campo

Foto: Iranilde Gonçalves

Proporcionar alternativas de geração de renda, bem como o aprimoramento dos sistemas de produção e a melhoria da qualidade de vida das famílias que vivem no Parque Estadual do Cantão, na faixa de terra formada às margens dos lagos, os chamados torronzeiros, são os objetivos de um amplo trabalho desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins), por meio da Chamada Pública de Agroecologia. A iniciativa beneficia diretamente 20 famílias de torronzeiros, selecionadas pelo órgão com apoio do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).

De acordo com a gerente de Agroecologia do Ruraltins, Geane Rodrigues, por se tratar de uma área protegida, essas famílias já possuem permissão, do Naturatins, para ocupar e produzir na localidade. A gerente informa ainda que a Chamada Pública, que está no segundo ano, entra agora na parte prática com orientações, visitas técnicas, implantação de unidades demonstrativas, realização de cursos e intercâmbios.

“A Chamada de Agroecologia é um contrato de prestação de serviço de assistência técnica, firmado com a Secretaria Especial da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD), com foco tanto na produção de alimentos saudáveis, aliada a preservação do meio ambiente, quanto na inclusão social, cultural e econômica das famílias, visando à geração de renda e o aumento da produtividade. A nossa preocupação é mudar a forma de produção dos agricultores sem uso de agrotóxico, aplicando na adubação produtos naturais a base de extratos de plantas e esterco de animais”, explica a engenheira.

A técnica do escritório local do Ruraltins, de Caseara, Francisca Helena Rosendo Martins, uma das responsáveis pela execução dos trabalhos na região, destaca que os torronzeiros têm a vantagem de possuírem terras férteis, e que de certa forma já produziam utilizando menos produtos químicos, mas sem assistência técnica nenhuma.  Desse modo, as ações da Chamada Pública chegam para resgatar a parte produtiva das famílias e suas tradições, que estavam esquecidas.

"Elas moram aqui há muitos anos e só agora tivemos a oportunidade de vir aqui fazer esse trabalho. E na inserção dos agricultores, na Chamada Pública, também foi possível coloca-los dentro de outros programas sociais e levar conhecimento de várias politicas públicas. Uma ação que vai beneficiar não só as famílias dos torranzeiros do Parque Estadual do Cantão, como também as que vivem na Ilha do Meio, localizada as margens do Rio Araguaia. Fizemos questão de selecionar essas famílias, andando de casa em casa, visitando uma por uma, testemunhando o modo de vida, o que produziam e de que forma, porque entendemos a relevância da ação para a organização produtiva, o acesso a novos mercados e a melhoria da qualidade de vida dos agricultores”, frisou a extensionista.

Expectativa

O casal de agricultores, Jorge Almeida Basílio e Maria Ribeiro Basílio, que cultiva mandioca, arroz, melancia, abóbora, batata doce, amendoim, dentre outras variedades de alimentos, na área do parque conhecida por Torrão Lago dos Crentes, vê com otimismo a chegada da assistência técnica na localidade.

“Sabemos dos esforços dos extensionistas para estarem aqui, já que o trajeto não é dos mais fáceis, sendo necessária a utilização de barcos e longas caminhadas em trilhas.  Nosso desafio é assegurar a produção de alimentos saudáveis para comercialização e aderir as práticas agroecológicas. Como estamos num parque de reserva vamos trabalhar também a apicultura, que não vai prejudicar a natureza em nada. Pretendemos implantar ainda um projeto de irrigação para o cultivo de banana e melancia, incentivados pelo Ruraltins, que está a frente de todo projeto”, ressaltou a agricultora Maria Basilio.

Sebastião Ribeiro Filho, dono de uma propriedade vizinha a do casal, compartilha a mesma opinião.

“Estou muito satisfeito, pois o grande beneficiado é a gente mesmo e a população. Nunca trabalhamos com esse sistema e agora estamos produzindo. Isso é muito importante, porque é um aprendizado a mais. Antes a gente devastava e hoje estamos reflorestando”, destacou, mostrando a variedade de culturas da propriedade, que tem banana, feijão, fava, cupuaçu, melancia, jiló, tomate, mandioca e arroz.

Há mais de 30 anos, morando no Torrão do Lago Rico, o agricultor Levy Braz, de 62 anos, homem de vivencia simples, disse que a chegada do Ruraltins trouxe alivio e esperança de melhorias.

“Acredito que as coisas vão melhorar por aqui, pois com a assistência técnica, na porta da minha casa, pretendo voltar a produzir farinha e plantar hortaliças. Tem muita coisa que a gente já sabe, mas sempre é tempo de aprender um pouco mais, e essa troca de experiência facilita a caminhada”, conclui.

Chamada Pública

A Chamada Pública em Agroecologia, da Secretaria Especial da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (SEAD), visa trabalhar o desenvolvimento social, econômico e ambiental das famílias, bem como consolidar práticas produtivas da agroecologia existentes, focadas na produção saudável de alimentos, livres de agrotóxicos.

A ação contempla oito municípios na região central, sete na região sul e 11 no Bico do Papagaio. Ao todo serão investidos mais de R$ 6,5 milhões, beneficiando 1.250 famílias de agricultores, com prazo de duração de três anos.

Parque Estadual do Cantão

O Parque Estadual do Cantão é uma unidade de conservação, com uma área definida de aproximadamente 90 mil hectares, abrangendo os municípios de Caseara e Pium.

Criado em 1998, encontra-se na região centro-oeste do estado, a uma distância de 250 quilômetros de Palmas, situado ao norte da Ilha do Bananal, apresenta mais de 800 lagos e reúne três biomas: cerrado, floresta amazônica e pantanal.