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Meio Ambiente

Foto: Divulgação Filhotes nasceram na última semana no Jalapão Filhotes nasceram na última semana no Jalapão

Após expedição de coleta de ovos do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) realizada na região do Jalapão, nasceram recentemente em cativeiro três filhotes da espécie, categorizada como Criticamente Ameaçada de extinção. A medida visa à preservação da espécie no Brasil e faz parte de iniciativa de especialistas na espécie que compõem o Grupo Assessor da espécie, no qual faz parte o biólogo e ornitólogo, Marcelo Barbosa, inspetor de Recursos Naturais, lotado na Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).

A ação de conservação é prevista no PAN da espécie (Plano Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção) elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que ainda no mês de junho, com o apoio do Parque Estadual do Jalapão,  Zoo Parque de Itatiba-SP e a Reserva Conservacionista Piracema, o especialista acompanhou e participou de uma expedição ao Jalapão, com o objetivo de realizar coleta de ovos do pato-mergulhão. 

A expedição concentrou esforços de buscas de ninhos ao longo do Rio Novo, na Área de Proteção Ambiental (APA) do Parque Estadual do Jalapão (PEJ) e no interior do Parque, no período de 26 a 30/06. A ação foi acompanhada também pela Inspetora de Recursos Naturais do Naturatins, e também médica veterinária, Grasiela Pacheco, supervisora da Fauna do Instituto. O trabalho contou também com apoio à distância de membros do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro Nacional de Manejo de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio), localizado em Brasília-DF.

De acordo com Marcelo Barbosa, durante a expedição, foram registrados seis indivíduos da espécie, sendo dois casais e um par de indivíduos solteiros. Dois ninhos foram identificados, nos quais um continha sete e outro oito ovos. “Após avaliação da equipe e depois de observar qual a melhor e mais segura forma de coleta dos ovos, um dos ninhos, foi escolhido. Tudo com a finalidade de minimizar ao máximo os danos e impactos à espécie”, explicou o biólogo.

Uma das estratégias, por exemplo, foi aguardar a saída da fêmea do ninho durante horas, para então realizar a coleta, relatou. “A expedição foi considerada de sucesso, já que seguimos um protocolo estabelecido por especialistas, e ainda a coleta foi devidamente autorizada por entidade federal e estadual”, salientou.

Com o objetivo de acompanhar o nascimento na natureza dos filhotes do outro ninho que foi identificado na expedição ao Jalapão, o Inspetor Marcelo Barbosa retornou à região do Jalapão no dia 17 de julho e constatou que dos sete ovos identificados, todos haviam nascido. O biólogo estima que os filhotes tenham nascido no dia anterior à sua chegada ao Rio Novo, quase sincronizados com o nascimento dos filhotes em cativeiro. Há previsão de retorno ao trecho do rio nos próximos meses, para realização de monitoramento e acompanhamento do desenvolvimento dos filhotes nascidos na natureza. 

Embriões

O especialista contou que no total, foram coletados e mantidos em incubadora portátil três ovos férteis e com embriões. Ocasião em que os ovos seguiram de avião cedido pelo Naturatins, até a cidade de Palmas, quando foram embarcados em voo comercial até o estado de São Paulo, onde permaneceram em incubação artificial até o nascimento dos filhotes, ocorrido na madrugada do último dia 15, no laboratório/bercário do Zoo Parque. Hoje, os três filhotes estão em ótimas condições de saúde e se desenvolvem muito bem.

Estes três filhotes farão parte do plantel de matrizes necessário para o estabelecimento do Programa de Cativeiro, juntamente com outros quatro indivíduos, que nasceram em cativeiro de ovos coletados no Jalapão ainda em 2015. O programa tem como principal objetivo reproduzir a espécie em cativeiro, para futura realização de soltura e reintrodução na natureza. “Uma vez que a espécie se encontra em declínio populacional e ações desta magnitude são primordiais para evitar a sua extinção”, frisou.

Cativeiro

O biólogo Marcelo Barbosa explicou ainda que a coleta de ovos e a manutenção de indivíduos da espécie do Jalapão em cativeiro foram por ele avaliadas, como essenciais para resguardar amostras genéticas de indivíduos para as futuras gerações.

Atualmente o pato-mergulhão só é encontrado em três estados brasileiros, sendo em Minas Gerais, na região da Serra da Canastra e em Patrocínio. Também em Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros e no Tocantins, na região do Jalapão, com uma estimativa total de menos de 250 indivíduos sobrevivendo na natureza.

No Jalapão, segundo estudo realizado e publicado pelo biólogo Marcelo Barbosa, são estimados apenas cerca de 14 indivíduos, sendo conhecidos apenas quatro casais, distribuídos ao longo do Rio Novo, no trecho acima da Cachoeira da Velha.

Dentre as ameaças à espécie na região, as principais são a instalação de usinas hidrelétricas e o desenvolvimento de turismo desordenado, como aglomerações humanas nas margens do Rio Novo e a prática de rafting durante o período reprodutivo da espécie, que vai de junho a setembro.