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Meio Ambiente

Foto: José Franco Criado em 1998, o Parque do Cantão concentra rica biodiversidade e confluência dos biomas Cerrado, Amazônia e Pantanal Criado em 1998, o Parque do Cantão concentra rica biodiversidade e confluência dos biomas Cerrado, Amazônia e Pantanal

Considerado o berçário dos peixes e demais seres vivos da ictiofauna da bacia do Rio Araguaia, o Parque Estadual do Cantão (PEC), criado em 1998, possui cerca de 90 mil hectares e está localizado num ecótono, isto é, área de confluência dos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia. Com a proposta de impulsionar a atividade turística na região, o Governo do Tocantins, por meio do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins), e parceria com o Instituto Araguaia, desenvolve atividades de incentivo à visitação, ao ecoturismo e à capacitação da comunidade para o receptivo, bem como a comercialização de produtos aos visitantes.

Localizado entre os municípios de Caseara e Pium, o Parque Cantão conta com cerca de 800 lagos que, associados ao Rio Araguaia, integram uma região que além de belezas naturais é objeto de estudo científico de diversas universidades. Distante cerca de 260 quilômetros da Capital, o parque abriga também o projeto Quelônios do Tocantins, responsável pelo monitoramento e entrega à natureza de filhotes da tartaruga-da-amazônia. Até fevereiro de 2018 deverão ser entregues ao Araguaia cerca de 18 mil quelônios.

Formação da Comunidade

Segundo o supervisor do Parque Estadual do Cantão, Adailton Glória, o PEC é uma Unidade de conservação Integral, sendo a única a receber recursos do programa federal Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA). Para o supervisor, além de colaborar na preservação da biodiversidade, as equipes de profissionais trabalham na divulgação do local como ambiente de pesquisa e de atividades ecoturísticas. “Em 2016 recebemos 860 visitantes entre pesquisadores, estudantes e turistas de diversos estados. Em 2017 foram quase três mil visitantes. Prova de que o Cantão está sendo procurado para pesquisa, para aulas de campo e também para observação da fauna e flora”, afirmou.

Além das atividades educativas e de preservação, o supervisor ressalta as ações que visam atrair a comunidade local para, além de contribuir com a preservação ambiental, garantir a geração de renda por meio do ecoturismo e da comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar. “Um dos nossos objetivos é trazer a comunidade de Caseara para dentro do Cantão. De 2016 para cá o quantitativo de moradores da cidade a nos visitar aumentou. Temos também promovido muitas atividades no entorno do Parque, nos municípios vizinhos, ministrando palestras sobre sustentabilidade, oficinas, trabalhos práticos e de voluntários do Meio Ambiente, visando coibir a pesca predatória”, afirmou.

Parcerias

Atuando como colaboradora durante a criação do Parque e posteriormente na manutenção da unidade de conservação, a bióloga e doutora em Ecologia fundadora do Instituto Araguaia, Silvana Campello, ressalta a parceria com o Naturatins no embasamento científico para que os técnicos possam realizar ações adequadas de manejo e de sustentabilidade. “Sabemos que a região é um dos maiores redutos de recuperação das ariranhas do Brasil. Elas foram praticamente dizimadas por causa da pele nas décadas de 80 e 90 e elas estão voltando em alguns locais, mas porque não em todos os locais onde elas originalmente existiam? No Parque Estadual do Cantão a população está em franca recuperação. A gente acredita que não exista uma população maior do que aqui. Esse tipo de dado que nós vamos fornecendo que vai, não só valorizando o Cantão, como preservando a espécie”. Ainda de acordo com a doutora, para que haja um aumento da atividade turística na região é necessário que haja divulgação. “Eu sempre digo que nós preparamos o salão de festas, mas falta enviar os convites. Atualmente o turista toma café em São Paulo e à tarde está aqui, em plena floresta amazônica. Isso é interessante porque a maioria das pessoas não dispõe de muito tempo pra gastar com deslocamentos e com isso somos favorecidos”, afirmou.

Ecoturismo

Moradora da região, a assistente social Marluzia Dalat Junqueira, que já trabalhou no PEC, nas horas de folga também trabalha como guia turística, levando visitantes aos milhares de pontos de observação de pássaros, de lagos e da fauna local. Segundo a assistente social, muitas pessoas aproveitam o passeio e também pedem para visitar os 11 projetos de assentamento da região onde o Ruraltins desenvolve assistência técnica. O visitante vai em busca de doces, óleos medicinais de pequenos extrativistas e artesanato. “A ideia é que todos saiam ganhando. Meu sonho é um dia trabalhar apenas como guia turística”, afirmou.

Já o condutor de visitantes Antônio Luiz Pereira da Costa ressalta que a procura por passeios no Cantão tem aumentado, principalmente por pesquisadores, estudantes universitários e pessoas da terceira idade. Cobrando R$ 250,00 a diária e contando com uma embarcação com capacidade para até cinco pessoas, ele reforça o crescimento da atividade turística na região, que conta também com belíssimas praias nos meses de junho e julho. “Muita gente vem conhecer o Jalapão e fica sabendo do Cantão e aproveita pra vir conhecer a região, isso é bom porque todo mundo ganha. Teve um casal do Rio de Janeiro que foi ao Jalapão e depois veio pra cá [Cantão]”, afirmou.

Vivências

Mas não é só a riqueza natural que encanta os turistas. O modo de vida simples dos moradores de áreas remotas que habitavam a região antes mesmo da criação do Parque também começa a atrair visitantes. Chamado de “torrãozeiro”, o agricultor familiar, mesmo vivendo em condições consideradas rudimentares para os habitantes dos grandes centros urbanos, deixa lições de preservação e sustentabilidade.

Caso do pequeno agricultor Raimundo Pereira da Silva, que chegou à região em 1971 com a esposa Eurize Vieira Simas. Os dois moram numa pequena propriedade localizada à margem de um dos braços do Araguaia e bem em frente para o início da floresta amazônica, cujo único acesso se dá por cerca de 70 quilômetros percorridos por barco. Vivendo da agricultura de subsistência, o casal cultiva mandioca, feijão, batata, inhame, além de leguminosas e ervas medicinais, tudo sem nenhum tipo de defensivo químico ou natural.

Com um sorriso afável para todos que visitam o local, o agricultor familiar conta que às vezes é surpreendido com animais silvestres de médio e grande porte. “Tive que improvisar uma cerca para afugentar os porcos do mato, senão eles iriam destruir a minha roça de mandioca. Uma vez também fui mordido por uma jiboia e uma onça comeu um dos meus cachorros. Mas isso faz parte”, conta o morador de maneira sorridente e natural.

Saiba Mais 

Por estar localizado em uma área de grandes recursos fluviais, na época de chuvas vários lagos enchem e se conectam formando um único conjunto. Essa característica faz com que diversas espécies de peixes, jacarés e tartarugas se reproduzam em grande escala. Além de peixes, anfíbios e répteis, o parque também registra grande número de aves, chegando a mais de 500 espécies, muitas delas, endêmicas.

Como o objetivo é investir no turismo sustentável, são proibidas atividades predatórias, como caça, pesca, queimadas, desmatamento ou mesmo a coleta de plantas, ovos etc. Entretanto, respeitando a preservação da natureza, o parque permite a proximidade com a natureza, com suas múltiplas trilhas, passeios de balsa e de canoas indígenas, circuitos de arvorismo, observação de fauna e flora, recreação em geral (principalmente na temporada em que se formam praias na região), acampamentos e pesquisas científicas.