A Universidade Federal do Tocantins (UFT) divulgou que o corte de recursos determinado pelo governo Bolsonaro na instituição pode chegar a 42% do orçamento anual da universidade, muito além dos 30% anunciados inicialmente pelo Ministério da Educação (Mec).
O levantamento realizado por técnicos da universidade demonstra que o bloqueio pode ser de até R$ 18 milhões, o que tornaria inviável a manutenção da universidade e continuidade das ações desenvolvidas nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Segundo a reitoria, o custo mensal de manutenção dos sete campus da UFT é de R$ 4 milhões.
A superintendência de comunicação da UFT informou que a instituição só tem recursos para se manter por apenas mais dois meses e que o impacto "se traduz, em termos práticos, a uma redução de nossa capacidade para pagamentos das despesas correntes (contas de água, energia, manutenção e segurança, por exemplo)".
Para o estudante de direito da UFT e diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE), Diego Panhussatti Rodrigues da Luz, o corte de recursos na educação superior é um retrocesso e afeta diretamente a pluralidade da universidade e a permanência do estudante vulnerável na instituição. “A assistência estudantil tem sido um alvo direto do corte de 30%. Tanto as bolsas, quanto o restaurante universitário, certamente sofrerão impacto direto que irá trazer evasão de estudantes pobres, bem como a não inclusão de novos estudantes. Apresentar 30% de corte para a universidade pública é financiar a fome, miséria, violência e a desigualdade social no país”, protesta o estudante.
De acordo com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), entre 190 país o Brasil ocupa a 13ª posição na produção científica global com mais de 250 mil artigos científicos publicados entre os anos de 2011 e 2016.
Toda esta produção está nas universidades, principalmente as públicas – mais de 95% das publicações. Entre as 20 universidades que mais produziram no país todas são públicas, sendo 5 estaduais e 15 federais.
Atualmente o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), fomenta 11 mil projetos de pesquisa e 80 mil pesquisadores bolsistas que podem ser prejudicados pelos cortes do governo Bolsonaro.
Devido aos cortes a própria UFT já anuncia a suspensão de concessão de bolsas de pesquisa e extensão por 90 dias e o contingenciamento de diárias e passagens.
Para o professor e pesquisador Gilson Pôrto, o atual modelo de universidade pública deve sim ser repensado, mas somente após estudos, diálogos e discussão com a sociedade. Para ele a educação superior deve ser vista como projeto de estado e não moeda de troca de governos – referindo-se ao fato da aprovação da reforma da previdência ter sido colocada como condição pelo governo Bolsonaro para a devolução dos recursos das universidades. “O corte, que o governo tem chamado de contingenciamento, afeta toda a estrutura da universidade, desde a permanência dos estudantes, o ensino, até a pós-graduação, que é a produção científica e mantém a máquina funcionando. Nós já estamos em uma região periférica do país, os recursos são escassos, não temos uma fundação de pesquisa consolidada. Anunciar corte na educação é decretar a morte das instituições”, analisa o professor.
Ainda em seu comunicado, a UFT afirma que espera uma reversão no contingenciamento dos recursos, sob risco de asfixiamento e interrupção das atividades, tendo em vista a impossibilidade financeira para honrarmos os compromissos demandados pelas despesas correntes", conclui.
(Atualizada às 12h25)