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Polí­tica

(E/D) Advogado Ataul Guimarães e Maxcilane Fleury

(E/D) Advogado Ataul Guimarães e Maxcilane Fleury Foto: Aline Batista

Foto: Aline Batista (E/D) Advogado Ataul Guimarães e Maxcilane Fleury (E/D) Advogado Ataul Guimarães e Maxcilane Fleury

Ex-presidente do Previpalmas, Max Fleury, em depoimento na CPI. Documentos que autorizaram aplicações suspeitas foram assinados por ele durante sua gestão (Foto: Reprodução/ Youtube)

Em um depoimento longo e pouco produtivo na tarde desta última terça-feira, 21, o ex-presidente do Previpalmas Max Fleury, finalmente compareceu à CPI que investiga supostas irregularidades em aplicações do órgão previdenciário dos servidores públicos de Palmas nos fundos Tercon e Cais Mauá, do total de R$ 50 milhões.

A oitiva começou com Fleury recusando-se a assinar o termo de compromisso padrão a todas as testemunhas da comissão parlamentar de inquérito e seu advogando pedindo ao presidente da CPI, Milton Neris, que não constasse também no termo a expressão “autoincriminar”. O advogado não explicou o motivo do pedido, disse apenas que era “por motivo de defesa”.

Desorientado

Max Fleury estava visivelmente desconfortável e ‘perdido’ em seu depoimento. Chegou a fazer cara de dúvida e incerteza em várias das perguntas dirigidas de início pelo presidente da CPI. Fleury disse que, mesmo a frente do órgão, não tinha conhecimento da lei municipal que reordenou a estrutura administrativa da administração municipal, transferindo a competência do Previpalmas da Secretaria de Planejamento para Finanças em março de 2027, época em que já era presidente do órgão. Também disse que não tinha conhecimento de todas as tratativas do Conselho de Previdência do Previpalmas e que encaminhava ao ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) todas as decisões “que eram pertinente a encaminhar” ao gestor.

Presidente estadual do PSDC há época, Fleury disse que foi indicado pelo partido ao ex-prefeito para assumir a gestão do Previpalmas. Quanto às nomeações dos ex-diretores de investimento – que exigem especificação técnica – o ex-presidente disse que não tinha conhecimento de como os diretores eram nomeados e chegou a dizer que o ex-diretor Fábio Martins foi escolhido porque “ele chegou lá com o currículo” e que atendia às exigências do cargo como “um curso lá que eu não lembro o nome”, declarou.

“O diretor de investimentos foi nomeado sem haver entrevista com prefeito, secretário, nada? É um cara responsável por manusear R$ 600 milhões, no caso. O senhor não tem conhecimento? Foi uma análise de currículo, só?” Questionou Neris, ao que respondeu Fleury, “não tenho conhecimento”.

Aplicações

Quando questionado sobre as aplicações supostamente irregulares do Previpalmas em fundos que fizeram o órgão perder cerca de R$ 50 milhões, Fleury também demonstrou desconhecimento e que não se recordava das datas das aplicações nos fundos Tercon e Cais Mauá.

O ex-presidente não soube nem mesmo responder qual foi o período em que ficou à frente do Previpalmas. “O senhor ficou no Previpalmas de fevereiro de 2017 a, mais ou menos, feveriro de 2018, foi isso?” Perguntou Milton Neris. A resposta de Fleury foi, “acredito que sim”.

Ao ser questionado sobre a assinatura no documento que autorizava a aplicação de R$ 30 milhões no fundo Cais Mauá, mesmo sem estudos de viabilidade técnica do fundo, o ex-gestor se mostrou totalmente perdido e disse ao presidente da CPI, “agora que o senhor está me dizendo é que eu estou entendendo ao que que ele se refere”. “Aí está dizendo que é irrevogável, irretratável, que o senhor conhece a política do fundo. E o senhor assinou na data do dia 15 de fevereiro de 2017”, explicou Neris.

Fleury também disse que não sabia se o Previpalmas tinha condições para ser denominado um investidor qualificado, apesar de ter assinado documentos que diziam que sim e declarou ainda que apenas assinava documentos que chegavam em sua mesa sem ler, chegando a assinar documentos em branco.

O presidente da CPI repassou às mãos de Fleury um documento para que o mesmo o analisasse. Ao pegar o papel em mãos Max Fleury assustou-se, “presidente, não tem nada aqui... tá muito ilegível... é assim mesmo?” e estranhou também os vistos assinados nas páginas subsequentes que, segundo ele, não os pertencia.

Neris explicou que o documento em suas mãos se tratava de uma declaração de condição de investidor qualificado de setembro de 2017 e questionou por que o ex-presidente o tinha assinado se estava em branco. Fleury disse que, provavelmente, “o documento estava no meio do processo”.

Críticas

Após responder, ou deixar de responder, às perguntas de Milton Neris, Max Fleury foi inquirido pelos demais vereadores. A primeira foi Laudecy Coimbra (SD) que disse, “Eu lamento muito que o senhor não tenha tido, na assinatura dos documentos do Previpalmas, o mesmo zelo que teve quando foi assinar esse termo de compromisso”, referindo-se ao termo de compromisso da CPI que, na realidade, Fleury fez questão de não assinar.

“O senhor acha que é razoável um prefeito nomear um presidente de um instituto sem ter o mínimo conhecimento técnico, como vossa senhoria afirmou aqui por várias vezes? Que nome o senhor daria à ação de um prefeito que toma uma atitude dessas?” Perguntou Coimbra. Fleury não respondeu.

Gerson Alves (PSL), por sua vez, perguntou sobre a retirada de aporte financeiro da Caixa Econômica Federal para investir no Cais Mauá. Fleury não fugiu ao padrão e não soube responder. O vereador então lamentou, “Max, infelizmente foi você que assinou tudo, você era o presidente. Independentemente se você foi induzido ou não, mas foi você que assinou e agora não sabemos onde isso vai dar”.

Lúcio Campelo (PR), fez as críticas mais duas. “Foi muito fácil ser presidente do Previpalmas, não sabia de nada”, disse, e completou, “se eu for prefeito, o senhor jamais será prefeito do Previpalmas”.

A oitiva durou cerca de 4 horas. Max Fleury não respondeu aos assuntos técnicos que seriam mais esclarecedores e demonstrou despreparo para o cargo que ocupou. Ao final o presidente da CPI, Milton Neris, lembrou que todas as testemunhas ouvidas na CPI até o momento, incluindo o ex-prefeito Carlos Amastha, disseram que não autorizaram os investimentos temerosos. Cabe à comissão descobrir os verdadeiros responsáveis pelo rombo.