Conexão Tocantins - O Brasil que se encontra aqui é visto pelo mundo
Opinião

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Passei toda a minha infância sendo enganado por Batman e outros super-heróis (exceto o Chapolim colorado, por razões muito peculiares). Quando descubro que o Coringa se parece comigo, isso me assusta um pouco, mas ajuda a entender meus conflitos internos e a me colocar no lugar do outro.

Sim, estou falando daquele personagem que tirava a paciência do Batman em Gotham City. Por muito tempo odiado pelas maldades cometidas nos filmes e seriados, acabo de descobrir que o pobre palhaço é um pedaço de mim, de você, de nós todos, e o pior, ele é retrato de uma sociedade que sofre, clama e padece das mais graves doenças, as da mente, as internas, as que não ferem o corpo, mas destroem a alma.

Nos tornamos Coringas, cada vez que o impostômetro atinge a marca de 1 trilhão antes do meio do ano. Nos tornamos Coringas a cada vez que a Petrobrás anuncia um reajuste, a cada fila de espera nos hospitais e postos de saúde, a cada centavo tirado da educação.

O Coringa é o anti-herói que carrega consigo os problemas da sociedade moderna, das parcelas atrasadas com juros altos, da mãe que não teve como cuidar dos filhos, do pai que não existe, do pobre explorado por sua rotina desumana de trabalho. É triste afirmar, o Coringa somos nós.

Sim, Coringa pode ser um verbo, talvez o mais triste de todos. Coringamos a cada concurso público frustrado; Coringamos no parcelamento em 12 vezes; Coringamos na casa própria em 30 anos; Coringamos na esmola entregue ao cadeirante da porta do banco; E o pior de todos os Coringamentos, é o que fazemos a cada dois anos, apertando a tecla confirma.

Não é questão de defender o Coringa só por causa de um filme que o torna mais humano, é questão de entender a fundo que tipo de interesses o Batman realmente defendeu esse tempo todo. Nossas guerras internas, nossos sofrimentos diários não podem ser defendidos por super-heróis, pois somos bem Coringas. Sim, em nossos cigarros, nossos energéticos, nossas cargas horárias, cartões de crédito e falta de exercício.

Somos Coringas das redes sociais, dos desencontros, do acreditar que a vida do outro é sempre melhor. Coringamos no virtual, no real, no abstrato, nas verdades e mentiras, sim, precisamos de remédios para dormir e outros para deixar acordado. O sistema nos transformou em Coringas, em zumbis da frenética “desvivência” humana.

Eu Coringo, Tu Coringas, Ele Coringa. Evidentemente que a grande maioria de nós, não cometeremos assassinatos no metrô, gente ao vivo na TV, nem tampouco, mataremos nossas próprias mães. A principal essência que nos aproxima do Coringa é a sua incapacidade de conviver com duas coisas que tanto lhe assusta: O Sistema e Ele mesmo.

*Idglan Bob Maia é Jornalista