Sejamos francos. Os políticos brasileiros mostram falta de responsabilidade sem precedentes em relação à pandemia da Covid-19. Enquanto se discute de onde tirar recursos para o novo auxílio emergencial recém aprovado, o Congresso Nacional se prepara para abocanhar a maior parte do orçamento destinado a esta finalidade.
Deputados e senadores têm direito a certa quantia destinada a emendas. As individuais, por exemplo, chegam a R$ 9,7 bilhões por ano. Já para as emendas de bancada, são R$ 6,3 bilhões. E agora estão pleiteando a vultosa quantia de mais de R$ 18 bilhões para emendas de comissão. Se aprovado, isso totaliza o valor extraordinário de R$ 34 bilhões. Estamos falando de dinheiro público. Isso é uma grande vergonha.
Tudo isso ocorre enquanto eles também tentam passar a chamada ‘PEC da impunidade’, cujo objetivo é livrar políticos em atos suspeitos das garras da Justiça. Trata-se de um projeto já derrotado no plenário, mas que corre o risco de voltar. Esta foi a primeira derrota do novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Como brasileiro, me decepciono. Afinal, esse movimento dos políticos acontece quando todos deveriam estar voltados para atender à população. Pelo contrário, os congressistas veem a situação como perfeita para defender seu interesse próprio. E em um momento em que só se fala de saúde (e com razão), a emenda destinada para essa área é de apenas R$ 1,6 bilhão. É um completo absurdo.
A saúde brasileira sofre severas lesões há anos. Agora, a queda é maior e mais rápida. Um atrás do outro os estados entram em colapso, sem leitos de UTI para atender à população, sem vacina suficiente – inclusive com alguns políticos do interior furando filas e destinando os imunizantes para quem não é prioritário.
É uma vergonha que a população seja vítima das irresponsabilidades de congressistas. E, em especial, num momento como este. Esperamos consciência e um mínimo de compaixão com vidas perdidas. Será pedir muito?
*Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP)