Conhecida por ser um grande pólo do agronegócio, a fronteira agrícola Matopiba, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, também reserva riquezas naturais características do bioma Cerrado, que sofre reflexos negativos do uso extensivo da terra. Dados levantados pela Conservação Internacional (CI-Brasil) apontam que 41,35% das áreas remanescentes do Cerrado estão no Matopiba, que abriga 64,17% da vegetação nativa.
Por enxergar essa necessidade urgente de conservação, o projeto Áreas Protegidas Municipais no Matopiba chega ao fim com um legado marcado por desafios de atuação em campo no contexto pandêmico, além do período das eleições municipais de 2020. A equipe multidisciplinar formada por especialistas na área de meio ambiente realizou estudos relevantes e alcançou resultados como a criação do Parque Natural Municipal Engenheiro Geraldo da Rocha, localizado no município de Barreiras (Bahia). O espaço é considerado uma unidade de conservação integral e tem 44,54 hectares. O novo parque está localizado em área urbana, entre os bairros Barreirinhas e o Centro Histórico.
Este parque é o primeiro parque criado no município por meio do Decreto Municipal nº 264, publicado em 13 de novembro de 2020. Essa iniciativa conserva Matas Ciliares, áreas de Cerrado típico, Veredas e Brejos que abrigam 36 espécies de flora e 10 espécies de fauna ameaçadas de extinção no local e no seu entorno.
“Inicialmente tínhamos a expectativa de criar mais áreas entre Palmas e Barreiras. Mas com a pandemia e as eleições tivemos que ajustar essa expectativa. Assim conseguimos articular unidades de conservação junto aos municípios de Palmas e de Barreiras, o Parque Natural Municipal Engenheiro Geraldo da Rocha, que já se concretizou. No âmbito do projeto também articulamos a criação do conselho gestor da Área de Proteção Ambiental do Rio Preto e encaminhamos a criação do Monumento Natural da Cachoeira do Redondo, ambos no oeste da Bahia”, destaca o coordenador geral do projeto, Michael Becker.
Na avaliação de Becker, um dos grandes desafios na criação de áreas protegidas são as instâncias necessárias do poder público. “Na implementação de unidades de conservação sempre dependemos em algum grau do poder público. Às vezes faltaram dados suficientes, em outros momentos dependemos de conselhos municipais ou audiências para sacramentar o processo e estas só podem ser articuladas pelos municípios”.
Os estudos ambientais realizados pela equipe na região são um grande legado do projeto, que teve a duração de um ano. “Todos os dados serão disponibilizados aos municípios e às populações para usos futuros. São dados públicos que podem ajudar nas ações de educação ambiental até na promoção de ecoturismo”, aponta o coordenador do projeto. Este material revela, por exemplo, a variedade de espécies de fauna e flora encontradas em trechos específicos do Matopiba, como arara-vermelha, coral-falsa, papagaio-galego, tracajá, pequizeiro e ipê-roxo.