A mudança de discurso do presidente Jair Bolsonaro quanto à política ambiental brasileira, na recente Cúpula do Clima promovida por seu colega norte-americano, Joe Biden, foi positiva para o Brasil. Ao anunciar mais verbas para fiscalização, antecipação em dez anos, para 2050, da meta de neutralidade na emissão de dióxido de carbono e erradicação até 2030 do desmatamento ilegal, sinalizou uma nova atitude do País num tema crucial para a humanidade.
Contudo, o ceticismo referente à postura brasileira somente será reduzido se ações concretas confirmarem o teor do pronunciamento de Bolsonaro. Temos boa oportunidade de apresentar uma nova política ambiental até a 26ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima (COP 26), em novembro deste ano, em Glasgow, na Escócia. Cabe-nos demonstrar, na prática, o comprometimento com o combate às mudanças climáticas e, principalmente, a proteção das florestas, revertendo o aumento do desmatamento e queimadas na Amazônia verificado nos últimos dois anos.
O Brasil precisa inserir-se novamente como protagonista na agenda global do meio ambiente. Não pode mais ser excluído de eventos importantes, como ocorreu, em dezembro último, na reunião Climate Ambition Summit, preparatória à COP 26, pois está à frente de muitas nações desenvolvidas na redução da emissão de carbono e é estratégico nessa questão, considerando suas hidrelétricas, biocombustíveis e as energias eólica e solar. Liderou o debate do clima, apresentando o renovável etanol na ECO-92 e, na Rio + 20, levantou bandeiras contra o aquecimento global, ao contrário de países hipócritas, que nunca mexeram uma palha nesse assunto, praticando a diplomacia do faz de conta.
O fato é que o Brasil precisa de uma nova atitude referente à Região Amazônica e medidas concretas para conter o desmatamento ilegal, sem o que ficará isolado e perderá recursos e negócios. Não me refiro apenas a eventuais sanções oficiais de governos, mas também às decisões de investimentos produtivos. Para os detentores do dinheiro, os princípios de ESG (do inglês Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança) são cada vez mais decisivos.
Além do discurso, precisamos de ações congruentes com a importância do País para a sustentabilidade global, considerando suas dimensões, clima, biodiversidade, reservas hídricas e potencial como produtor de alimentos e energia limpa. A política ambiental também precisa fazer justiça à postura avançada da agropecuária, que conservar imensa área de matas nativas e mananciais fluviais.
Sessenta e um por cento da cobertura vegetal nativa do Brasil estão preservados, sendo que 11% do total encontram-se dentro das 5,07 milhões de propriedades rurais do País. Apenas 9% do nosso território são ocupados por lavouras e 38,7% correspondem à produção agrícola, pastagens e florestas. Na nossa matriz energética, 42,9%, contra 13,8% na média mundial, provêm de fontes renováveis, sendo 17% referentes ao setor sucroenergético.
Temos muito o que mostrar e dispomos de kow how sobre como trabalhar a terra de modo sustentável. Estamos dispostos a compartilhar esse conhecimento com outros povos. Porém, não é prudente - e nem justo com os agropecuaristas e trabalhadores do campo - esconder tudo isso sob a fuligem das queimadas amazônicas.
Seria um grande avanço do Brasil, na agenda global da década que se inicia, adotar uma postura transparente, corajosa e sinérgica com os esforços das nações civilizadas, encarando de frente a questão amazônica, que não é nova, demonstrando o que sabemos fazer em termos de preservação e que estamos dispostos a enfrentar o problema. Com certeza, os produtores rurais estarão ao lado do governo nessa causa. Agindo assim, inauguraríamos uma etapa construtiva nas relações internacionais, atrairíamos mais investimentos e, sem dúvida, preservaríamos nossa floresta e, claro, nossa soberania.
*João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).