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Opinião

Foto: Divulgação

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Por mais que o balão emotivo tente elevar às nuvens a taxa de polarização que a política costuma estabelecer, principalmente em momentos de intensa divisão dos grupos que seguram o cabo de guerra, o bom senso costuma se fazer presente. É o que mostra recente pesquisa PoderData, que mostra mais da metade dos brasileiros aprovando a nota de recuo de Bolsonaro das ameaças ao ministro Alexandre de Moraes. Entre os apoiadores do presidente, esse índice de aprovação chega a 65%.

Como já se sabe, o presidente é rejeitado e apoiado por 1/3 do eleitorado. A lógica recomendaria que a rejeição à carta de recuo fosse a mesma do índice de apoiadores. Mas os que a viram com bons olhos emprestam grande apoio, 55%, indicando o posicionamento claro de que o eleitor, mesmo o embevecido ou radical, consegue separar as partes do todo da política. Essa é a razão pela qual não se deve inserir o tabuleiro eleitoral de 2022 na seção de cartas já definidas. Nada está fechado, nem mesmo a possibilidade de Bolsonaro vir a ser candidato à reeleição ou Lula, como opositor, levar a melhor.

Tenho trabalhado, nos últimos tempos, com fatores da fisiologia humana, particularmente os apontamentos pavlovianos sobre os reflexos condicionados, chegando à conclusão de que o eleitor é mesmo uma caixa de pandora. Consideremos, por exemplo, que Bolsonaro continue a ser o debochado por excelência, com seu linguajar tosco sobre a política e protagonistas do Poder Judiciário. Pode ser que filtrar a adjetivação, elevando seus níveis, não seja o toque de bom senso que as massas desejem. Prefiro escolher na escala dos fatores definidores o desempenho da economia, com sua capacidade de restaurar o poder de compra dos consumidores. A recíproca é verdadeira. A falta de dinheiro no bolso poderá ser o leit motiv da derrocada.

Prefiro acreditar, por exemplo, que os tipos equilibrados, com razoável bagagem de bom senso, predominem sobre os coléricos ou mesmo os melancólicos, que formam as massas dolentes e submissas aos ditadores. Quem diria, por exemplo, que após 7 de setembro, a moldura de sustentação do governo mudasse muito. Ficou praticamente a mesma – 62% rejeitando e 29% aprovando o governo, de acordo com o PoderData. Ou seja, faz um bom tempo que a embalagem envolvendo o governo Bolsonaro tem a mesma cor. Pode ser que as cores mudem com a intensificação do discurso polarizado.

Acredito também nos balões inflados por segmentos das classes médias A, B e C. Parcela ponderável do pensamento nacional advém dos inputs expressos por esses conjuntos – pequenos e médios setores produtivos, profissionais liberais, funcionários públicos, professores e setores midiáticos – que acompanham a política e as ondas dos meios de comunicação, jogando suas pedras no meio do lago e formando marolas sentidas pelos contingentes das margens. As classes médias influenciam para baixo e para cima.

Por último, sempre coloco na sacola das análises o que se costuma designar como espírito do tempo. Que é amálgama de componentes de situações e fatores determinantes de equações. Se quiserem, podem substituir o termo por Produto Nacional Bruto da Felicidade: dinheiro no bolso, transporte fácil e alimento barato, harmonia social, diminuição dos índices de violência, climas de cordialidade e interação, satisfação com as promessas dos políticos, valorização da família, educação de qualidade, entre outros aspectos. Sanghri-lá? Não dá para acreditar no paraíso renascendo, mas é possível reconstruir alguns índices de qualidade de vida.

2022 poderá ser um ano surpreendente. Para coisas boas ou piores do rol de mazelas que conhecemos. E sempre lembrando que o Senhor Imponderável acaba sempre nos fazendo uma visita de surpresa.

Gaudêncio Torquato é jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político Twitter@gaudtorquato.