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Opinião

Foto: Raiza Milhomem

Foto: Raiza Milhomem

Dados atualizados da Organização Mundial Our World in Data mostram que, até o dia 30 de setembro, já foram administradas, mundialmente, 6,27 bilhões de doses de vacinas contra a covid-19, o que representa 45,3% da população que recebeu a primeira dose e 33,9% da população totalmente vacinada com as duas doses. Os dados são expressivos e mostra um esforço coletivo de todas as nações para conter a disseminação do Sars-Cov-2. Nunca na história se vacinou tanta gente em tão pouco tempo contra uma doença, como atualmente. Estamos vivendo um período sem precedentes.

Mesmo assim, observa-se em todos os países que muitas pessoas relutam em se imunizarem. Meu sogro, um senhor de 65 anos, é uma delas. Ao ser questionado sobre a sua recusa em tomar a vacina, respondeu que tem medo do que ela possa lhe causar. Mas afinal, as vacinas são seguras? De onde vem esse medo?

As vacinas foram uma grande evolução da ciência que trouxe muitos benefícios à população, o maior deles é, sem dúvida, a proteção, individual e coletiva, contra inúmeras doenças infecciosas. As vacinas até agora disponíveis eram, principalmente as que possuem o agente infeccioso (vírus ou bactérias) morto ou inativado, o que fazia o organismo humano, ao receber a vacina, desenvolver proteção contra estes agentes através da ativação de anticorpos.

Com a pandemia da covid-19, uma nova geração de vacinas tornou-se disponível: as vacinas de RNA. Nesses imunizantes que estão sendo aplicados na população, como a vacina da Pfizer/BioNTech, ao invés de se aplicar o agente infeccioso, os indivíduos recebem uma molécula que contém a "receita" para produzir uma proteína importante do vírus, sem a qual, ele não sobrevive no organismo humano. Assim, se você for infectado, o vírus não sobreviverá ou causará menos efeitos pois os anticorpos que foram produzidos em razão da vacina que você tomou irão lhe proteger, parcial ou totalmente.

Outra vacina produzida por engenharia genética, a vacina vetorizada, é a que utiliza um vetor (adenovírus modificado) contendo uma parte do material genético do Sars-Cov-2 para produzir uma proteína importante do vírus. As vacinas das fabricantes AstraZeneca e Janssen utilizam esta metodologia. O vetor, que podemos chamar de meio de transporte, leva esse pedaço do material genético do vírus para dentro do corpo e é um outro vírus que foi geneticamente modificado para não causar nenhum mal ao organismo. Após a vacinação, esse adenovírus começa a produzir a proteína do coronavírus que então vai estimular o nosso organismo a produzir defesa contra ele nos deixando mais protegidos, no caso de sermos infectados.

Quando expliquei isso ao meu sogro, ele entendeu a diferença entre as vacinas, mas ainda me perguntou: e qual é a chance de eu tomar a vacina e ela modificar meu DNA e me causar algum mal, como por exemplo fazendo o desenvolvimento de alguma doença ou mesmo me tornando um "X-men" como a gente vê nos filmes? Minha resposta foi: chance zero, isso não acontece, e sabe por quê? Porque o RNA ou o DNA das vacinas não têm a capacidade de se juntar com o DNA do organismo, pois estão em locais diferentes e não se encontram, o DNA está no núcleo da célula e o material das vacinas sequer chega ao núcleo, ficando apenas na periferia (citoplasma). Seria o mesmo que querer misturar água com óleo, ainda mais estando em copos separados!

Após esses esclarecimentos, você leitor deve ter ficado mais tranquilo em relação as vacinas contra a covid-19, assim como meu sogro ficou, mas ainda está se questionando: se as vacinas são tão eficazes por que estão aplicando uma terceira dose?

Vários estudos realizados por pesquisadores do mundo todo têm mostrado que uma terceira dose da vacina, diferentemente daquela administrada nas doses anteriores aumenta em cinco a seis vezes a proteção dada por duas doses e previne casos graves e hospitalizações. Isto porque, com o passar do tempo, a resposta imune cai, e a terceira dose estimularia novamente a produção de anticorpos em níveis semelhantes aos adquiridos após a vacinação original, ou seja, a chance de combater o vírus em nosso corpo fica maior.

E meu sogro, enfim convencido, foi na semana passada à Unidade de Saúde receber a primeira dose da vacina.

*Liya Regina Mikami é doutora em Genética pela Universidade Federal do Paraná e University of Nebraska; mestre em Ciências Biológicas (Biologia Celular) pela Universidade Estadual de Maringá; graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá. Realizou estágio pós-doutoral em Genética Molecular Humana no Centre de Recherches du Service de Santé des Armées (CRSSA), em Grenoble/França. Pós- doutorado em Ciências da Saúde pela PUC/PR, em andamento. Desenvolve projeto de pesquisa na área de Genética Humana em Investigação Clínica e Experimental de Doenças Humanas (Fibrose Cística, Autismo e Fissuras Labiopalatais). Tem experiência na área de Biologia Geral, com ênfase em Genética, atuando principalmente nos seguintes temas: genética molecular humana, fissuras labiopalatais, mutações, autismo, tecnologia do DNA recombinante. Atualmente é professora da Faculdade Evangélica Mackenzie Paraná.