A falta de titulações pelo Governo Federal é o dado que salta à vista no balanço anual do Observatório de Terras Quilombolas da Comissão Pró-Índio de São Paulo. Desde 2004, a organização monitora os avanços na política de regularização de terras quilombolas por parte do Incra, órgão responsável por esse processo.
O governo de Jair Bolsonaro caminha para encerrar o segundo ano consecutivo sem titular nenhuma terra quilombola. Se isso se confirmar, Bolsonaro será o primeiro presidente brasileiro sem regularizar sequer uma Terra Quilombola por dois anos consecutivos a contar desde a primeira titulação em 1995.
“A promoção do direito dos quilombolas à propriedade de seus territórios já enfrentava enormes desafios nos governos anteriores. Porém, o cenário se agravou muito no Governo Bolsonaro. É a primeira vez que temos um presidente que reiteradamente questiona os direitos das comunidades quilombolas a despeito do que garante a Constituição Federal” avalia a coordenadora adjunta da Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), Carolina Bellinger.
Piauí e Tocantins titularam 5 Terras Quilombolas em 2021
Com a inércia das titulações a nível federal, apenas dois Estados oficializaram títulos a terras quilombolas em 2021. O Piauí foi o principal deles, com quatro titulações: as terras Marinheiro, Vaquejador, Queimada Grande e Riacho Fundo, cujos títulos beneficiaram 419 famílias quilombolas.
A outra titulação aconteceu no Tocantins, onde as 174 famílias quilombolas de Barra do Aroeira foram beneficiadas com a titulação parcial de seu território. Foram regularizados 912 hectares por meio de títulos concedidos pelo Instituto de Terras do Tocantins (Itertins) – é a primeira vez que o governo de Tocantins titula uma Terra Quilombola.
Com as titulações ocorridas até 18 de novembro de 2021, somam 192 o número de Terras Quilombolas regularizadas no Brasil. Desse total, 147 foram tituladas por governos estaduais, 40 pelo governo federal, 4 por governos estaduais em conjunto com o federal e apenas uma foi regularizada por um governo municipal.
Terras quilombolas podem ser tituladas pelo governo federal, governos estaduais e municipais. Os títulos ainda podem ser emitidos de forma combinada com Estados e municípios.Mais de 1.700 Terras Quilombolas aguardam regularização
As 192 terras já tituladas representam um universo ínfimo se comparadas aos 1.779 procedimentos que tramitam no Incra. A lentidão do processo fica notória ao observar que, deste total, apenas 16% das Terras Quilombolas tiveram seu Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado. Esse documento, uma das etapas previstas no processo de titulação de terras, identifica os limites e a extensão do território quilombola.
Sem a titulação, que oficializa a posse coletiva de suas terras, e sem o RTID para ao menos definir perante o Estado os limites dos territórios, uma grande quantidade de mulheres e homens quilombolas ficam ainda mais vulneráveis a pressões e violências diversas.
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