No ofegante e estonteante trafegar da nossa composição social, na celeridade de seus atos e, sobretudo, na necessidade de adequar-se ao tecido social flutuante e volátil como se apresenta, membros desta mesma sociedade perecem pelo caminho, desfiando suas estruturas no cambaleante caminhar, tais como soldados abatidos em uma guerra que eles não deram causa.
A guerra que se trava, à revelia da guerra de trincheira, mas com a mesma similitude, transcende, em seu primeiro momento, a constituição da carne propriamente dita, e ganha forma mais internalizada, onde, máscara confeccionada sob medida, encobre face tristonha que enxuga suas lágrimas em um disfarçado baile de máscaras, onde o parceiro de dança nada mais é senão seu próprio eu em desatino.
A nós, enquanto seres sociáveis e em processo de evolução, conforme preceitua a teoria de Darwin, trilhamos nossos caminhos inertes ao que passa ao nosso lado, afinal, nessa dança somos apenas um parceiro sazonal desse pomposo baile de máscaras, que gira ao doce e envolvente som da sinfonia dos rompantes sociais. Mas, eis que ouso em afirmar, sem, porém, temer a reprimenda dos bons samaritanos, que somos incapazes de atentamos para as trilhas de pães que são deixadas, pois debaixo daquela máscara sorridente há uma montanha de dor, sofrimento e vazio.
Somos egoístas, uma vez que a dor alheia rompe o falseado sorrido mascarado, deixando, tal qual o conto de João e Maria, uma vertiginosa estrada norteadora, bem assim, placas sinalizadoras de pedido de ajuda... E nós, como dito suso, por inércia do nosso senso perceptivo, egoísmo e/ou cegueira para os problemas alheias, somos incapazes de nos compadecermos com a dor alheia, nos tornamos de certa forma também algozes daqueles que ali se apresentam em dor.
O suicídio não vem do nada, de um belo dia de verão ensolarado, ele é, em sua essência primitiva, a resposta imediata para suplantar uma dor advinda do vazio existencial (depressão). Mas como entender e conseguir ouvir o grito silencioso, que em contrapasso ao conceito da física, apresenta-se ruidoso para aquele que se dispõe a ouvir?
Seja mais terno com aqueles que estão em um momento destoante da normalidade: ouça, ajude, procure entender, seja um dispositivo propulsor e não apenas um espectador que de longe ver o baile e as lágrimas que escorrem nas máscaras sorridentes, mas que aquela dor em nada te diz respeito. Seja a pessoa que diz: Essa dor não é só sua, e por que deveria?
Nesse sentido e para finalizar, deixo trecho da música Everybody Hurts (R.E.M): “Se você está por conta própria nesta vida, os dias e noites são longos. Quando você sentir [que] teve demais desta vida para persistir... Bem, todo mundo sofre. Às vezes, todo mundo chora. E todo mundo sofre. Às vezes... Mas todo mundo sofre às vezes... Então aguente, aguente, aguente, aguente, aguente, aguente, aguente, aguente... Todo mundo sofre... Você não está sozinho...”