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Educação

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) revelou que 83,5% dos jovens que buscam uma vaga de estágio ou aprendizagem são reprovados nos processos seletivos por apresentarem conhecimento gramatical insuficiente. A pesquisa levou em consideração o desempenho de cerca de 60 mil estudantes que tentavam entrar no mercado de trabalho. Desses, apenas 16,5%, cerca de 9 mil, passaram adiante. Os outros quase 50 mil foram desqualificados.

A reprovação em processos seletivos vai ao encontro do número de reprovações no âmbito escolar. Em comparação ao ano de 2019 (antes da pandemia), houve um aumento de 67% no índice de reprovações escolares. A professora universitária e especialista em linguagem oral e escrita, Sibéria Sales Queiroz, acredita que pelo menos três fenômenos podem ter colaborado para esse índice: a desvalorização da língua portuguesa, a influência do mau uso da tecnologia ao propor um constante afastamento da norma gramatical e uma defasagem da metodologia de ensino aplicada pelos professores em sala de aula.

Os problemas na aprendizagem da língua portuguesa começam na educação básica e chegam às universidades. “No ensino básico, em cenário de pandemia, muitos alunos deixaram de ter orientação adequada dos professores para realizarem suas produções escritas. O processo de aquisição da escrita e da leitura, alfabetização e letramento, ficou prejudicado. Não podemos descartar que algumas dificuldades possam acompanhar os alunos até a vida adulta, caso não sejam tratadas de imediato” destacou.

Por outro lado, o processo de desprestígio da língua portuguesa tem sido agravado, segundo a especialista. “Quando o próprio sistema de ensino promove uma desvalorização do domínio da modalidade padrão da língua portuguesa à medida em que os cursos superiores delegam a disciplina de língua portuguesa para a modalidade online, como disciplina de menor importância na formação do futuro profissional, sem garantir a oportunidade real de orientação, por parte de professores, das produções dos alunos. Isso pode, também, contribuir para que o aluno passe a acreditar que a disciplina não é tão importante em relação a outras, com isso, o estudante não percebe que o seu insucesso acadêmico é proveniente da dificuldade de leitura e interpretação de textos e da dificuldade na exposição lógica de suas ideias em suas produções orais e escritas”, explicou a professora Sibéria.

A rapidez com que é preciso se comunicar atualmente, seja nas redes sociais com número de caracteres limitados ou por aplicativos de mensagens, também é apontada pela especialista como um fator que pode influenciar negativamente a relação dos jovens com a língua portuguesa padrão. "Mesmo que o mercado de trabalho tenha mudado e hoje o profissional precise ser multitarefa e ligado à tecnologia, o domínio da norma padrão da língua portuguesa continua sendo um dos fatores de seleção mais importantes. A língua portuguesa é um cartão de visitas. Somos avaliados pela maneira como nos comunicamos por escrito e oralmente”, alertou a especialista.

O futuro profissional precisará dominar a língua portuguesa em diversos contextos e deverá adequar-se às situações nas quais a língua portuguesa padrão é essencial. Ter o domínio da língua portuguesa pode projetar uma pessoa nas mais diversas áreas profissionais, mas a falta dele pode “empatar” uma carreira. Por isso, vale a pena investir na leitura de qualquer material de interesse, desde que escrito dentro das normas da língua, assistir a vídeos do Youtube, por exemplo, de pessoas que se comunicam bem e, claro, buscar a ajuda de um professor. Afinal, sempre dá para melhorar, o que não dá é para ignorar uma dificuldade, afirmou a especialista.