A Democracia é, como se sabe, o governo do povo. Dito em outras palavras, é a construção de políticas públicas de acordo com os desígnios da maioria, respeitada a dignidade das minorias, sempre com a finalidade de concretização dos Direitos Humanos. Esses não constituem a panaceia aparelhada por certos grupos políticos que tanto desgastam seu próprio conceito. Na verdade, eles podem ser conceituados como a estruturação de iguais oportunidades, a partir das quais, mediante esforço individual, cada pessoa tem a livre oportunidade de desenvolver suas capacidades.
Importantíssimo, portanto, para o bom funcionamento democrático, que cada recado depositado nas urnas, na forma de votos, seja devidamente decifrado. O bom andamento democrático deita seus fundamentos, portanto, na decodificação da função comunicativa inerente a cada escolha eleitoral. Essa, assim, só poderá ser bem entendida por aqueles setores que se mantiverem relacionados à realidade popular, e nunca por aqueles que, descolados do contexto fático nacional, tentam impor agendas e ideologias importadas e pouco eficientes (ainda que, para esses grupos sociais, elas sejam altamente sedutoras).
O povo não suporta a arrogância! O povo envia recados pelas urnas: cabe aos atores políticos de sucesso decifrá-los. Culpar o cidadão pelo “voto errado” é uma maneira confortável de ampliar a desconexão entre aqueles setores que se arvoram de iluminados e ilustrados e os setores realmente populares. Vale lembrar que a vida cotidiana acontece longe das redes sociais, dominadas pelo “bom-mocismo de conveniências”, pelos “tribunais inquisitoriais da opinião pública” e pelo descolamento com a realidade.
O clamor proveniente das urnas foi claro: Nada sobre nós, sem nós, disseram os eleitores! Os cidadãos demandam ser atores ativos na construção de estruturas socialmente livres, inclusivas e justas, e não meros espectadores, passivos e tutelados por poucos iluminados, divorciados do contexto popular real. O recado foi nítido: não ao artificialismo de narrativas impostas e contrárias aos afetos populares.
Todo liame com a população deve estar firmemente vinculado ao mundo real e às dificuldades cotidianas. Os valores da Educação, Trabalho, Liberdade, Inclusão e Justiça devem ser concretizados à luz da comunicação democrática saída das urnas. Vale dizer que se o mundo político estiver, efetivamente, buscando a satisfação das demandas populares, ele deverá ter em mente que as reais políticas públicas inclusivas são originadas e oriundas da iniciativa privada.
Só com a escuta atenta de cada necessidade individual será possível a estruturação do desenvolvimento nacional livre, inclusivo e justo!
*André Naves é defensor público federal, especialista em Direitos Humanos e Sociais. Escritor, professor e palestrante.