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Opinião

Foto: Divulgação

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Pesquisa recente feita a partir de dados de autorizações de internações hospitalares (AIHs) do Ministério da Saúde revelou dados alarmantes sobre as vítimas da violência armada, que deixou um rastro de amputações por todo o país. Amputados fisicamente, em consequência de armas e explosivos, e traumatizados emocionalmente, essas pessoas vem enfrentando graves problemas causados pela presença precária do Estado, potencializados pela desigualdade social e pela pobreza. A ausência estatal se mostra como a raiz de diversas estruturas sociais excludentes, que se tornam as principais barreiras a serem superadas e equalizadas pelo trabalho social.

Sempre que discutimos a questão das pessoas com deficiência, é fundamental compreendermos que a deficiência não está nelas. A deficiência reside no ambiente, na sociedade. Quando essas pessoas interagem com barreiras sociais, são impossibilitadas de experimentar a verdadeira inclusão social.

É interessante observar também que, atualmente, as pessoas mais afetadas pelos eventos extremos do clima, no Brasil e em todo o mundo, são aquelas historicamente excluídas ou precariamente incluídas socialmente. Isso nos leva a refletir que a sustentabilidade ambiental não pode ser uma justificativa para a reprodução de estruturas sociais excludentes. A superação da chamada "emergência climática" deve priorizar os indivíduos e a construção de uma sociedade estruturalmente inclusiva e justa.

Para alcançar essa inclusão, é essencial privilegiar a educação, o trabalho e o empreendedorismo. Ao incluir pessoas diversas e plurais, estimulamos a criatividade e as inovações sociais. Afinal, o que é a bioeconomia se não aquela que coloca a vida plena em seu cerne? Devemos caminhar em direção a uma sociedade que valorize a verdadeira igualdade de oportunidades e reconheça a diversidade como uma força para o progresso.

Combater a desigualdade social e superar as estruturas sociais excludentes são desafios fundamentais para a construção de um futuro mais justo e inclusivo. É responsabilidade do Estado, da sociedade civil e de cada indivíduo empenhar-se nessa busca pela equidade. Somente por meio de ações concretas e políticas inclusivas poderemos proporcionar às pessoas excluídas, muitas vezes amputadas fisicamente e traumatizadas emocionalmente, a chance de construírem suas vidas com dignidade e encontrarem o seu lugar na sociedade.

Precisamos romper com a ideia de que a deficiência está no indivíduo e reconhecer que ela está na falta de acessibilidade, nas estruturas sociais que perpetuam a desigualdade. Somente assim estaremos verdadeiramente lutando pela inclusão social plena e pela valorização da vida em sua totalidade. É um desafio que exige a união de todos os setores da sociedade, mas que, ao ser enfrentado, trará benefícios incalculáveis para uma sociedade mais justa e igualitária.

*André Naves é defensor público federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política.