Um homem preso, mais de 400 munições apreendidas, várias folhas de cheques utilizados para aplicar golpes de estelionato, além de dispositivos eletrônicos de armazenamento de informações, contratos e uma série de documentos. Esse foi o resultado da operação deflagrada pela Polícia Civil do Tocantins (PC-TO), por meio da Delegacia Especializada de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores (DERRFVA), na manhã desta segunda-feira, 17, em Palmas.
A operação que foi coordenada pelos delegados Rossilio Souza Correia e Ronan Almeida Souza, tinha por objetivo dar cumprimento à mandados de prisão e apreensão em endereços de indivíduos que são suspeitos de integrar uma organização criminosa investigada pela unidade policial especializada e que, há anos, vem praticando diversos crimes de estelionatos no Estado do Tocantins.
Prisão
Logo nas primeiras horas da manhã, as equipes da Derfrva, juntamente com equipes do Grupo de Operações Táticas Especiais (GOTE), com apoio do delegado Gilberto Augusto Oliveira Silva e outras unidades da capital foram até um imóvel, localizado na quadra 704 Sul, onde efetuaram a prisão de um homem que é ex-agente prisional, de 32 anos. Na ocasião, os policiais civis também deram cumprimento a mandado de busca e apreensão na residência do indivíduo. “No último dia 27, na primeira fase da operação, outro indivíduo de 41 anos de idade, já havia sido preso, também em cumprimento a mandado de prisão preventiva”, disse o delegado.
Apreensões
Ao mesmo tempo, outra equipe de policiais civis sob o comando do delegado Ronan Almeida se deslocou até uma residência, localizada na quadra 304 Norte, e que pertence ao advogado investigado nos crimes, onde após buscas foram localizadas e apreendidas 396 munições deflagradas de calibre 9mm, além de 50 munições intactas do mesmo calibre, uma máquina de passar cartão, um notebook, um HD aparelhos celulares, um par de algemas, vários documentos de cartório e contratos, duas chaves de veículos, bem como 16 folhas de cheques preenchidas e possivelmente utilizadas nos golpes.
No mesmo horário, outra equipe de policiais civis, coordenada pelo delegado Rodrigo Santili, foi até uma casa, localizada em Taquaralto, e que pertence a um dos alvos já presos há duas semanas, onde foi dado cumprimento a mandado de busca e apreensão.
Golpes e prejuízos milionários
Conforme apontaram as investigações da Delegacia de Furtos e Roubos, o grupo, que é formado por pelo menos quatro pessoas, foi responsável pela prática de dezenas de estelionatos no Tocantins, sendo que a maioria deles está relacionada compras e vendas de tratores e máquinas agrícolas com cheques sustados, sem fundos e documentos falsos.
“Ficou evidente nos autos, a presença de “liame subjetivo”, ou seja, a ligação existente entre esses quatro investigados, os quais, vêm agindo com estabilidade e permanência, já há algum tempo, na prática reiterada e contumaz de diversos crimes, inclusive, se enriquecendo ilicitamente”, explica o delegado Rossilio.
No grupo destaca-se a figura do advogado, o qual é apontado sendo o mentor intelectual. O homem preso já há duas semanas como sendo o coautor executor e, o indivíduo preso hoje, na quadra 704 Sul, que atuava como uma espécie de coautor funcional e também era encarregado de fazer as cobranças para o grupo.
Como funcionava o esquema
O grupo procurava tratores e máquinas agrícolas em anúncios ou sites de revendas no Tocantins e também em estados próximos. Após localizarem os maquinários, os membros faziam as compras pagando sempre por meio de cheques. “Ocorre que, posteriormente, o grupo sustava os cheques e revendia os tratores, na maioria das vezes, pela metade dos preços, sendo que o dinheiro era dividido integralmente entre o advogado e os demais integrantes da organização criminosa”, ressalta o delegado Rossilio. O restante era passado para o terceiro e um quarto coautor.
As investigações revelaram ainda que o advogado não tinha apenas uma relação entre advogado e cliente, mas sim coautor executor direto e mentor intelectual nas práticas dos delitos. Era ele a pessoa que arregimentava os clientes (possíveis vendedores e compradores de tratores), pagava os fretes para buscar as máquinas agrícolas objetos de crimes; pagava as comissões para os corretores; preenchia os cheques usados nos estelionatos.
Ele também executava judicialmente as potenciais vítimas que cometiam exercício arbitrários das próprias razões, na apreensões e retenções de seus próprios bens não pagos e expropriados ilicitamente, além de receber praticamente a metade das quantias provenientes dos crimes. A sua outra função importante no grupo era de “brindar” o outro integrante do grupo já preso anteriormente de processos e ameaças por parte das vítimas. Após saber que as vítimas estavam atrás do membro da organização criminosa, o advogado as procurava e começava a incomodá-la com ameaças de processos judiciais.
Longo histórico de crimes
Restou apurado ainda o investigado preso há duas semanas, há anos, vem aplicando golpes na praça, das mais várias formas, sendo os principais: compra de tratores e máquinas agrícolas, usando documentos falsos e cheques fundos e sustados; estelionato eletrônico, por meio de simulação de Pix falso; c) estelionato na compra de gado e arrendamento de fazendas; estelionatos na compra de imóveis, com comprovantes de pagamentos de boletos falsificados, dentre outros crimes
Os últimos crimes praticados pelo homem ocorreram entre os meses de fevereiro e maio de 2023, quando ele efetuou uma compra em uma concessionária, em Palmas, de um trator, no valor de R$ 780 mil. Para concluir a transação comercial foi feito uso de documentos falsos e conversa enganosa, também foram efetuadas as compras de um trator e uma máquina agrícola na cidade de Dois Irmãos e Lagoa da Confusão, com a utilização de cheques sustados, causando prejuízo a vítima no valor de R$ 480 mil. Além desses, recentemente também foi comprado pelo grupo com cheques sustados de tratores nas cidades de Aliança do Tocantins, Natividade e Novo Acordo.
Encaminhamentos
Os três investigados presos foram indiciados pelos crimes de estelionato eletrônico; estelionato qualificado na forma continuada, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Após a realização dos procedimentos legais cabíveis, o homem preso hoje foi recolhido à Unidade Penal Regional de Palmas, onde se juntará ao primeiro preso na operação. Ambos permanecerão à disposição do Poder Judiciário. O advogado preso no domingo em Araguaína também deverá ser transferido para a Capital
“A operação foi extremamente exitosa, até porque foram apreendidos vários documentos e demais itens que vão corroborar nossa investigação, bem como vários contratos que podem demonstrar a existência de outras vítimas, de outras negociações fraudulentas envolvendo outros maquinários agrícolas dos quais ainda não tínhamos conhecimento, além de grande quantidade de cheques que podem confirmar as ações fraudulentas realizadas pelo grupo e subsidiar os elementos já produzidos no processo”, pontuou a autoridade policial.
Além das equipes da Derrfva e do Gote, a operação também contou com o apoio de policiais civis da Diretoria de Polícia da Capital (DPC), 1ª e 3ª Delegacias de Polícia Civil, além da Delegacia Especializada de Polícia Interestadual, Capturas e Desaparecidos (Polinter). (SSP/TO)