O mês de setembro é um dos mais importantes meses do ano no calendário cultural do Estado, pois marca a tradicional Festa da Colheita, que acontece todos os anos no povoado Mumbuca, na região do Jalapão, uma localidade com aproximadamente 200 moradores. Compondo parte da programação do evento, o desfile de moda assinado pelo estilista tocantinense Luiz Fernando Carvalho, com o incentivo do Governo do Tocantins, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), reforçou o poder e a criatividade dos artesãos do Estado, a partir da coleção “Ouro do Cerrado”, com peças feitas à mão, utilizando o capim dourado como matéria-prima.
A noite reuniu mais de 500 pessoas entre nativos, autoridades, artistas e turistas que aplaudiram e se encantaram com as várias peças apresentadas na passarela, que além dos trabalhos assinados pelo artista, também reuniu desfiles infantis e da melhor idade, com matriarcas e artesãs da comunidade desfilando força e irreverência no tapete verde decorado com arranjos em capim dourado, um momento inclusivo de valorização do fazer tradicional e da cultura afrodescendente.
Ouro do Cerrado
A Coleção "Ouro do Cerrado" é composta por cinco vestidos, em diferentes tamanhos e cortes, feitos com 27 metros de crepe prada dourado. O tecido escolhido para a criação de cada um ganhou o toque especial dos bordados, com cerca de 980 peças desenvolvidas a partir de 17 quilos de capim dourado. Além de cada vestido usado pelas modelos jalapoeiras, que emprestaram sua elegância na passarela, os looks ficaram completos com a composição de cinco calçados pensados e confeccionados sob medida.
Estilista
As peças apresentadas na coleção, lançada como parte da programação da Festa da Colheita, foram costuradas e bordadas pelo talentoso jovem estilista Luiz Fernando Carvalho, profissional escolhido pela comunidade. Anteriormente, o artista já havia contado com o incentivo e a parceria do Governo do Tocantins, desenvolvendo uma peça exclusiva, também criada com a matéria-prima e utilizada por misses do Estado.
Durante o processo de costura, Luiz Fernando, que é natural de Guaraí, decidiu ficar imerso no povoado, berço do artesanato em capim dourado. O artista explica que pensou em modelos sofisticados, mas usuais, e que contou com o envolvimento de pelo menos 50 pessoas para que todo o projeto pudesse ser executado desde o início.
“Sempre desejei criar looks com bordados em capim para serem usados por mulheres em bailes de gala ou em festas de formaturas”, disse. A sua intenção é que o capim, que virou artesanato em forma de chapéu e ganhou o mundo a partir das criativas mãos de Dona Miúda, do Jalapão, e depois se transformou em brincos e bolsas, acessórios populares, também pudesse chegar no mundo da moda, ganhando forma por meio de roupas. Com a coleção, os modelos criados manualmente in loco, junto com artesãs e as próprias manequins, são a prova de que esse desejo é sim possível.
Para o secretário da Cultura Tião Pinheiro, o estilista conseguiu conectar sonho, identidade cultural e tradição à moda de uma forma exuberante, sensível e respeitosa. "A Secult teve a honra de viabilizar a produção das peças e contribuir para que a potência cultural do povo jalapoeiro seja ainda mais apreciada Tocantins afora”, disse.
Taiza Pereira Rodrigues, Miss Capim Dourado e modelo do povoado Mumbuca, tem 17 anos e desfilou em um vestido feito a partir da matéria-prima pela segunda vez. “É uma alegria, um prazer e um orgulho participar de um projeto que já é sucesso e ainda incentivar amigas e meninas da comunidade”, contou.
(Foto: Flaviana OX)Festa da Colheita
A Festa da Colheita do Capim Dourado tem uma programação vasta, realizada ao longo de três dias, com desfiles de moda e peças artesanais, maratonas, torneio de futebol, cavalgada, apresentações musicais e teatrais. Em 2023, a festividade foi realizada entre os dias 15 e 17 de setembro, na comunidade Mumbuca, no município de Mateiros. O período antecede a liberação da coleta das hastes da herbácea, que inicia a partir do dia 20 de setembro e segue até o dia 30 de novembro, datas estabelecidas pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), órgão ambiental do Estado responsável pela gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão, Unidade de Conservação (UC) onde a comunidade está localizada.
Considerado o maior evento festivo da região do Jalapão, a festa conta com a participação de pessoas das cidades e comunidades quilombolas de toda a região, com moradores dos municípios de Mateiros, São Félix, Ponte Alta Carrapato, Ambrósio, Fazenda Nova, Galheiros, Boa Esperança, Comunidade da Mata, Rio Novo, Galhão e Prata. (Secom/TO)