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Foto: Divulgação

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A qualidade da soja brasileira depende muito da identificação do percentual de grãos avariados, que são aqueles que apresentam defeitos, como fermentação, ardência, picadas de percevejos, imaturidade, entre outros fatores prejudiciais.  

Para a consultora técnica da ANEC, Fátima Chieppe Parizzi, palestrante do painel que debateu o “Pós-colheita e a qualidade da soja brasileira” durante a VIII Conferência Brasileira de Pós-colheita e V Simpósio Goiano de Pós Colheita de Grãos, quando se lida com grãos é essencial interpretar com precisão todas as condições de qualidade estabelecidas nos padrões. Isso implica observar rigorosamente os procedimentos operacionais corretos e utilizar equipamentos adequados.

“Entretanto, o trabalho não termina aí. O resultado da classificação deve passar por uma avaliação crítica. É como se fosse um exame de sangue: você o faz, mas é o médico que avalia os resultados. No caso da classificação, o técnico responsável pelo produto classificado deverá realizar uma análise crítica para entender a qualidade do grão e determinar as ações necessárias para o gerenciamento subsequente do produto”, compara.

Na soja, por exemplo, uma dos principais parâmetros de qualidade a serem observadas é com relação ao percentual de grãos com defeitos, cujo aproveitamento não é considerado normal. Esses defeitos podem afetar significativamente o processamento dos grãos, prejudicando o rendimento e a qualidade dos produtos obtidos, como o óleo de soja, o farelo, entre outros. “Mesmo os biocombustíveis possuem requisitos rigorosos de qualidade em relação aos grãos que serão processados”, afirmou.

Segundo ela, a  classificação desempenha um papel fundamental na determinação da qualidade e do valor do produto. “Embora seja uma norma regulatória em que não sejam especificados os termos ágio ou deságio, esses conceitos podem ser referenciados quando as empresas decidem vender ou adquirir produtos com base em sua qualidade. Esta informação é muitas vezes especificada em contratos entre fornecedores e compradores”, informa.

Outro fator crucial a ser considerado em termos de qualidade é a umidade dos grãos. A umidade desempenha um papel essencial na evolução dos defeitos, uma vez que muitos deles estão relacionados a processos químicos que ocorrem em ambientes úmidos. “Um grão fermenta e deteriora-se mais rapidamente em condições de alta umidade e temperatura. Portanto, a redução do teor de umidade dos grãos é uma estratégia importante para garantir a conservação e a qualidade dos produtos agrícolas. Isso é especialmente relevante no Brasil, um país tropical com temperaturas de armazenamento significativamente mais elevadas do que em outras regiões, como os Estados Unidos”, enfatizou.

O pesquisador da Embrapa Soja, Marcelo Alvares de Oliveira, apresentou durante sua palestra os números do Projeto Qualigrãos, realizado pela Embrapa no Brasil entre os anos de 2015 e 2019. Ele também analisou a safra (2021/2022) nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde ocorreram problemas climáticos que influenciam a qualidade do grão.

“Coletamos cerca de mil amostras por ano durante quatro anos e realizamos várias análises. Entre elas, medimos o teor de óleo, proteína, acidez, clorofila, grãos avariados, germinados, picado por percevejo, presença de Penicillium e presença de Aspergillus”, afirma Marcelo.

A partir desses dados, segundo ele, foi realizada uma análise estatística para verificar as correlações entre as variáveis. “Algumas correlações já eram esperadas, como a relação inversa entre óleo e proteína e a relação direta entre grãos avariados e fermentados e picados por percevejo. Outras correlações que chamaram a atenção foram as que envolviam a acidez do grão, que estava fortemente associada com grãos picados por percevejo, fermentados e avariados”, afirmou o pesquisador.

“Sabemos que há uma relação inversa entre o teor de óleo e o teor de proteína na soja: quanto mais óleo, menos proteína, e vice-versa. Sabemos que existem algumas cultivares que são “outliers” e não seguem esse padrão. Isso é normal, pois a soma dos dois é mais ou menos constante, em torno de 60%. Por isso, quem compra o grão para farelo quer uma soja com uma maior porcentagem de proteína e óleo possível, para que a proteína esperada no farelo seja elevada, quando você realizar a extração do óleo”, explica, lembrando que na composição da soja brasileira a média de óleo atinge cerca de 22,5% e a proteína situando-se em torno de 37%.

O professor e pesquisador da UFPEL, Maurício Oliveira, que coordena o Lab Grão, laboratório da Universidade Federal de Pelotas, explicou que os fatores básicos da conservação  do grão são temperatura e umidade. “Se o grão for bem seco e mantido em baixa temperatura, ele terá menos risco de perder qualidade.

Ele também destacou que há outros fatores importantes antes da lavoura, como a escolha do genótipo certo. Segundo ele, já existem genótipos que podem ser armazenados por menor tempo e outros que suportam longos prazos.

Maurício Oliveira também comentou sobre uma prática que é muito associada à perda de qualidade, que é a dessecação. Ele alertou que quando se disseca o grão, tem que colher logo. “Porque se tiver chuva, ou se tiver alguns fatores de estresse depois da dessecação, o grão vai ter perda de qualidade acelerada, muito intensa”, afirmou.

Os eventos se encerraram nessa quinta-feira (dia 26) no Centro Tecnológico Comigo, em Rio Verde (GO). São promovidos pela Associação Brasileira de Pós-Colheita (Abrapos) e realização e colaboração da Caramuru Alimentos, Cooperativa Comigo, Instituto Federal Goiano e Sindicato de Armazéns Gerais de Goiás.

Sobre a Abrapos 

Fundada em 1987, a Associação Brasileira de Pós-Colheita é uma organização sem fins lucrativos que visa promover o desenvolvimento tecnológico e a inovação na área de pós-colheita de grãos. A sede da associação fica em Londrina, no Paraná, e seu objetivo é contribuir para a diminuição das perdas de grãos que ocorrem durante e depois da colheita, beneficiando os produtores, os armazenadores e os profissionais do setor.