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Opinião

Quando os Jogos Olímpicos se iniciam, vemos muitos esportes que as pessoas pouco conhecem e, em todas as edições, novas modalidades são adicionadas ao quadro de competições. Em 2024, por exemplo, tivemos a adição do breakdance, como ocorreu em 2020 com o surfe e o skate. Esse movimento gera o aumento da popularidade e da procura por essas atividades, o que é muito positivo. Diversas Organizações da Sociedade Civil (OSCs) constatam esse movimento e atuam para promover diferentes modalidades esportivas, a fim de estimular a prática de atividades e contribuir com a saúde física, a educação, a participação e a inclusão social de pessoas diversas.

Ítalo Ferreira e Rayssa Leal, atletas de surfe e skate, respectivamente, foram medalhistas olímpicos que contribuíram com a ampliação do interesse de jovens e a procura pela prática de suas modalidades esportivas. Isso foi percebido pela Federação Alagoana de Skate, que teve um aumento de 70% na procura pela prática de skate na instituição após as Olimpíadas de Tóquio 2020. Importante destacar, ainda, que muitos projetos sociais são responsáveis por formar atletas olímpicos, como o Projeto Swell, do Rio Grande do Norte, que já revelou atletas da seleção brasileira de surfe, como Iago Belloti e Levi Silva.

Em Paris, diversos atletas que disputaram e ganharam medalhas pelo País se formaram em projetos de organizações sociais, mas nem por isso enxergamos um cenário positivo em todo o Brasil. Historicamente, organizações localizadas nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, recebem muito mais atenção e recursos do que as localizadas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e isso se reflete também na Lei Federal de Incentivo ao Esporte, fundamental para manter projetos sociais que impactam positivamente a vida de pessoas que, muitas vezes, vivem em situação de vulnerabilidade socioeconômica e encontram no esporte uma alternativa para conquistar espaços na sociedade.

Para se ter uma ideia, conforme o Mapa das Organizações da Sociedade Civil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 40% das OSCs brasileiras estão nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. No entanto, essas regiões somam apenas 14% de todo o recurso movimentado pela Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Trata-se, portanto, de uma distribuição ainda muito desigual, o que precisa mudar.

As OSCs, de forma geral, atuam em cooperação com o Estado em atividades de interesse público e conseguem transformar a vida de milhões de pessoas em todo o país. A promoção do esporte é um dos caminhos utilizados para isso, principalmente porque o foco de grande parte das entidades não é apenas formar atletas, mas promover e incentivar a integração com a comunidade, a educação, a cultura, o bem-estar, o respeito, a empatia, entre outros. São organizações essenciais para lutar por direitos fundamentais, inclusive.

Um dado que reflete o poder de transformação social por meio do esporte foi divulgado pelo escritório brasileiro da Unesco em 2021 e indica que onde há programas de apoio para crianças e adolescentes pelo esporte observa-se uma queda anual de 30% na criminalidade. Esse impacto pode ser visto também na diminuição dos índices de consumo de drogas e violência, principalmente em áreas que sofrem maior vulnerabilidade social.

As metodologias de trabalho dessas instituições envolvem aspectos como cooperação, habilidades físicas e sociais, inclusão e respeito à diversidade, favorecendo o desenvolvimento integral da pessoa. Por isso, é necessário promover oportunidade e inclusão ao esporte e urgente que as empresas e o poder público olhem atentamente para regiões nas quais o acesso a recursos financeiros ainda é desigual. Esse caminho é fundamental para promover um país mais justo, com oportunidades mais igualitárias, onde brasileiros possam ter seus direitos garantidos e, por que não, se tornarem grandes atletas que inspiram toda uma sociedade.

*Adriana Mitre é coordenadora da Rede CT - Capacitação e Transformação - rede de desenvolvimento de empreendedores sociais esportivos.