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Meio Ambiente

Foto: Fernando Alves/Secom-TO

Foto: Fernando Alves/Secom-TO

Dos 8,44 milhões de hectares do Cerrado atingidos pelo fogo entre janeiro e setembro deste ano, 5,2 milhões (80%) foram em propriedades privadas e territórios indígenas. Os dados são revelados na nota técnica “Fogo no Cerrado em 2024: retrato de janeiro a setembro” publicada, nesta terça-feira (15), pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Imóveis privados foram a categoria fundiária com maior área queimada, seguida pelas terras indígenas - 3,90 milhões e 2,83 milhões de hectares, respectivamente. Imóveis privados queimaram 1,2 milhões de hectares a mais que a área média atingida pelo fogo no mesmo período nos últimos cinco anos (2019 a 2023), enquanto terras indígenas tiveram um acréscimo de área queimada de 1,4 milhões de hectares.

Com cicatrizes de fogo que chegam a 2,3 milhões de hectares, 27% do total queimado no período, grandes imóveis privados saem na frente no ranking de áreas queimadas se comparados aos médios (859 mil hectares) e pequenos imóveis (649 mil hectares).

Os quilombos e assentamentos foram as únicas categorias fundiárias com redução da área queimada quando comparadas à área média dos anos anteriores. Com um crescimento de 232%, as áreas militares tiveram o maior salto de área entre janeiro e setembro de 2024, seguidas pelas terras indígenas (105%) e pelas unidades de conservação (83%).

“A seca no Cerrado impulsionou a expansão da área queimada em quase todas as categorias fundiárias. Para enfrentar esse cenário, é preciso fortalecer a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, mudando práticas de manejo agrícola e incentivando o uso controlado do fogo”, aponta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

Vegetação

A vegetação mais atingida foi a formação savânica, com 4,04 milhões de hectares queimados (47% do total) entre janeiro e setembro de 2024. Em seguida, campos alagados (21,3%) e agropecuária (15,38%). Embora a formação florestal tenha registrado a menor área queimada, seu aumento foi de 113% em relação à média dos últimos cinco anos, o maior crescimento proporcional entre os tipos de vegetação. Os campos alagados tiveram o segundo maior aumento (53%), seguidos pela formação savânica (46%).

 

Quando se olha apenas para setembro deste ano, comparado a setembro do ano passado, o campo alagado é a vegetação com maior crescimento percentual, chegando a 421%.

“As áreas úmidas do Cerrado, mapeadas como campo alagado, e as formações florestais estão enfrentando um cenário alarmante de presença de fogo. Ambas abrigam espécies que não possuem adaptações ao fogo, o que resulta em danos severos às comunidades vegetais. Nas áreas úmidas, a grande quantidade de biomassa acumulada durante a seca aumenta a inflamabilidade, elevando também o risco de incêndios subterrâneos, que são difíceis de controlar. Nas formações florestais, o impacto é ainda maior, com alta mortalidade de espécies e maior dificuldade de recuperação”, comenta Vera Laísa Arruda, pesquisadora do IPAM.

Municípios

64% (909 municípios dos 1.413) dos municípios do Cerrado enfrentaram aumento na área queimada em setembro deste ano, quando comparado com setembro de 2023. Novo Santo Antônio (MT) registrou o maior aumento de área queimada, com 1861%, (125.035 hectares). Formoso do Araguaia (TO) e Pium (TO) tiveram o segundo e terceiro maior aumento, respectivamente 1258% e 1021%.

A lista dos municípios com maior área queimada é composta por cidades de Mato Grosso, Tocantins e Bahia, próximas à fronteira com o bioma Amazônia e na região do Matopiba. Com uma área queimada superior a 293 mil hectares, Formoso do Araguaia (TO) foi o município com maior área queimada. Cocalinho (MT) e Ribeirão da Castanheira (MT) ficam, respectivamente, em segundo e terceiro lugar.

Recomendações

Segundo a nota técnica, parar o fogo em meio à emergência climática é um desafio que impõe celeridade. Os pesquisadores recomendam a implementação da PNMIF (Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo) como ponto estratégico para a resolução do desafio.

A Política orienta técnicas de manejo para cada contexto, possibilitando que métodos de prevenção e combate ao fogo sejam implementados em cada categoria fundiária e em diferentes tipos de vegetação. Entre as ações necessárias para reduzir o fogo destacam-se a redução do desmatamento e o fortalecimento institucional; a gestão integrada e sustentável do uso do fogo; e a proteção de áreas nativas por meio da criação e expansão de áreas protegidas.

Os especialistas orientam conscientização e engajamento da população por meio de campanhas e co-criação de soluções, envolvendo comunidades tradicionais, povos indígenas e agricultores familiares de modo a unir conhecimento tradicional e científico. Ainda, a implementação de incentivos financeiros fomentando a proteção ambiental ao remunerar comunidades e proprietários rurais, fortificando a Lei de pagamento por serviços ambientais e iniciativas como o CONSERV. (Comunicação Ipam)