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Campo

Foto: Divulgação Embrapa Cocais

Foto: Divulgação Embrapa Cocais

Em diversas regiões brasileiras estão sendo realizadas ações preparatórias (capacitações, visitas técnicas e atividades de campo) para a multiplicação em escala nacional da tecnologia social Sisteminha Comunidades por meio de ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar - MDA, sob a liderança da Embrapa Cocais e com atuação de outras Unidades da Embrapa, Institutos Federais- IFs e parceiros. A iniciativa é parte do programa “Sisteminhas Comunidades: Povos e Comunidades Tradicionais”, que é objeto do Termo de Execução Descentralizada (TED) entre a Embrapa Cocais e o MDA, e representa um marco para o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar e nutricional de comunidades tradicionais no Brasil, uma vez que a tecnologia permite produzir vegetais e pequenos animais para consumo local.

O objetivo é promover a geração de renda, inclusão social, autonomia produtiva e  sustentabilidade ambiental em territórios indígenas, quilombolas e de povos e comunidades tradicionais, por meio da produção de alimentos diversificados e da comercialização dos excedentes. Para preparar a instalação de Sisteminhas estão sendo realizadas capacitações, visitas técnicas e atividades de campo para compartilhamento de conhecimentos, tecnologias, processos e serviços e formação de multiplicadores populares, o que vai permitir ampliar o impacto econômico, social e ambiental da tecnologia em todas as regiões do País.

Para Marco Bomfim, chefe-geral da Embrapa Cocais, a inclusão socioprodutiva é uma prioridade da Embrapa para reduzir a pobreza e garantir a segurança e a soberania alimentar. “O Sisteminha Comunidades produz alimentos de forma muito rápida e ainda oferece autonomia às pessoas e fonte de aprendizado e conexão comunitária, o que mostra o papel da tecnologia na inovação tecnológica e social para o desenvolvimento local. Esse processo somente ocorre com a participação ativa da comunidade e da rede de parceiros e apoio das políticas públicas, uma aliança entre a sociedade organizada, instituições de ciência de tecnologia e o setor público”.

O pesquisador Luiz Carlos Guilherme, criador da tecnologia social, diz que o Sisteminha evoluiu. Saiu do foco do tratamento individual em cada família para um tratamento coletivo, de visão mais holística em relação à comunidade. Dessa forma, vem orientando oportunidades de negócios e formas de lidar com a aquisição de insumos, orientações técnicas, formação de novas lideranças, abrindo oportunidades de conhecimento e relação com comunidades vizinhas, o que permite agregação de valor e interação com o mercado. “Há uma atuação coletiva de trabalho e atividades que vão permitir que as famílias sejam parceiras do processo. Esse é o principal avanço, a visão coletiva e a rede de parceiros e instituições, a união de esforços entre técnicos e produtores, formando um batalhão coletivo de multiplicadores populares, que  exercem o principal papel no sistema, no sentido do escalamento do número do sistema. A partir do momento em que  são capacitados detém as informações técnicas, são empoderados na comunidade. E temos ações de multiplicadores populares em comunidades diferentes, inclusive de outros estados. A experiência prática adquirida por eles é crucial para levar informação e executar. Também temos o trabalho de técnicos organizados, também primordial”.

Luiz Guilherme também ressalta da capacidade adaptativa da tecnologia à realidade local. “Há uma flexibilidade muito grande no Sisteminha, tanto no número de módulos  como na forma de construção desses módulos , gerando customização de acordo com as comunidades, suas culturas e especificidades de clima e vegetação. Assim, é  uma ferramenta de desenvolvimento sustentável e resgate da dignidade, autoestima e geração de oportunidades, preservação de tradições culturais e promoção da sustentabilidade social, econômica e ambiental. Em resumo, um ferramenta de transformação da realidade”.

Rota dos quilombolas: famílias aptas irão receber capacitação

O Sisteminha Comunidades tem se destacado nas comunidades quilombolas Santo Antônio, Gapó e Flexal, localizadas no município de Penalva-MA, promovendo um trabalho colaborativo com a população local. A iniciativa, liderada pelo professor Geovane Santos Muniz de Penalva, no Maranhão, com uma equipe de alunos de escolas públicas do município, visa implementar e multiplicar o Sisteminha na região.

Nos últimos meses, a equipe tem realizado um trabalho intenso de aproximação com a comunidade, buscando entender perfil e as necessidades específicas de cada grupo. Uma das etapas mais importantes do programa é o cadastramento das famílias aptas a receber os módulos do Sisteminha. Após esse levantamento, a equipe oferece informações sobre o funcionamento do Sisteminha, além de realizar uma formação sobre o manuseio dos equipamentos. Essa abordagem educativa que não só capacita os moradores, mas também promove a consciência sobre a importância da sustentabilidade.

As reuniões de alinhamento são uma parte crucial desse processo. Realizadas semanalmente ou a cada 15 dias, dependendo da demanda, esses encontros servem para discutir a programação de entrega dos materiais e esclarecer dúvidas. A expectativa é de que, com o andamento do programa, mais famílias possam se beneficiar e contribuir para um futuro mais sustentável e autônomo na região.

Na etapa chamada popularmente de "contrapartida", em que a comunidade demonstra seus recursos disponíveis para a implementação dos módulos do Sisteminha, a Comunidade Quilombola Santo Antônio utiliza a palha do coco babaçu para cobrir os galinheiros. “Estamos trabalhando dessa forma e tem sido eficaz. A prática é preconizada pelo Sisteminha e representa uma forma sustentável de aproveitar os materiais locais, promovendo a conservação ambiental e a valorização dos recursos naturais da região. Além de proteger as aves, reduz desperdícios e incentiva o uso consciente dos recursos disponíveis”, avalia o professor.

A comunidade quilombola de São Martins é referência na versão do Sisteminha Comunidades pela execução coletiva – e não somente familiar – da produção escalonada de alimentos, combatendo a insegurança alimentar e a fome na região.

Rota dos indígenas no nordeste: autonomia na criação de aves

Aldeia Krenye

Após anos vivendo em áreas periurbanas próximas às cidades de Grajaú e Barra do Corda, sem terras próprias, a comunidade indigena Krenye, liderada pelo cacique Ademar, finalmente conseguiu um espaço para desenvolver suas atividades produtivas, no município de Tuntum, Maranhão.

O programa começou a ganhar forma há cerca de dois anos, quando o cacique entrou em contato com o pesquisador Luiz Guilherme, após uma reunião de comunidades indígenas maranhenses, com o intuito de implementar o Sisteminha. Após isso, foi realizada uma visita técnica junto à comunidade, para dar início à construção de galinheiros, utilizando materiais disponíveis no entorno. Atualmente, a produção de ovos já está em andamento, e o próximo passo será o início da criação de frangos de corte, o que aumentará a diversidade de alimentos para a comunidade. Seis famílias estão envolvidas diretamente, e mais cinco devem se unir ao programa, que também inclui o plantio de batata-doce e o aprendizado de técnicas de compostagem. Apesar de ainda não terem acesso à água e energia elétrica, o trabalho avança com a expectativa de construir tanques para piscicultura até o final do ano.

Luiz Guilherme conta que os multiplicadores populares que se desenvolveram nessa aldeia em breve irão estender o programa para as comunidades indígenas Canela e também dos Guajajara, da região de Fernando Falcão até Imperatriz, a partir da integração com a FUNAI.

Aldeia Atikum

Em setembro, foi realizada oficina prática com a tribo Atikum, em Sento Sé-BA, com foco na construção de aviários para aves de postura, coordenada por Renê Cordeiro, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco - Univasf. A atividade teve como objetivo capacitar indígenas sobre a construção de aviários, promovendo a autonomia na criação de aves.

Durante a oficina, cerca de 15 indígenas aprenderam a medir e construir os aviários com materiais como madeira e palha. Segundo o professor, a abordagem prática é fundamental para garantir que os conhecimentos possam ser aplicados. “Foi uma dinâmica que surtiu efeito imediato. Eles conseguiram captar bem os conteúdos e os resultados práticos”, completou Renê. Ele observou que, apesar da complexidade do programa, os participantes captam as instruções com eficácia, beneficiados por sua experiência prévia na construção de ocas, que envolve o uso de madeira e palha. 

Os participantes também foram incentivados a formar grupos para se tornarem multiplicadores populares do Sisteminha Comunidades, promovendo a cooperação entre as famílias na construção em mutirão. 

Os próximos passos dessa iniciativa incluem o acompanhamento contínuo da criação das aves, por meio de orientações sobre manejo e cuidados. Haverá reuniões futuras para que os participantes possam trocar experiências e se integrarem mutuamente na construção e na criação, mantendo um ciclo de aprendizado e desenvolvimento comunitário.

Rota dos indígenas no Norte: articulação com comunidade de Roraima

Está em articulação com a comunidade indígena da Taba Lascada, no município de Cantá-RR, a implementação do Sisteminha Comunidades. O objetivo é promover a geração de renda e autonomia produtiva de mil famílias de territórios indígenas, quilombolas e de povos e comunidades tradicionais, por meio da produção de alimentos diversificados e da comercialização dos excedentes. 

O pesquisador Luiz Guilherme esteve em Roraima para participar de reunião com representantes da comunidade e o professor do Instituto Federal de Roraima – IFRR Pierre Pinto Cardoso e discutir com os indígenas como seria iniciada a execução do plano de trabalho. “Esse momento é fundamental para garantir que todas as etapas sejam cumpridas de forma adequada, respeitando as necessidades da comunidade e os recursos disponíveis. As expectativas são de que, em breve, essa comunidade possa se tornar um espaço sustentável de troca de saberes e aprendizado mútuo”.

A tecnologia em terras indígenas de outros estados

Recentemente, Embrapa Cocais e Funai realizaram  Oficina Sisteminha Comunidades para ensinar sobre a construção dos módulos, como tanques de piscicultura, composteiras, minhocários, galinheiros e áreas de plantio. Participaram 15 indígenas do estado do Maranhão representando cinco povos -  Guajajara, Gavião, Kanela, Timbira e Krenyê – de terras indígenas Morro Branco, Governador, Araribóia, Gavião, Geralda Toco Preto, Krenyê e Porquinhos. E ainda 10 indígenas de outros estados representando 8 povos - Macuxi, Terena, Kaingang, Guarani, Xokleng, Krahô, Xerente e Ye’kuana -  oriundos dos territórios indígenas Ibirama Lã Klanõ (SC), Palmas (SC/PR), Guarita (RS), Cachoeirinha (MS), Buriti (MS), Raposa Serra do Sol (RR), Xerente (TO), Krahô (TO) e Morro da Palha (SC).

Mil Sisteminha no Brasil

Segundo o TED serão implantados mil unidades do Sisteminha Comunidades em um processo participativo nas diversas regiões do Brasil, baseadas em tecnologias inovadoras e sustentáveis, combinando o uso de insumos aprimorados, como sementes de qualidade, linhagens adequadas (industriais, rústicas ou tradicionais) de aves de postura e corte, alevinos e ração de qualidade, com princípios ecossistêmicos. Será dada ênfase na produção de peixes, ovos e vegetais como a macaxeira, milho, abóbora, batata doce, inhame, feijão, melancia e olerícolas, entre outros, visando promover a segurança alimentar e nutricional das famílias parceiras. Essa abordagem visa promover a estabilidade e sustentabilidade da atividade produtiva, garantindo resultados duradouros. (Embrapa Cocais)