O mercado de apostas esportivas no Brasil tem se expandido rapidamente, impulsionado pela popularização das plataformas digitais e a regulamentação recente do setor. Um estudo conduzido pelo professor Ahmed El Khatib, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), revela como os universitários brasileiros estão imersos nesse cenário e examina os fatores que influenciam seu comportamento de apostas, com base na Teoria do Comportamento Planejado (TCP).
A pesquisa, intitulada “Diversão ou Armadilha? Um estudo exploratório das Apostas Esportivas entre Universitários Brasileiros”, analisou os hábitos de mais de 800 universitários em todo o país, e revelou que cerca de 81% dos universitários entrevistados já participaram de alguma forma de aposta esportiva, sendo que 72,8% se envolvem regularmente.
“Um dos principais motivadores para os jovens é o prazer associado ao jogo, além da percepção de que a prática é uma forma de socialização. Além disso, para aqueles com problemas de jogo mais severos, as influências de amigos e familiares se destacam como os principais fatores de encorajamento”, afirma El Khatib.
O estudo também identificou que as atitudes positivas em relação às apostas, normas subjetivas (influências de amigos e familiares) e o controle comportamental percebido são os principais fatores que moldam a intenção dos jovens de participar dessas atividades.
Regulamentação e desafios
A aprovação da Lei 14.790/2023, que regulamenta o mercado de apostas no Brasil, abriu novas oportunidades para empresas nacionais e internacionais operarem legalmente. Com isso, o Brasil tornou-se um dos mercados mais promissores para apostas esportivas, atraindo milhões de brasileiros. No entanto, como aponta o professor El Khatib, o aumento no número de apostadores, especialmente entre universitários, acarreta preocupações, como o risco de desenvolvimento de vício em jogos de azar.
O impacto do jogo
Um dos achados mais alarmantes da pesquisa foi a correlação entre o comportamento de apostas e o desenvolvimento de transtornos mentais como ansiedade, depressão e estresse financeiro.
Aproximadamente 2 milhões de brasileiros sofrem de ludopatia, e entre os universitários, 42% dos entrevistados que relataram participar de apostas enfrentam dificuldades financeiras. “Para muitos, as apostas deixam de ser uma forma de entretenimento e tornam-se uma tentativa de recuperação de perdas, o que agrava ainda mais a situação financeira e emocional”, completa o docente.
Além disso, o estudo identificou que a gravidade do jogo problemático modera significativamente as intenções e comportamentos de apostas. Enquanto os apostadores recreativos demonstram mais controle e encaram o jogo como uma atividade social, os apostadores problemáticos apresentam maior vulnerabilidade, influenciados por normas subjetivas e com maior probabilidade de experimentar comportamentos impulsivos e vício.
Educação e prevenção
A pesquisa também ressalta a necessidade de programas de conscientização voltados para os jovens, especialmente em universidades. O pesquisador da FECAP enfatiza que campanhas educativas podem ajudar a reduzir a crescente taxa de vício entre estudantes universitários, promovendo comportamentos mais responsáveis. “As apostas esportivas têm sido vistas principalmente como uma forma de entretenimento, mas, sem a devida conscientização, os riscos associados, como endividamento e transtornos mentais, continuam sendo ignorados”, alerta o professor.
Ele recomenda que a regulamentação não se limite apenas à criação de regras para o mercado, mas que inclua também programas educativos e de suporte psicológico. Segundo El Khatib, “estudantes universitários estão expostos a uma série de influências que podem aumentar suas chances de desenvolver vícios. A educação sobre os riscos e a promoção de atitudes responsáveis são essenciais para mitigar esses efeitos”, finaliza.
O especialista Ahmed Sameer El Khatib é doutor em Administração de Empresas e Educação, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais, graduado em Ciências Contábeis; Pós-doutor em Contabilidade e Administração, e e graduando e doutorando em Psicologia Clínica. É professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi chefe geral do orçamento da Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo entre os anos de 2016 e 2019.