O Brasil, reconhecido por possuir uma matriz energética predominantemente renovável, depende significativamente de fatores climáticos para geração de energia. Essa dependência se concentra, sobretudo, na energia hidrelétrica, que responde por aproximadamente 55% do consumo nacional. Nesse contexto, a disponibilidade de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas é determinante para a estabilidade do fornecimento e, consequentemente, para o impacto no bolso dos brasileiros. Assim, as variações climáticas influenciam diretamente o preço da energia, evidenciando a relação complexa entre as condições meteorológicas e os custos do mercado energético.
Eventos climáticos extremos – como excesso de chuvas ou ondas de calor – afetam diretamente geração, consumo, e consequentemente, o valor pago pelo consumidor. Os regimes de chuva no Brasil são influenciados diretamente por fenômenos climáticos como o El Niño - que aquece as águas do Oceano Pacífico e pode reduzir as chuvas no Nordeste e no Norte - e La Niña - associado ao resfriamento do Pacífico, provocando estiagens na Região Sul, mas também intensificar secas no Nordeste -, além de variações intrasazonais, que são estiagens ou chuvas excessivas registradas em uma mesma estação.
Em períodos de seca prolongada, os níveis dos reservatórios caem e o custo da energia aumenta significativamente. Essa situação muitas vezes exige o acionamento de fontes alternativas, como termelétricas a gás, carvão ou óleo, que possuem custos mais elevados e uma operação mais complexa. Além disso, durante ondas de calor, o aumento do consumo por equipamentos de refrigeração, como ar-condicionado, também pressiona o mercado, elevando os preços no curto prazo.
Fato é que as mudanças climáticas têm se intensificado e tornado os efeitos de eventos climáticos cada vez mais extremos, frequentes e imprevisíveis. Isso acarreta períodos de seca mais severos e enchentes intensas que podem desestabilizar a matriz energética, como as inundações do Rio Grande do Sul e as secas da Região Norte, por exemplo. Além disso, essas variações climáticas alertam para uma necessidade iminente de investir em fontes complementares e sistemas de armazenamento de energia, como baterias e usinas de geração distribuída.
Para minimizar esses efeitos no valor pago pela energia no país, é primordial diversificar a matriz energética, aprimorando a gestão dos recursos hídricos. A energia solar e eólica, por exemplo, são menos dependentes da água e têm crescido significativamente no Brasil, embora não tenham controle de geração como as usinas hidrelétricas.
A relação entre o clima e o preço da energia no país é uma questão estrutural, que exige atenção frequente e soluções diferenciadas, como inovações tecnológicas e novas pesquisas e buscas, para driblar qualquer percalço. À medida que os desafios climáticos aumentam, empresas e governos precisam trabalhar juntos para mitigar riscos e garantir um sistema energético mais resiliente e sustentável. A diversificação da matriz energética é não apenas necessária, mas indispensável para evitar crises futuras e proteger os consumidores brasileiros de impactos financeiros ainda mais severos.
*Celso Luís de Oliveira Filho é especialista em Meteorologia e Hidrologia no Grupo Safira. Desde 2022 no Grupo, Celso é Bacharel em Meteorologia e Mestre em Agronomia pela Universidade de São Paulo (USP), atualmente cursando licenciatura em Geografia, também pela USP. Ao longo de mais de 20 anos de carreira, construiu uma trajetória sólida na Somar Meteorologia, onde atuou até sua fusão com a Climatempo, prestando consultorias especializadas para setores como Agronegócio, Energia, Varejo, Seguros, Transporte, Offshore e Mídia. Em paralelo, participou da fundação da Prisma Meteorologia, uma empresa de tecnologia dedicada a soluções meteorológicas para o setor agrícola.