A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) realizou nessa quinta-feira, 26 de dezembro, a 1ª Reunião da Sala de Crise sobre o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek. O encontro foi transmitido por meio do canal da ANA no YouTube e teve como foco o nivelamento e o compartilhamento de informações sobre a atuação de órgãos federais e estaduais no sentido da qualidade da água do rio após o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que fica entre os municípios de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), em 22 de dezembro.
Também foram abordados os riscos existentes e medidas previstas de modo a subsidiar a tomada de decisões para redução de riscos e impactos sobre usos múltiplos da água entre o local do acidente e a jusante.
Durante a 1ª Reunião participaram a diretora-presidente da ANA, Veronica Sánchez da Cruz Rios, e o diretor interino Marcelo Medeiros, entre outras autoridades. Na ocasião o Serviço Geológico do Brasil (SGB) informou que tem atuado no processo de coleta de amostras de qualidade da água e no monitoramento hidrológico em articulação da ANA.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (SEMA/MA) informou que recomendou inicialmente a suspensão de captações de água do Rio Tocantins a jusante do acidente. No entanto, essas captações já foram retomadas diante das informações e novas análises realizadas até o momento, as quais indicam que não houve vazamento de substâncias químicas. Além disso, a SEMA/MA relatou que é baixo o nível de toxicidade para consumo humano de água e abordou tanto o tempo de percurso da água do ponto do desastre até a principal captação de água para abastecimento público em Imperatriz (MA) quanto a grande a capacidade de diluição do Rio Tocantins em virtude de sua grande vazão.
Plano de Resposta Rápida
Já o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) relatou sobre sua articulação com diversos órgãos, como ANA e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), para análises de qualidade da água. A pasta também compartilhou que está atuando com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e com a Comissão Nacional de Segurança Química, que já estava trabalhando na estruturação dos P2R2 (planos de preparação para resposta rápida a acidentes químicos) junto aos estados.
A Defesa Civil do Maranhão questionou sobre riscos para o abastecimento com água de poços, sobre a existência de planos de contingência para o caso de vazamento e previsões quanto à elevação de chuvas e vazões. O órgão foi informado que o risco para abastecimento com água subterrânea é praticamente nulo e que a Sala de Crise visa a prover as informações para que cada setor possivelmente afetado prepare suas ações de contingência, sendo a principal a possível interrupção das captações de água, e a elevação de vazões para diluição de contaminantes – caso as amostras de qualidade da água mostrem alterações, o que não ocorreu até o momento.
Nesse sentido, a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (CAEMA) compartilhou que continua o monitoramento contínuo da qualidade da água do rio Tocantins a cada 2 horas e não detectou nenhuma anormalidade até o momento. Já a empresa de saneamento BRK informou que todas as captações no Tocantins são subterrâneas e não estão sob risco.
Por sua vez, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou as perspectivas de operação da cascata de reservatórios do rio Tocantins, especialmente a programação de operação da usina hidrelétrica (UHE) Estreito, que tem operado reduzindo vazões durante o dia para facilitar as operações de resgate. À noite as vazões são elevadas, perfazendo uma média diária de 2000m³/s. Contudo, há perspectiva de aumento de vazões a partir do dia 31 de dezembro para que seja possível manter o controle das vazões liberadas, tendo em vista o possível enchimento completo do reservatório até 9 de janeiro.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) apresentou as previsões de chuva para região nos próximos dias e semanas, indicando precipitações acima da média e elevação de vazões.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) informou que já tomou providências de notificação das empresas transportadoras para que removam todo o material submerso no rio Tocantins e aguarda resposta. Porém, o Instituto ressaltou que o trabalho de campo é complexo e delicado e deve ser feito com cautela e planejamento, devendo levar de 15 a 30 dias. Junto com a Defesa Civil, o IBAMA também afirmou que a prioridade tem sido a retirada dos corpos.
Durante a 1ª Reunião também houve a atualização de informações do Ministério da Saúde sobre efeitos da exposição aos produtos químicos, caso ocorra exposição aguda ou crônica, o que é improvável segundo o quadro de momento. Foi relatado que tais riscos são maiores para o meio ambiente do que ao consumo humano, já que os herbicidas podem causar danos a fitoplanctons e a eventual liberação de ácido sulfúrico potencializaria esse impacto, em razão da redução de pH (acidez) da água. Nesse sentido, a diretora-presidente da ANA ressaltou a importância de reforçar as informações sobre toxicicidade da água junto às comunidades ribeirinhas.
Tanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) quanto a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informaram que há ainda veículos na parte que sobrou da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, mas sem risco de queda na água, pois estão sobre a parte seca do rio. Essas instituições relataram que estão atuando para remover os veículos do local.
Na próxima segunda-feira, 30 de dezembro, a partir das 16h, acontecerá a 2ª Reunião da Sala de Crise para acompanhamento da situação, atualização de informações, divulgação dos primeiros resultados de análises de qualidade da água e subsídios para redução dos riscos envolvidos.
Rio Tocantins
Com aproximadamente 2400km de extensão, o Rio Tocantins é o segundo maior curso d’água 100% brasileiro, ficando atrás somente dos cerca de 2800km do rio São Francisco. O Tocantins nasce entre os municípios goianos de Ouro Verde de Goiás e Petrolina de Goiás. Ele também atravessa Tocantins, Maranhão e tem sua foz no Pará perto da capital Belém. O Rio pode ser chamado de Tocantins-Araguaia por se encontrar com o rio Araguaia entre Tocantins e Pará. Os dois cursos d’água também dão nome à Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia, que é a maior do Brasil em área de drenagem 100% em território nacional. Por serem rios interestaduais, a gestão e regulação das águas do Tocantins e do Araguaia é de responsabilidade da ANA. (Com informações ANA)