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Economia

O mercado de trabalho vive um momento histórico no Brasil — a taxa de desemprego caiu para 5,8% no segundo trimestre de 2025, o menor nível já registrado. No comércio atacadista, os indicadores confirmam o aquecimento: em junho deste ano, todos os segmentos registraram saldo positivo de vagas, com destaque para Produtos de Consumo Não Alimentar (+3.196 postos) e Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo (+2.117), de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) [tabela 1].

No entanto, por trás do otimismo, há um novo desafio para o setor — a falta de mão de obra qualificada, de acordo com estudo realizado pelo Conselho do Comércio Atacadista (CCA) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Em áreas de alta tecnologia, por exemplo, o crescimento foi tímido, com a criação de apenas 254 novas vagas em Equipamentos e Produtos de Tecnologia da Informação e Comunicação, reflexo direto da escassez de profissionais especializados.

“O pleno emprego é uma conquista para o País, mas, para o empresário atacadista, tornou-se também uma batalha diária encontrar e reter bons profissionais. O capital humano virou o grande diferencial competitivo”, afirma Ronaldo Taboada, presidente do CCA.

 [Tabela 1]

Saldo e estoque do emprego celetista do comércio atacadista no Estado de São Paulo junho/2025

 Fonte: Caged / Elaboração: FecomercioSP

Rotatividade em alta

A dificuldade de manter trabalhadores é outro problema. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do MTE, o tempo médio de permanência no emprego caiu 7% entre 2015 e 2024 no setor de atacado paulista, chegando a apenas 26 meses [tabela 2]. Em setores como Madeira e Material de Construção, a redução foi de 12%.

[Tabela 2] 

Tempo médio de permanência (TMP) — atividades de comércio atacadista variação entre 2015 e 2024

TMP em meses

 

Comércio Atacadista

2015

2024

Var. %

Equipamentos e Produtos de Tecnologias de Informação e Comunicação

33

34

1%

Madeira, Ferragens, Ferramentas, Material Elétrico e Material de Construção

27

24

-12%

Máquinas, Aparelhos e Equipamentos, Exceto de Tecnologia de Informação e Comunicação

31

29

-5%

Matérias-Primas Agrícolas e Animais Vivos

25

23

-6%

Produtos de Consumo não Alimentar

28

26

-9%

Produtos Farmacêuticos para Uso Humano e Veterinário

24

22

-8%

Especializado em Outros Produtos

30

27

-12%

Especializado em Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo

25

23

-7%

Não Especializado

24

23

-6%

Média Geral

28

26

-7%

Fonte: Rais — Ministério do Trabalho e Emprego

De forma geral, todas as faixas etárias apresentaram recuos no tempo médio de permanência — -7% (25 a 39 anos), -7% (40 a 49 anos) e -10% (50 a 64 anos). A queda foi ainda mais expressiva entre jovens de 15 a 24 anos, cuja permanência média recuou de 12 para 10 meses (-15%). A rotatividade crescente compromete as operações e gera custos elevados de substituição.

Além disso, a participação dos jovens no setor também caiu. Em 2010, eles representavam 22% dos vínculos formais; em 2024, apenas 17% [gráfico 1]. Essa redução indica menor interesse das novas gerações em atuar no setor atacadista, o que reforça a escassez de talentos.

[Gráfico 1] 

Participação no comercio atacadista por faixa etária variação entre 2010 e 2024

 Fonte: Rais — Ministério do Trabalho e Emprego

Aumento de custos

A disputa por profissionais qualificados tem reflexos sobre o custo operacional e no modelo de negócio. Segundo Taboada, esse movimento traz um alerta: “As empresas não podem se limitar a oferecer salários mais altos. É preciso investir em ambiente saudável, benefícios consistentes e, sobretudo, em planos reais de carreira. Sem isso, a rotatividade continuará corroendo margens e produtividade”.

O que fazer diante do cenário

A FecomercioSP aponta caminhos para os empresários enfrentarem esse gargalo. Veja a seguir.

  • Capacitação interna: formar profissionais do zero, ao invés de esperar pelo candidato pronto.
  • Retenção estratégica: adotar políticas de valorização, com benefícios, reconhecimento e oportunidades de crescimento.
  • Eficiência operacional: investir em tecnologia e treinamento para reduzir dependência de mão de obra.
  • Atratividade para jovens: criar programas que despertem o interesse das novas gerações pelo setor.

Na visão do CCA, a escassez de mão de obra mostra que os empresários do setor precisam redobrar esforços na gestão de pessoas. O desafio deixou de ser apenas vender mais — agora, é garantir equipes qualificadas e engajadas para sustentar o crescimento.