O setor de apostas e jogos online no Brasil segue em franca expansão. De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda, as empresas do segmento movimentaram R$ 17,4 bilhões no primeiro semestre de 2025. O montante corresponde ao chamado Gross Gaming Revenue (GGR), ou seja, o valor arrecadado pelas plataformas de apostas após o desconto dos prêmios pagos aos jogadores.
Os números reforçam o crescimento acelerado de um mercado que, até pouco tempo atrás, operava em uma zona cinzenta regulatória e que hoje já se consolidou como uma das principais apostas do governo para aumentar a arrecadação federal.
Quem são os apostadores brasileiros?
Segundo o levantamento, 17,7 milhões de brasileiros utilizaram casas de apostas e aplicativos de apostas online entre janeiro e junho. A média de gasto por apostador ativo foi de R$ 983 no semestre, ou aproximadamente R$ 164 por mês.
O perfil do apostador também foi detalhado pelo governo:
● 71% são homens e 28,9% são mulheres;
● A faixa etária mais presente é de 31 a 40 anos, com 27,8% do total;
● Jovens de 18 a 25 anos representam 22,4%;
● De 25 a 30 anos, 22,2%;
● Apostadores entre 41 e 50 anos somam 16,9%;
● Entre 51 e 60 anos, 7,8%;
● Já os que têm 61 a 70 anos são 2,1%.
Esses dados mostram que a maior parte do público está em idade economicamente ativa, o que ajuda a explicar o apelo das plataformas, muitas vezes associadas ao entretenimento esportivo.
Receita para os cofres públicos
A tributação das bets e loterias já trouxe impacto relevante na arrecadação federal. Segundo a Receita, foram R$ 4,73 bilhões arrecadados nos primeiros sete meses do ano. Desse total, R$ 2,6 bilhões vieram diretamente da taxação das empresas de apostas esportivas e o restante, R$ 2,1 bilhões, das loterias.
A expectativa do governo é ainda maior: estima-se que, até o fim do ano, a tributação de apostas e jogos online, somada às loterias, alcance pelo menos R$ 10 bilhões.
Essa fonte de receita ganhou importância dentro do plano econômico da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que vê no setor uma forma de compensar a queda de outros tributos e ajudar a equilibrar as contas públicas.
Impostos em transformação
Atualmente, a tributação das bets é de 12% sobre a receita líquida (GGR). No entanto, o governo editou uma Medida Provisória (MP) que eleva a alíquota para 18% a partir de novembro. Embora já esteja em vigor, a MP precisa ser ratificada pelo Congresso Nacional, e enfrenta resistências de parlamentares e empresas do setor.
Além da taxação das companhias, a lei também prevê que apostadores paguem imposto de renda sobre prêmios recebidos, aumentando ainda mais a participação da atividade no caixa federal.
Como o dinheiro é dividido
A norma estabelece a destinação dos recursos arrecadados com as bets:
● 36% para o Ministério do Esporte e comitês esportivos;
● 28% para o Turismo;
● 13,6% para a Segurança Pública;
● 10% para a Educação;
● 10% para a Seguridade Social;
● 1% para a Saúde;
● 0,5% para entidades da sociedade civil;
● 0,5% para o Funapol (Fundo da Polícia Federal);
● 0,4% para a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Essa divisão reflete a tentativa do governo de mostrar que a tributação das apostas não tem apenas caráter arrecadatório, mas também de investimento em áreas estratégicas.
O combate ao mercado ilegal
Se, de um lado, o mercado regulado mostra números expressivos, de outro o governo intensifica a guerra contra o jogo ilegal. Segundo a SPA, só no primeiro semestre deste ano foram 15.463 páginas retiradas do ar pela Anatel, em ação coordenada para desativar sites não autorizados.
Além dos bloqueios, houve avanços em outras frentes:
● 277 comunicações feitas por 24 instituições financeiras à SPA, resultando no encerramento de 255 contas ligadas a apostas irregulares;
● Notificação de 13 instituições de pagamento, levando ao fechamento de contas de 45 empresas envolvidas no mercado ilegal;
● 120 processos concluídos contra publicidade ilegal, com a remoção de 112 páginas de influenciadores e 146 publicações irregulares.
Outro marco foi o acordo firmado com o Conselho Digital do Brasil, que reúne gigantes da tecnologia como Google, Meta, TikTok, Kwai e Amazon. A parceria busca maior agilidade para derrubar anúncios irregulares e perfis que se passam por conteúdos orgânicos para driblar regras.
Crescimento do mercado de apostas no Brasil levanta debates importantes
O crescimento do mercado de apostas no Brasil levanta debates importantes. De um lado, há o potencial arrecadatório, que já se mostra significativo e tende a aumentar com a elevação da alíquota. De outro, surgem preocupações sociais, como o risco de endividamento, dependência e exposição de jovens a práticas de jogo.
O desafio do governo é encontrar o equilíbrio entre explorar o potencial econômico do setor e garantir proteção aos consumidores. Especialistas defendem maior investimento em campanhas de conscientização e programas de prevenção ao vício em jogos, além de uma regulamentação ainda mais clara sobre a publicidade do setor.
Mercado de apostas online em papel central na economia
Os números do primeiro semestre confirmam que o mercado de apostas online deixou de ser um nicho e passou a ocupar papel central no cenário econômico e regulatório brasileiro. Com bilhões movimentados e milhões de usuários ativos, trata-se de uma atividade que exige atenção redobrada do governo e da sociedade.
O sucesso da regulação dependerá da capacidade do Estado em assegurar transparência, combater a ilegalidade e usar os recursos arrecadados de forma eficaz. Ao mesmo tempo, caberá às empresas do setor adotar práticas responsáveis, fortalecendo a credibilidade de um mercado que, embora jovem, já se tornou gigante.