Embora a mídia frequentemente destaque diagnósticos de transtornos mentais, o foco maior é voltado para a população adulta, porém estudos mostram que estas condições, como ansiedade, TDAH, depressão e dificuldades de aprendizagem, impactam significativamente crianças e adolescentes no Brasil. Um estudo nacional realizado pela RSP, FSP e USP revelou que 30% dos adolescentes de 12 a 17 anos apresentam algum transtorno mental, sendo 38,4% entre meninas e 21,6% entre meninos.
Dados extraídos de pesquisa realizada em uma comunidade da periferia da Região Metropolitana de São Paulo apontam que até 24,6% das crianças e adolescentes de 6 a 17 anos apresentam problemas de saúde mental. Entre aqueles com prejuízo global de funcionamento, apenas cerca de 7% recebem tratamento, estimando-se que o sistema atende aproximadamente 14% da demanda (Lowenthal, 2021, Saúde Mental na Infância e Adolescência, SciELO Livros).
No âmbito internacional, meta-análises indicam que entre 13% e 14% das crianças e adolescentes têm algum transtorno mental, com a América do Sul dentro dessa faixa (Polanczyk et al., 2015, BioMed Central). Esses dados reforçam que a questão não é isolada: trata-se de um desafio relevante de saúde pública, com impacto direto na escolaridade, nas relações sociais e na qualidade de vida futura.
A psicóloga especialista em infância e adolescência, Andrea Beltran, alerta: “Muitos sintomas em crianças são interpretados como ‘birra’ ou fase, o risco é perder a janela de intervenção precoce que faz diferença no desenvolvimento.” Ela acrescenta que “a Psicologia não substitui o cuidado médico, quando necessário, mas complementa: atuamos no contexto familiar, nas rotinas diárias e no desenvolvimento de habilidades que reduzem recaídas e melhoram a adaptação escolar.”
O acesso ao cuidado especializado continua sendo um desafio, pois a capacidade de atendimento da rede pública é insuficiente, resultando em atrasos, maior risco de cronificação e custos elevados para crianças, famílias e sociedade.
Países e comunidades que investem em detecção precoce nas escolas, capacitação de professores e programas de intervenção psicológica apresentam melhora no prognóstico das crianças. No Brasil, a escola desempenha papel estratégico: professores preparados para identificar sinais de alerta, ambientes de apoio emocional, rotina equilibrada e comunicação entre família e escola são fundamentais. Andrea Beltran reforça: “Investir em detecção precoce nas escolas e na formação de professores é a forma mais eficiente de evitar que transtornos infantis se tornem crônicos na vida adulta”.
Para os pais e cuidadores, mudanças simples no dia a dia podem fazer diferença: observar alterações persistentes de humor, isolamento, recusa escolar ou sono alterado; limitar tempo de tela; manter rotina de sono; e incentivar diálogo aberto sobre emoções. Quando um transtorno é identificado, a intervenção psicológica inclui avaliação, terapia para regulação emocional, trabalho com a família e integração com tratamento médico, quando necessário. “Quando a Psicologia se envolve cedo, não estamos apenas controlando sintomas, estamos fortalecendo o desenvolvimento emocional, reduzindo impactos sociais e escolares e promovendo qualidade de vida”, destaca a psicóloga.
A atenção aos transtornos mentais na infância e adolescência é, portanto, um imperativo de saúde pública. Investir em diagnóstico precoce, suporte familiar, formação de professores e intervenção psicológica integrada não apenas melhora o desenvolvimento emocional e escolar das crianças, mas também reduz impactos sociais e custos futuros para a sociedade.

