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Saúde

Foto: Raiza Milhomem/Secom Palmas

Foto: Raiza Milhomem/Secom Palmas

Em 2025, o enfrentamento aos acidentes com animais peçonhentos ganhou um novo marco: a implementação no SUS de dois PCDTs (Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas) que orientam a prevenção e o cuidado em casos de acidentes escorpiônicos e ofídicos. A inovação responde ao contexto de aumento dos acidentes envolvendo animais peçonhentos no Brasil, que cresceram 16% de 2022 para 2023 segundo o Ministério da Saúde. 

Dos 341.806 casos registrados naquele ano, cerca de 234 mil foram de picadas de escorpiões e serpentes. Para apoiar usuários, profissionais e gestores do SUS na prevenção e manejo destas ocorrências, os protocolos consolidam recomendações baseadas em evidências científicas e no consenso de especialistas, fortalecendo a resposta clínica, a padronização dos cuidados e a vigilância em saúde.

Elaborados pelo Instituto Vértice, da Unifesp, para o Ministério da Saúde, os documentos já estão valendo em território nacional e representam a superação de uma lacuna de 24 anos. “Nós não tínhamos no SUS um documento específico e atualizado para orientar os profissionais que atendem aos pacientes que sofreram acidentes com estes animais”, destaca a diretora do Instituto Vértice, Daniela Melo, lembrando que o documento de referência anterior era o Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, de 2001. Desde então, algumas notas técnicas e orientações complementares foram elaboradas, mas a coordenadora-geral de Cooperação e Projetos em Saúde do instituto, Bruna Bento, ressalta que “a ausência de um documento único e consolidado evidenciava a necessidade de reunir, em um formato estruturado e atualizado, as recomendações clínicas, os fluxos de cuidado e as estratégias de vigilância”. 

Acidentes com escorpiões aumentam frente às mudanças climáticas

Os acidentes escorpiônicos são o agravo mais notificado entre os acidentes por animais peçonhentos no Brasil e têm elevado potencial de morbimortalidade, principalmente em crianças de dez anos ou menos de idade. Mais de 1,7 milhão de casos foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) entre 2001 e 2022. Desde que a notificação destes acidentes foram tornadas compulsórias no SUS, em 2010, os registros aumentaram aproximadamente 229% até o ano de 2022. 

“O crescimento expressivo do escorpionismo está fortemente relacionado a fatores ambientais e urbanos. A rápida adaptação das espécies ao ambiente doméstico, somada à urbanização desordenada e às mudanças climáticas, favorece a proliferação e o contato com humanos”, alerta Bruna. 

Serpentes matam mais mulheres idosas, indígenas e populações ribeirinhas

Já os acidentes ofídicos integram a lista de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobretudo por sua distribuição desigual e pelos determinantes sociais e ambientais que aumentam as chances de agravo e morte. Em 2023, o Brasil registrou mais de 32 mil casos, tendo a região Norte como a mais afetada. Embora representem cerca de 9,5% do total de acidentes por animais peçonhentos (atrás de escorpiões e aranhas), a gravidade do envenenamento e o risco aumentado de complicações severas no caso dos acidentes ofídicos intensificam os desafios do enfrentamento a este problema de saúde pública.  

Os acidentes atingem majoritariamente homens jovens, trabalhadores rurais e negros. Já a maior letalidade se concentra entre mulheres idosas, indígenas e populações ribeirinhas, e reforça a vulnerabilidade de grupos que enfrentam barreiras culturais e geográficas no acesso oportuno ao cuidado.

“Além de tudo isso, o aumento da incidência em determinadas áreas reflete o impacto de fatores ambientais e econômicos, como o avanço do desmatamento, as mudanças climáticas e a intensificação das atividades agropecuárias, que ampliam a interação entre humanos e serpentes”, reforça a pesquisadora do Instituto Vértice.

Orientações de prevenção e primeiros-socorros

Além dos PCDTs de acidentes ofídicos e acidentes escorpiônicos, disponíveis no site da Conitec do Ministério da Saúde, o Instituto Vértice elaborou ainda materiais educativos sobre o que fazer – e o que não fazer – diante de uma picada por serpente ou escorpião, além de dicas para evitar os acidentes.

Os PCDTs incentivam, ainda, o letramento em saúde sobre acidentes com animais peçonhentos, o reconhecimento do papel da equipe multiprofissional no manejo desses agravos e a valorização do trabalho dos agentes comunitários de saúde, agentes de combate às endemias e agentes indígenas de saúde, cuja atuação é decisiva para a prevenção, identificação precoce e encaminhamento adequado dos casos. (Instituto Vértice Unifesp)