A política brasileira atingiu um novo nível de degradação. A pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo do Ceará, com a presença de figuras da direita nacional e o protagonismo dado a Michelle Bolsonaro, expõe esse processo em que os “Tiriricas” da política ganharam visibilidade.
Michelle Bolsonaro, sem trajetória política consistente, sem formação superior, sem experiência administrativa e sem reputação pública consolidada, é agora tratada como personagem relevante no cenário eleitoral. Sua presença em eventos políticos não se sustenta por ideias, projetos ou realizações, mas apenas pela condição de esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O que deveria ser um espaço de debate qualificado e de construção de propostas para enfrentar os graves problemas sociais e econômicos do país, transforma-se em palco para figuras que representam mais o marketing político do que a verdadeira prática cívica. A política, reduzida a espetáculo, abre mão da seriedade e da responsabilidade que deveria carregar.
Veja só a que ponto chegou essa coisa sórdida chamada política: Michelle Bolsonaro é agora tratada como personagem política.
É lamentável ver um senador da República, eleito para representar os interesses do povo, submeter-se ao apoio de alguém cuja relevância política é meramente simbólica. Esse tipo de aliança revela não apenas oportunismo, mas também a fragilidade de um sistema que privilegia a visibilidade sobre a competência.
A política deveria ser encarada como serviço público de duração limitada, voltado ao bem comum. Quando se transforma em carreira de poder e privilégios, abre espaço para personagens sem preparo, sem projeto e sem compromisso real com a sociedade.
O Brasil precisa urgentemente resgatar a dignidade da vida pública. Enquanto figuras sem consistência ocuparem espaço central, estaremos cada vez mais próximos do fundo do poço.
*Júlio César Cardoso é servidor federal aposentado.

