A condenação e prisão de militares por tramas golpistas revelam uma questão emblemática: como oficiais de alta patente se deixaram seduzir pelos desatinos de um ex-capitão indisciplinado, praticamente expulso do Exército?
Tudo indica que a rejeição histórica pelos militares ao Partido dos Trabalhadores (PT), simbolizado na figura controversa de Luiz Inácio Lula da Silva — que derrotou Bolsonaro nas urnas de forma democrática — tenha contribuído para tal.
Apelidado de Cavalão na caserna, Bolsonaro fez da política um meio de vida, limitando-se a defender militares. Em três décadas como parlamentar, Bolsonaro não teve aprovado nenhum projeto relevante de sua autoria, mas abriu espaço na política para que familiares, ex-esposas e atual vivessem das benesses públicas.
Durante a pandemia, desprezou milhares de vítimas, debochando que não era “coveiro” e esquiava em Santa Catarina com os seus aliados.
Aceitou presentes em dinheiro, via Pix, e joias sem ver irregularidade, acumulando patrimônio expressivo apenas com a vida pública.
A adesão de generais a um líder tão marcado pela indisciplina expôs a vulnerabilidade das Forças Armadas à lábia de um ex-capitão.
A tornozeleira eletrônica violada não encontra semelhança nem entre os bandidos mais perigosos e tornou-se símbolo de sua afronta à Justiça e da disposição em tensionar os limites institucionais.
A história mostra exemplos semelhantes: Hitler convenceu militares a seguir ordens tresloucadas. O caso brasileiro repete o padrão — oficiais que comprometeram sua idoneidade ao se deixar levar por um líder de vocação autoritária.
Os militares condenados e presos poderiam estar gozando a liberdade com suas famílias. Agora, por seguirem um desvairado, perderam não apenas os prazeres da vida, mas também a honra que juraram defender.
Em resumo: a tornozeleira não foi apenas um objeto danificado: tornou-se símbolo de uma conduta que afronta a Justiça e confirma a disposição de Bolsonaro em tensionar os limites institucionais. Como ironizou a voz popular: “Depois de Jesus da Goiabeira, agora as vozes da tornozeleira”.
*Júlio César Cardoso é servidor federal aposentado.

