ACM, 79, morreu "em decorrência de falência de múltiplos órgãos secundária à insuficiência cardíaca", disse a assessoria de imprensa do hospital.
Na quinta-feira, de acordo com a agência Reuters, o político sofreu uma parada cardíaca. Nos últimos tempos, sofria de maneira intermitente as conseqüências do infarto de 1989.
O ex-presidente do Senado Federal e, por conseqüência, ex-presidente do Congresso Nacional, havia sido internado no dia 13 de junho para tratar de problemas cardíacos e renais.
O senador já havia sido hospitalizado outras vezes neste ano, apresentando quadro de insuficiência cardíaca. Em março, ele esteve internado com quadro infeccioso decorrente de pneumonia e disfunção renal.
O corpo de ACM será velado no Palácio da Aclamação, e o enterro vai ser realizado no cemitério Campo Santo, ambos em Salvador.
Apesar de enfrentar o ocaso em seus últimos momentos -seu grupo político, que manteve o poder por quase duas décadas na Bahia, foi derrotado nas eleições de outubro de 2006 -, Antonio Carlos Peixoto de Magalhães foi um dos mais influentes nomes do cenário político brasileiro nas últimas quatro décadas, e manteve-se como força atuante em governos dos mais variados matizes ideológicos, desde o regime militar instituído em 1964.
Nascido em 4 de setembro de 1927 e médico por formação, ACM pode ter seu ingresso na vida política atribuído à atuação como líder estudantil, primeiro no ginásio e depois na Universidade Federal da Bahia, onde foi presidente do Diretório Central de Estudantes.
Filiado à UDN (União Democrática Nacional), foi eleito deputado estadual em 1954 e por três vezes deputado federal, em 1958, 1962 e 1966. Em 1967, já vinculado à Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação ao governo militar, assumiu o cargo de prefeito da capital de seu Estado, Salvador.
Em seguida, ACM exerceu o cargo de governador da Bahia em três oportunidades. Os dois primeiros mandatos, por indicação do regime militar, foram de 1971 a 1975 e de 1979 a 1983. O terceiro viria pela escolha popular, em eleições diretas, de 1991 a 1994.
Esteve ainda à frente da Eletrobras (Centrais Elétricas Brasileiras S.A), em 1975, nomeado pelo então presidente da República Ernesto Geisel, e do Ministério das Telecomunicações, durante o governo de José Sarney.
Em 1994, foi eleito para a primeira legislatura como senador pelo Estado da Bahia. Presidiu a Casa entre 1997 e 2001. Em 30 de junho de 2001, durante as investigações sobre sua conduta no episódio da quebra do sigilo do painel eletrônico do Senado, viu-se obrigado a renunciar ao mandato, em uma estratégia para manter os direitos políticos e retornar ao circuito nas eleições do ano seguinte.
O principal revés de ACM, no entanto, ocorreu em 21 de abril de 1998, com a morte de seu filho, o deputado federal Luís Eduardo de Magalhães, vítima de um infarto aos 43 anos. Além da perda pessoal, a morte de Luís Eduardo, que era mais calmo e ponderado do que o pai e tinha bom trânsito junto a praticamente todos os partidos, representou também um golpe nas pretensões de continuidade de seu clã na política.
Polêmico e conhecido nacionalmente como "Toninho Malvadeza", apelido cunhado por seus adversários, Antônio Carlos Magalhães manteve-se ativo e teve seu campo de influência renovado com as eleições de 2002, quando foi eleito novamente ao Senado. Ele ainda contribuiu para a chegada do aliado Paulo Souto ao governo da Bahia, e de Antonio Carlos Magalhães Neto à Câmara Federal.
Em 2003, ACM esteve envolvido em novo escândalo. Dessa vez, foi acusado de utilizar a estrutura da Secretaria de Segurança Pública da Bahia para realizar escutas telefônicas ilegais contra seus desafetos políticos. Após a abertura de inquérito pela Polícia Federal e da denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República, o caso acabou arquivado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Nas eleições de 2006, foi duplamente derrotado. Nacionalmente, seu candidato Geraldo Alckmin não conseguiu impedir a reeleição de Lula; regionalmente, ACM viu o aliado Paulo Souto perder um novo período à frente do governo estadual baiano, ainda no primeiro turno, para o petista Jaques Wagner.
Com sua morte, aos 79 anos, ACM será substituído pelo filho, Antonio Carlos Magalhães Júnior, que assume a vaga como suplente durante o restante do mandato no Senado, até 2011.
Carlismo
Carlismo: corrente política dos seguidores de Antonio Carlos Magalhães. A definição do verbete não consta em nenhum dicionário oficial da Língua Portuguesa. Mas a expressão, de tão popular, transformou-se em sinônimo do poder do mais influente político baiano: ACM.
O predomínio local do carlismo teve sua ascensão em 1990, quando ACM foi eleito governador da Bahia pela terceira vez e passou a ditar as regras na política estadual. Quatro anos antes, o atual ministro Waldir Pires (Defesa) havia derrotado o jurista Josaphat Marinho, apoiado por ACM.
A partir de 1990, candidatos que venceram eleições ao governo da Bahia tiveram o apoio de ACM --Paulo Souto (1994 e 2002) e César Borges (1998), ambos do ex-PFL atual DEM. Além disso, o grupo carlista também monopoliza vagas da Bahia para o Senado desde 1994.
Em 2001, a força do carlismo se espalhou por toda a Bahia. Das 417 prefeituras do Estado, 395 apoiavam o então governador César Borges, afilhado de ACM.
O carlismo sofreu sua maior derrota em 2006, quando Paulo Souto perdeu o governo para Jaques Wagner (PT). Na ocasião, ACM chegou a criticar àqueles que decretavam o fim do carlismo. "Vocês verão o desastre que será o governo baiano e a volta triunfal do carlismo na Bahia. O carlismo é uma legenda que não se apaga, queiram ou não os cronistas políticos", disse ACM.
A influência do carlismo também rompeu as fronteiras da Bahia e chegou ao Palácio do Planalto. Depois assumir o Ministério das Comunicações no governo do presidente José Sarney (1985-1990), ACM manteve sua influência na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Reportagem publicada na Folha em 2001 revelou que ACM tinha 29 afilhados políticos em postos importantes da máquina federal no governo FHC.
Apesar de ser tradicional adversário do PT, ACM manteve a influência do carlismo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em maio de 2003, no início do primeiro mandato de Lula, ACM demonstrava seu prestígio ao indicar nomes para pelo menos 14 cargos relevantes em órgãos do governo federal.
Da redação com informações da Folha Online