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Campo

e está fazendo. Trocaram o uso da lenha nativa do cerrado pela casca de arroz na produção da cerâmica vermelha.

Com a consciência de que o segmento em que atuam é responsável por uma grande parte da emissão de gás carbônico na atmosfera, os empresários locais têm desenvolvido, com o apoio de instituições parceiras, políticas de gestão ambiental visando à otimização do processo produtivo e à minimização dos impactos ambientais decorrentes da atividade.

O trabalho com os empresários teve início em 2005, por meio do Instituto Ecológica e do Sebrae. O projeto, que contou inicialmente com 16 empresas, foi desenvolvido em três etapas. Na primeira, realizou-se um diagnóstico ambiental das áreas impactadas por empresas ceramistas. Na segunda etapa, foi realizada a capacitação ambiental para empresas inseridas no Arranjo Produtivo da Cerâmica Vermelha. Na terceira, realizou-se um segundo diagnóstico voltado para a regularidade ambiental das empresas ceramistas participantes do projeto.

Após o diagnóstico inicial, o Instituto Ecológica elaborou duas metodologias a serem trabalhadas com as empresas ceramistas. Primeiramente propôs a retirada da casca de arroz do meio ambiente. O resíduo descartado pelas indústrias beneficiadoras de arroz, ao se decompor de forma natural, produz o metano, gás considerado 21 vezes mais poluidor que o gás carbônico. Em seguida, foi proposta a troca de uma matéria-prima não-renovável por uma renovável. Ou seja, substituir a madeira nativa do cerrado pela casca de arroz.

"A idéia do projeto é reduzir o desmatamento e a emissão de gases poluentes no ar, resolver o problema do descarte da casca do arroz, que até então não tinha destinação, e buscar novas matérias-primas com baixo custo de adaptação, que possam substituir a madeira nativa no processo da queima da cerâmica", explica o gerente do Núcleo Regional do Sebrae em Tocantins, Fernando Ruiz.

O projeto traz diversas vantagens para o processo produtivo da indústria ceramista como: mais eficiência e economia; menos vulnerabilidade a mudanças econômicas; dispensa reposição florestal; é renovável, possibilitando a sustentabilidade da empresa; diminui a emissão de gás carbônico na atmosfera; o empresário passa a mostrar para seus clientes que sua empresa tem responsabilidade ambiental; segurança quanto ao suprimento futuro; e poderá gerar receita com créditos de carbono.

Responsabilidade que gera produtividade

Inseridas no projeto, as empresas ceramistas passaram a produzir de forma ecologicamente correta. Com isso, elas passaram também a obter créditos de carbono, que são bônus negociáveis adquiridos por empresas de países que conseguem se manter abaixo da média de emissão de gases poluentes, estabelecida por agências de proteção ambiental reguladoras.

As empresas, a maioria de países desenvolvidos, que não cumprem essas metas de redução progressiva estabelecidas por lei, têm que comprar certificados das empresas mais bem-sucedidas. Ou seja, a empresa que não extrapolou sua média estabelecida de emissão de gases, pode negociar a porcentagem (créditos de carbono) que ficou faltando para completar sua média, com empresas de outros países que extrapolaram ou vão extrapolar sua média.

Os créditos são cotados em dólar e euros. Atualmente, uma tonelada de poluentes equivale a cinco euros. No que se refere às empresas ceramistas de Tocantins que participam do projeto, o campo de negociação desses créditos de carbono são via mercado voluntário ou Protocolo de Kyoto.

Experiências de sucesso

Uma das experiências consideradas bem-sucedidas do projeto é a empresa Cerâmica Reunidas Ltda., que aderiu à substituição da lenha nativa como fonte de energia. Anteriormente à mudança, a empresa consumia em média 900 m³/mês de madeira do cerrado. Essa madeira custava em média para a empresa cerca de R$ 12 mil por mês.

Para substituir a madeira pela palha de arroz, foi necessário fazer algumas mudanças, como alterações na estrutura dos fornos e capacitações dos funcionários para a utilização da nova tecnologia. "Hoje, 80% da queima da cerâmica produzida pela minha empresa são feitos com a casca de arroz. A produção só não está 100% sendo feita no novo processo porque estou tendo dificuldades para adquirir a casca de arroz, mas, em breve, esse problema estará resolvido", afirma o proprietário da empresa, Edilberto da Silva Rocha.

As mudanças foram muito pequenas se comparadas com o tamanho dos ganhos ambientais obtidos. Aproximadamente quatro hectares/mês de cerrado deixaram de ser queimados. Há um aproveitamento de 190 toneladas/mês do resíduo, palha de arroz. E, claro, houve uma redução na emissão de gás carbônico no ar. A empresa antes de participar do projeto emitia cerca de 13.396 toneladas do gás. Hoje, esse número caiu expressivamente para 75 toneladas. Resultado: com o projeto, a empresa passou a emitir menos 13.321 toneladas de gases tóxicos na atmosfera.

Próximos passos

O gerente Fernando Ruiz explica que o Sebrae, juntamente com o Instituto Ecológica, já está fazendo um diagnóstico de outras 65 empresas ceramistas do Estado. O levantamento irá medir a produção destas empresas e verificar quais as oportunidades existentes para se fazer um projeto de gestão ambiental, com foco na redução da emissão de monóxido de carbono.

"Durante o diagnóstico, vamos continuar buscando matérias-primas locais e que tenham baixo custo de implantação para as empresas. A madeira pode ser substituída, não só pela casca de arroz, como também pelo coco babaçu, coco verde, entre outras matérias-primas", explica o gerente.

Agência Sebrae