A maior e mais complexa floresta tropical do planeta e seus ecossistemas podem estar com a morte decretada para um futuro não tão distante como se previa e mais próximo do que se imaginava.
Entre 50 e 100 anos tudo poderá se transformar numa fina areia desértica, inóspita, engolindo não só quase 50% do território brasileiro, mas boa parte dos outros sete países e uma colônia que compõem a panamazônia.
Pela primeira vez a ciência mostra que a sua sobrevivência depende dos contornos e conseqüências do aquecimento global. Mercado de crédito de carbono, fundos destinados a reduções compensadas de emissões, ações para minimizar o impacto da indústria sobre o meio ambiente e as campanhas preservacionistas podem dar em nada.
Para o conceituado cientista inglês, membro do IPCC, James Lovelock, o planeta chegou a um ponto sem retorno. O mal está consolidado e a questão é de tempo para que o fim da estabilidade climática dos últimos 70 mil anos apresente seu lado mais agressivo.
A percepção de Lovelock, para muitos de seus colegas, é nefasta demais. Embora ninguém discorde que o processo de mutação climática já se iniciou, restam alternativas para o aquecimento global em níveis suportáveis para a manutenção da vida. E isso passa por ações urgentes na conservação e recuperação da Amazônia.
O cientista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, órgão do Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, José Marengo, como integrante do IPCC faz alertas dramáticos para intervenções urgentes na proteção da floresta.
"A idéia é reduzir a todo custo o desmatamento e a emissão dos gases do efeito estufa."
Entender a aflição do pesquisador é crucial para qualquer nação. A Amazônia não é e nunca foi o pulmão do mundo, como se apregoou por muito tempo. Seus índices de emissão de dióxido de carbono, oxigênio e de outros gases são seqüestrados pela própria floresta, numa atividade equilibrada e precisa. Mas ela pode ser considerada o coração terrestre, pois consegue reger sistemas ligados a circulação atmosférica, como regimes de chuva e de ventos do globo.
A Amazônica também é vítima de incertezas e descrédito. Apesar da ótima reputação no exterior, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sentiu o gosto amargo dos paradoxos, em novembro passado, na 12 Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança do Clima (COP-12) em Nairóbi (Quênia).
Na ocasião, a ministra propôs a criação de um mecanismo de incentivos, em forma de investimentos em um fundo para países em desenvolvimento que efetivamente reduzirem as emissões de gases com o combate ao desmatamento. Isso com o governo federal encabeçando uma campanha mundial pelo biocombustível brasileiro e a ameaça desse novo cultivo se tornar mais um predador da floresta.
O projeto apresentado por Marina Silva foi criado por três organizações não-governamentais (ONGs) com o nome "reduções compensadas". O máximo que ela conseguiu foi um silêncio absoluto na sala de conferências, a qual reunia mais de 180 nações, e a promessa da direção do evento de analisar o tema.
Papua Nova Guiné, Costa Rica e Indonésia apresentaram projetos muito semelhantes e, ao contrário do Brasil, foram contemplados pelo Banco Mundial. A criação desse tipo de fundo é uma incógnita até mesmo para os cientistas mais inteirados sobre a situação.
"Não sabemos como essas agriculturas vão se comportar em relação à floresta", comentou o cientista do Inpe Gilvan Sampaio.
O diretor da empresa especializada em créditos de carbono Metacortex, Renato Giraldi, mostra preocupação. Acredita que a criação de fundos como o proposto pelo Brasil está longe de ser rentável.
"A questão é que isso não é rentável para nenhum fundo de investimento, ninguém pode assegurar que, além do tempo de maturação da árvore, o montante plantado ou já existente será mantido. Há uma grande desconfiança do investidor estrangeiro sobre o Brasil, destacou.
Ambiente Brasil