Inspirado nas idéias do norte-americano Thomas Kuhn (1922-1996), um dos mais influentes historiadores e filósofos da ciência, Francisco (Xico) Graziano Neto, secretário de Estado do Meio Ambiente, aponta que "a ciência tende a se tornar conservadora à medida que os pesquisadores constroem paradigmas de pensamento que se perpetuam no tempo e dificilmente são rompidos".
A opinião do secretário foi exposta na palestra de abertura do 58º Congresso Nacional de Botânica, na segunda-feira (29/10), em São Paulo. Segundo ele, os paradigmas científicos, apesar de surgirem de idéias originais que unem os pesquisadores em torno de uma mesma teoria ou metodologia, também podem limitar, em vez de consolidar o conhecimento.
"Com a realização de estudos que criam teorias inovadoras, os paradigmas começam a aprisionar os cientistas. Isso ocorre principalmente quando, nas universidades brasileiras, os paradigmas são transformados em manuais que são utilizados por várias gerações, muitas vezes sem levar em conta a evolução da ciência. Se não tomarmos cuidado, as pesquisas tendem não apenas a ficar conservadoras como também a perder "criatividade", afirmou.
Para Graziano, esse aprisionamento em modelos antigos limita a ousadia dos pesquisadores pela busca de novos saberes em linhas inovadoras. "É claro que temos que considerar teorias que ajudam a sedimentar as pesquisas, mas elas nem sempre levam a novas descobertas", apontou.
Engenheiro agrônomo e ex-professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal (SP), Graziano destacou que, uma vez que os paradigmas científicos estão em constante modificação, encontros como o Congresso Nacional de Botânica "são essenciais para motivar os jovens pesquisadores a descobrir o valor do novo".
A necessidade de rompimento com essa "dinâmica conservadora da ciência", segundo ele, também é assunto recorrente nos trabalhos de gestores da Secretaria do Meio Ambiente e de membros de institutos de pesquisas a ela vinculados. "Fazer a gestão pública da pesquisa científica é extremamente complexo, uma vez que os governos são temporários enquanto a ciência é permanente", disse.
Da redação com informações Agência Fapesp