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Opinião

Principalmente no advento de saída e retorno das férias escolares, pois estudávamos em Fortaleza. E quando tinha festa em Aurora era o nosso principal meio de transporte. Neste dia era lotação certa.

Os horários variaram muito. De início saia pela madrugada de Crato com destino a Capital Cearense. Depois mudou. Passou a pegar o trilho por volta das treze ou quatorze horas. Se eu não me engano, este foi o último horário estabelecido pela RFFSA para este percurso. Com certeza, também foi o melhor para nós que sempre nos deslocávamos para os festejos em Aurora. Daí, pegávamos o retorno pela madrugada, vindo de Fortaleza, por volta das cinco horas da manhã, já nos "finalmente" da festa.

De Crato até Aurora interpunham-se as estações de Juazeiro do Norte, Missão Velha e Ingazeiras. Entre elas tinham algumas paradas obrigatórias. Destas, lembro-me somente da parada de Várzea Redonda. Ela fica entre Aurora e Ingazeiras. Nela tive a satisfação de embarcar por diversas oportunidades. Aliás foi aqui nesta parada que, no final dos anos 60, tive o prazer de conhecer o trem de ferro.

O transporte ferroviário era, naquele tempo, o mais em conta. Mesmo assim, para economizar e gastar no próprio refeitório do trem, em algumas ocasiões, driblávamos o cobrador, e não pagávamos a passagem, ou liquidávamos de uns e de outros não, pois era muito fácil fazer isto. De outra vez eu conto como fazíamos para despistá-lo. Além do mais a viagem era uma maravilha. Trafegávamos sempre em família e, freqüentemente íamos no restaurante tomando uma cervejinha, beliscando alguma coisa, conversando e, dependendo da sorte, "ficando" como se fala hoje em dia.

Havia um vagão preparado para servir de restaurante, completo de tudo. Tinha garçom, geladeiras, cadeiras, etc., prontinho para curtirmos aquela aventura com tranqüilidade. Sacolejava muito e eventualmente tínhamos que agarrar o que estava sobre a mesa. A gente já era tão conhecido, que tinha "cadeira cativa". O bom é que, aqui e acolá, sobrava uma garota e a gente "lavava a égua". Bebíamos e comíamos, ao mesmo tempo, até chegar à estação final.

Geralmente embarcávamos em Juazeiro do Norte. Outras vezes em Aurora. A primeira estação, quando tomávamos o trem de ferro na Terra do Padre Cícero, era Missão Velha. Aqui começavam as comilanças. Saboreávamos a melhor macaxeira do Ceará. As pessoas comentavam que esta era cultivada dentro do cemitério local motivo daquele sabor inigualável.

Entre Missão Velha e Ingazeiras, já próximo desta, ocorria um fato curioso e pitoresco. Havia um garoto que, trajando-se de Chefe de Estação, a caráter mesmo, logo que notava a aproximação do comboio, vindo de qualquer direção e em qualquer horário, tocava um sino, semelhante ao que se fazia nas estações ferroviárias quando da partida e da chegada dos trens.

Outro fato que merece registro era o momento que o trem passava nas demais estações de seu percurso. Nas cidades pequenas como Cedro, Piquet Carneiro, Capistrano, Lavras da Mangabeira, e todas as demais do mesmo porte, esta ocasião era muito festejada. Todos se reuniam para prestigiar. Eu mesmo não perdia uma passagem de trem. Era muito divertida esta ocasião.

Esse meio de transporte jamais deveria ter encerrado suas atividades no Nordeste Brasileiro. Era de baixo custo e de alto impacto sócio-econômico. Muitos o usavam para transportar pequenos animais, quantidades inexpressivas de mercadorias. Lembro-me que na estação de Juazeiro do Norte tinha até uma pequena feira livre nas chegadas e partidas dos trens de passageiros. Era um verdadeiro Mercado Persa. Ali se encontrava de tudo. Podia-se procurar que se encontrava até bainha prá foice. "Do penico à bomba atômica" esta seria o anúncio mais apropriado.

No entra e sai, no desce e sobe das várias estações, fazíamos novas amizades e revíamos velhos amigos e companheiros. Além de alavancar o comércio com suas trocas e vendas de mercadorias as mais diversas e extravagantes possíveis, o trem de ferro sobre os trilhos de aço, num vai e vem apressado e impaciente, também construía muitos amores e paixões, e alavancava muitas esperanças e desilusões.

José Arimatéia de Macêdo & outras mãos...

Médico