O ex-capitão do Exército e atual prefeito de Curionópolis (PA), Sebastião Rodrigues de Moura (PMDB), mais conhecido por "Curió", e que atuou no combate à Guerrilha do Araguaia, está voltando à cena com informações bombásticas sobre os desaparecidos políticos da ditadura. Dessa vez para afirmar que a ossada identificada em 1996 pela equipe do legista Fortunato Badan Palhares, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não pertence à professora Maria Lúcia Petit da Silva, morta em junho de 1972 no Araguaia e até agora a única dos 58 guerrilheiros desaparecidos identificados. Curió disse ao Jornal do Brasil que enterraram a pessoa errada e que ele sabe onde está o corpo da verdadeira guerrilheira.
Palhares afirmou ontem que Curió é mais um que quer mexer em feridas para aparecer. "Isso que ele está fazendo pode levar mais dor para a família, fazer com que peça exumação do corpo, teste de DNA, enfim, fazer o processo começar, desnecessariamente, tudo de novo", afirmou. A família, no entanto, não vai pedir a exumação. A irmã de Maria Lúcia, Laura Petit da Silva, disse que a família tem certeza que a identificação feita na Unicamp está correta e não tem qualquer dúvida sobre isso. "Se ele diz que sabe onde o corpo está enterrado, então que mostre o local, mas também mostre o lugar onde estão todos os outros desaparecidos", afirmou Laura. A família Petit, que teve três de seus filhos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, ainda espera localizar os corpos de Jaime e Lúcio, também ex-militantes do PCdoB.
Curió contou que tem o registro de nomes, circunstâncias de morte e destino de 59 guerrilheiros e que entregou toda a documentação que as Forças Armadas dizem ter sido destruída (mas que foi guardada por ele) a um jornalista que deve lançar, em agosto, um livro sobre a guerrilha, utilizando as revelações de Curió. Segundo ele, os 59 foram executados.
Na entrevista ao jornal carioca, ele admitiu que ordenou a retirada dos corpos das sepulturas e mandou enterrar em locais diferentes, cujas informações estão registradas em relatórios sigilosos e mantidos em segredo entre ele, poucos militares e guias de sua estrita confiança.
No caso de Maria Lúcia, no entanto, a família considera as afirmações do ex-capitão sem sentido. "Além de outros elementos que ajudaram a confirmar a identidade da ossada, nós tivemos a identificação da arcada dentária", afirmou. Em 1996, o dentista da cidade de Duartina Jorge Tanaka e o protético Benedito Bueno de Moura reconheceram, como sendo de Maria Lúcia, uma coroa total no segundo dente molar inferior direito, encontrada junto com fragmentos de ossos exumados em 1991, no Cemitério de Xambioá, em Tocantins. Eles não tiveram dúvidas em afirmar que aquela coroa foi feita por eles em 1967, em Duartina, quando Maria Lucia fez tratamento dentário.
Além de reconhecer a coroa do segundo dente molar, outro elemento forneceu aos dentistas a confirmação de que o material analisado era de Maria Lúcia. Dias antes de morrer, conforme o relato de sua cunhada Regilena Carvalho Leão de Aquino, Maria Lúcia fraturou a parte vestibular do pré-molar esquerdo comendo uma noz. A fratura também estava presente no material analisado. Para possibilitar essa análise, já que o material recolhido era composto por um fragmento de mandíbula e de dentes soltos, o odontologista do extinto Departamento de Medicina Legal da Unicamp, Antonio Carlos Cesaroni Monteiro, reconstruiu a arcada dentária com os dentes encontrados e substituiu por artificiais os que faltavam.
Fonte: Agência Anhangüera