Em entrevista concedida ao Jornal opção o prefeito de Palmas, Derval de Paiva (PMDB) disse que vai desenvolver um trabalho junto ao peemedebismo para mostrar que este partido sempre esteve, historicamente, ligado ao grupo de partidos que compõe a Força do Povo, coligação que busca a reeleição do prefeito lincenciado Raul Filho (PT).
Segundo Derval este trabalho será feito pela sua pessoa enquanto cidadão que não se confunde com o prefeito. Para ele uma multidão de peemedebistas autênticos o acompanhará nesta jornada. Ainda segundo Derval a Aliança da Vitória acabou sendo nociva aos interesses históricos do PMDB.
Confira a entrevista
O senhor assume a administração da prefeitura da capital por três meses, no mínimo. Quais os seus planos para este período?
Na verdade, não tem de inventar nada. É tocar pra frente todo esse acervo de programas e obras que está em marcha. Tenho consciência de que estarei também numa hora política muito importante. Dentro dos limites impostos pela lei e da cautela que todo administrador tem que ter com a Lei de Responsabilidade Fiscal, a minha ação será muito voltada para o campo político. O Derval está mais na frente política. Não estou aqui apenas para cumprir meu dever constitucional, e sim dar continuidade ao bom trabalho que Raul Filho vem realizando nesta cidade que tanto amamos.
O que significa estar mais na frente política?
É desenvolver um trabalho junto ao peemedebismo, corrente sangüínea, para mostrar que este partido sempre esteve, historicamente, ligado ao grupo com o qual ele está se aliando agora (PT e partidos de centro-esquerda), pelo menos a ala à qual pertenço.
Por que o PMDB não chegou a um acordo com o PT não só em Palmas como em outras cidades? O processo foi mal conduzido?
O processo ficou engessado. Na verdade, a pasta política do governo não atentou para isso ou, se atentou, não teve autoridade ou competência de convencer o governo de que esta era a virtual receita, era o melhor norte, o caminho mais viável. E, por outro lado, a apatia em cima de uma figura muito interessante que foi criada aqui, que é o grupo aliado à Aliança da Vitória, mas que acabou sendo nociva aos interesses históricos que o PMDB sempre encetou desde a sua criação.
Como será esse trabalho político que o senhor pretende desenvolver até o dia 5 de outubro?
Não podemos confundir a figura do prefeito com a do cidadão Derval. O prefeito vai dar seqüência a todos os projetos em andamento, mas o cidadão vai estar no campo político. É possível sim tocar o sino e acompanhar a procissão ao mesmo tempo.
Com o PMDB dividido em Palmas, não vai complicar o quadro político para a sucessão em 2010? A Aliança da Vitória não estaria já esfacelada? O DEM não saiu ganhando espaços com essa defecção?
O PMDB sempre foi um partido com duas frentes. Toda vida, desde o tempo em que existia o bipartidarismo, com os autênticos e os moderados. Eu pertencia ao grupo dos autênticos. Está aí a história para provar e, autenticamente, continuo na mesma posição e entendendo sempre que vai ter frentes opostas a ela. E essa frente da qual faço parte está historicamente ligada aos partidos mais à esquerda, porque fomos nós que combatemos a ditadura, o grupo autêntico combateu, no seu passado, à ditadura. Estamos do lado oposto de qualquer coisa que se assemelhe à ditadura.
O que o levou a decidir pelo apoio à reeleição do prefeito Raul Filho?
Estarei na campanha de corpo e alma, com consciência de que estou fazendo o melhor possível dentro de meu espírito de coerência. A escolha do governador e de uma ala do PMDB pela candidatura da deputada democrata não agradou aos peemedebistas históricos. Portanto, devido à minha autenticidade e à minha coerência, não tive outra alternativa senão apoiar a reeleição do prefeito. Acredito no trabalho do Raul, por quem tenho amizade, e depois que o partido optou por não ter candidatura própria, resolvemos manter a coerência e ficar com ele.
Quais os peemedebistas que vão seguir o sr. nesta empreitada?
Esta estatística eu ainda não tenho, mas será uma multidão de peemedebistas autênticos. Não citarei nomes, porque, citando alguns, posso omitir outros. Mais na frente o eleitorado de Palmas e do Estado vai saber. [O deputado Eli Borges, que participou da solenidade e foi muito aplaudido, com a sua presença na cerimônia, deixou implícito o seu apoio a Raul. O deputado Moisés Avelino também deve seguir o mesmo rumo, entre outros nomes de peso.] Mas é uma legião de peemedebistas que não abre mão de seus princípios. É o sangue da democracia mesmo, da anti-petulância, do anti-mandonismo e anti-autoritarismo.
O PMDB não vai ficar fragilizado para a sucessão governamental daqui a pouco mais de dois anos?
É difícil fazer previsões para um pleito que ainda está distante. É preciso observar um pouco mais o andar da carruagem. Nestse momento, poderia lembrar as eleições de 2004. Pergunto: se nós não tivéssemos ganhado a eleição com Raul Filho em Palmas; com Arnaud Bezerra, em Paraíso; com Paulo Mourão, em Porto Nacional; entre tantas outras vitórias, o governador Marcelo Miranda teria campo para vir para onde ele veio? Ele só pôde porque nós criamos uma situação dessas. Eleições para 2010 ou 2012 já são outras situações políticas, que devem apresentar muitas nuances que vão acontecer e que, naturalmente, deverão ser observadas. Na época, vamos tomar a decisão que acharmos mais coerente e acertada. Agora, nós estamos agindo corretamente. E o peemedebismo já marcou sua posição em todas as eleições.
O licenciamento de Raul Filho pode ser considerado como uma grande sacada política?
Raul deve ser aplaudido por isso. Por dois fortes motivos: primeiro, é para dizer que não faz exercício da máquina administrativa em benefício de sua campanha eleitoral. Ele está fora da gestão para desempenhar o seu trabalho. A aminha presença aqui está dividida em dois. Uma é o prefeito em exercício cumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal e a outra é o cidadão político, trabalho que vou desenvolver até as 18 horas do dia 5 de outubro. E à noite do mesmo dia, comemorar o resultado da eleição, que já antevejo. Mas o motivo do licenciamento de Raul Filho é para que tenha mais tempo de se dedicar com afinco aos inúmeros compromissos políticos que uma campanha eleitoral exige.
O senhor está pensando em fazer uma mini-reforma administrativa?
Não. Nada de reforma. Não demito. E todos que forem servidores têm a liberdade de exercer democraticamente o seu direito de voto. Cargos comissionados, talvez nomeie um ou outro.
Fonte: Jornal Opção