A notícia de que o Mato Grosso do Sul e todo o Estado de Minas Gerais e do Mato Grosso poderão voltar a fornecer bovinos que atendam à demanda européia por carne in natura a partir de 1º de dezembro, ocasionará um efeito de pressão de alta ainda maior para os preços do boi e da carne no mercado interno brasileiro, sobretudo a partir da entressafra de 2009.
Embora seja difícil traçar cenários de curto, médio e longo prazos por conta da crise financeira global, que afetará demandas de mercados, especialistas acreditam que a notícia é positiva para o setor produtivo brasileiro.
"Se a habilitação de fazendas continuar nesse bom ritmo e levando em conta o fato de que a oferta de gado no Brasil vai continuar reduzida, o impacto sobre os preços no mercado interno poderá se intensificar ainda mais", avalia Fabiano Tito Rosa, consultor da Scot Consultoria. De acordo com a consultoria, o rápido movimento de autorização de novas propriedades habilitadas pelos europeus já colaborou, em parte, com o aumento de 5% dos preços do traseiro no atacado no último mês, para R$ 6,70 o quilo. "O aumento significativo é resultado do efeito exportação e também de maior demanda no mercado interno pelos cortes de churrasco, por conta do fim de ano", completa Tito Rosa.
É importante lembrar que após a habilitação das regiões exportadoras, cada fazenda somente poderá se tornar fornecedora de carne para os europeus se passar por triagem coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (Mapa). As propriedades devem ser Estabelecimentos Rurais Aprovados no Sisbov (Eras) e pedir vistoria ao representante do Mapa em seu estado. Após a auditoria, os dados serão encaminhados ao Mapa e posteriormente aos europeus, para que, por fim, estes autorizem o ingresso da propriedade à lista de habilitadas.
José Vicente Ferraz, diretor do Instituto AgraFNP, concorda com a pressão de alta que está por vir após a notícia. No entanto, o especialista acredita que o efeito de uma demanda a mais pelo boi dessas regiões aprovadas trará maior impacto ao preço da arroba e não tanto sobre o preço da carne no atacado. "Não acredito que os preços da carne ultrapassem muito os níveis em que estão hoje. Os frigoríficos têm um limite para fazer esse repasse. A demanda a mais fortalecerá o preço da matéria-prima e prejudicará a margem dos frigoríficos", complementa. "As indústrias terão de aumentar o volume de abates, hoje estão com enorme capacidade ociosa".
Embora possam enfrentar aperto de margens internamente, há a possibilidade de ganhos com novos contratos de exportação. O frigorífico Independência, por exemplo, espera alavancar vendas de carne in natura para os europeus, já que possui três plantas habilitadas no Mato Grosso do Sul e outras três em fase de habilitação no estado do Mato Grosso. O Independência exportou 7 mil toneladas ao bloco este ano.
"Hoje exportamos a partir das plantas de Minas Gerais e Goiás. Até o final de 2009, teremos pelo menos mais seis plantas fornecedoras para os europeus", conta André Skirmunt, diretor comercial do frigorífico. Skirmunt não acredita que a demanda européia eleve os preços internos, porque há um descolamento entre os fornecedores. "O que vai acontecer com mais intensidade é a segmentação no mercado produtivo". Hoje o País tem três nichos de produtores: os que produzem boi tipo exportação para os europeus, os fornecedores para outros mercados menos exigentes e, ainda, os que detém animais sem rastreabilidade. Com maior oferta de bois para a UE, o prêmio pago por arroba tende a cair. Antes era de 15% e chegou à faixa entre 0% e 7%.
Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria