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Foto: Divulgação O reservatório poderá acumular um volume de 5,4 bilhões de metros cúbicos de água. O reservatório poderá acumular um volume de 5,4 bilhões de metros cúbicos de água.

A paisagem grandiosa deixa qualquer um boquiaberto com a visão. O canteiro de obras tem 1,3 mil hectares, tamanho de mais de mil campos de futebol juntos. E ninguém se aproxima sem estar paramentado dos pés à cabeça, passar por um rígido controle de segurança e ouvir atento uma palestra de uma hora. A hidrelétrica de Estreito, a maior usina em construção no país, está prevista para funcionar a pleno vapor no final de 2011.

No imenso buraco, onde o ponto mais baixo chega a 56 metros de profundidade, tudo funciona muito rápido. A obra não pára. Mais de cinco mil homens se revezam em três turnos. De macacões, capacetes, botas, luvas e óculos, os operários correm contra o tempo para colocar a primeira das oito turbinas da hidrelétrica em funcionamento até setembro de 2010.

Tudo por lá é gigantesco. Ao custo de R$ 3,6 bilhões, a UHE de Estreito tem capacidade instalada de 1.087 megawatts e energia assegurada de 584,9 MW. Para isso, será inundada uma área de 400 quilômetros quadrados, envolvendo parte de 12 municípios em dois Estados. Seu reservatório poderá acumular um volume de água de 5,4 bilhões de metros cúbicos e vai ocupar uma área de 555 quilômetros quadrados.

Essa gigante é erguida no meio do rio Tocantins. Na margem direita, em Estreito, no Maranhão, a geração terá oito turbinas. Na esquerda, em Aguiarnópolis e Palmeiras, no Tocantins, é construído ao mesmo tempo o vertedouro com 14 comportas.

O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, explica que a energia gerada em Estreito será levada para Imperatriz, no Maranhão, por uma linha de transmissão. "De lá, será distribuída para todas as regiões do País", diz ele.

A pressa na entrega da obra é grande. O Consórcio Estreito Energia (Ceste), formado pelas empresas Suez Energy, Vale, Alcoa, BHP Billiton Metais e Camargo Corrêa Energia, venceu o leilão na Bovespa em 12 de julho de 2002.

Por quatro anos, o Ibama analisou os impactos ambientais do empreendimento, que começou em 2006. Mas, nos últimos dois anos, os desafios estão mais relacionados aos ativistas ambientais do que com problemas de engenharia. Somente neste ano, a obra foi paralisada duas vezes pela Justiça, que concedeu liminar exigindo novos estudos de impacto ambiental, desta vez, em toda a bacia do rio Tocantins, a pedido do Movimento dos Atingidos por Barragens.

A Justiça Federal suspendeu as liminares porque considerou a exigência desmedida. "O nosso maior problema tem sido o tempo", explica o engenheiro sênior do Ceste, Oswaldo Ferronato. "Uma obra desse tamanho teria um impacto ambiental em qualquer região do mundo", diz o presidente do Ceste, José Renato Ponte. "Mas estamos mitigando esses efeitos. Pode parecer conta de mentiroso, mas eu já participei de 2.355 reuniões individuais só para apresentação dos impactos e o que estamos fazendo para atenuá-los", conta ele.

O trabalho do consórcio tem extrapolado, e muito, a execução da obra. O Ceste tem 39 ações sociais nos 12 municípios diretamente atingidos pela barragem. Além de Estreito, Aguiarnópolis e Palmeiras do Tocantins, também serão impactados Carolina, no Maranhão, e os municípios tocantinenses de Babaçulândia, Barra do Ouro, Darcinópolis, Filadélfia, Goiatins, Itapiratins, Palmeirante e Tupiratins.

Nos próximos meses, serão removidas cerca de duas mil famílias que moram nas áreas que serão alagadas. Cada uma delas será indenizada e transferida para uma área com infra-estrutura, distante no máximo 200 quilômetros de onde morava. Há uma preocupação com a saúde, porque o movimento migratório na região favorece o aparecimento de doenças. E a mudança no curso das águas pode facilitar o surgimento de mosquitos que podem transmitir enfermidades como malária, dengue, febre amarela e cólera. "Estamos fazendo ações educativas e preventivas e também controlando vetores", diz a diretora de sócioeconomia do Ceste, Norma Vilela.

Além disso, a inundação do reservatório irá afetar atividades econômicas como, por exemplo, a agricultura de várzea. O programa Usina Social levou um mutirão de serviços médicos, odontológicos e de documentação, cursos de capacitação e cinema para as 12 cidades. "Estamos com uma série de programas para substituir as atividades produtivas que terão impacto e apoiando as associações produtivas, como ceramistas, pescadores e barraqueiros", explica José Renato.

A maior transformação, contudo, ocorreu nos dois municípios que abrigam o canteiro de obras: Estreito e Aguiarnópolis. Essas cidades receberam um número surpreendente de migrantes, atraídos pela oferta de empregos, e viram explodir o comércio local. "Esse desenvolvimento está sendo bom", diz o prefeito de Estreito (MA), José Lopes Pereira (PV), o Zeca Pereira. "Quando eu assumi a prefeitura, quatro meses de salário estavam atrasados. Com a obra, a cidade cresceu: saiu de 20 mil e agora tem 45 mil habitantes."

A microempresária Maria José Barbosa, 43 anos, comemora. Antes da usina, ela era cozinheira de uma juíza federal que morava em Imperatriz e trabalhava em Estreito. Hoje, ela tem um dos restaurantes mais movimentados da cidade, que atende cerca de 100 pessoas no almoço, um bufê para eventos e está terminando a obra de um espaço para festas. "Sou danada, não sou?", gaba-se.

O hotel de Cícero Moraes, 35 anos, que antes não alcançava 75% de ocupação, agora tem lista de espera. Além do hotel, Cícero criou uma construtora, que presta serviços para o Ceste, e uma loja de material de construção. "Nasci e me criei aqui, nunca pensei que teria tanto sucesso", emociona-se Cícero.

Números

R$ 3,6 bilhões é o custo da Hidrelétrica de Estreito, cuja primeira turbina será inaugurada até setembro de 2010.

1.087 megawatts será a capacidade instalada da usina, com energia assegurada de 584,9 megawatts.

5,5 mil operários dedicam-se em três turnos à construção da usina, que irá inundar uma área de 400 quilômetros quadrados.

13 mil hectares é o tamanho do canteiro de obras, numa área de mais de mil campos de futebol

 

Fonte: IstoÉ Dinheiro