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Geral

Brasileiro tem nome extraordinário para colocar nos filhos. Nomes que marcam por toda a vida. E aqui vou contar de um deles interessantíssimo que andava meio no ostracismo mas ganha destaque com a ida de Marcos Pontes ao espaço – o primeiro astronauta brasileiro. Em 1969, lá no interior, nascia mais um filho de amigos de minha família. O pai, aviador que não conseguira ser piloto na campanha da FEB na Itália, durante a Segunda Guerra, esperava o nascimento da criança para se realizar e vingar-se do sonho frustrado. Os americanos iam dar os primeiros passos na Lua. A Apollo 11 ia realizar o “grande salto para a humanidade”. Seu Hermenegildo, também entusiasta da corrida espacial, tinha o nome em segredo se o filho fosse homem. Dona Cotinha, a esposa, com o filho na barriga mas sem autonomia sequer para compartilhar a escolha do nome com o marido, gravitava a sua volta como um satélite artificial em busca de desvendar o segredo. Mas nada. Os amigos faziam aposta. Os nomes mais previsíveis eram Collins, Armstrong e Aldrin, dos tripulantes da nave. Mas seu Hermenegildo, com ares de quem possuía um grande trunfo, dava de ombros a cada investida. Era um túmulo!

Só quando a nave americana pousou na Lua, em 20 de julho, e o menino nasceu no dia seguinte, seu Hermenegildo correu ao cartório – ludibriando quem o desejava seguir para conhecer o segredo em primeira mão – e pimba! Registrou o garoto: Apollo 11 da Silva.

Em casa dona Cotinha quase foi ao céu e voltou antes mesmo do Marcos Pontes, como já ocorrera com o tabelião que tentou fazê-lo desistir da idéia. Não conseguiu. “O filho é meu”, foi o argumento irrefutável.

O menino cresceu e de tanto ouvir o nome acostumou-se à alcunha. Sim! Os desafetos de seu Hermenegildo tinham em conta que isso não era nome de gente, mas alcunha. A mãe, resignada, tratava-o com um eufemismo. Chamava-o somente Apollo. Mas na escola, nas raras vezes em que Apollo se sentia no alto, os colegas eram cruéis: “Apollo 11! Apollo 11!”. E entre alegrias e tristezas, a vida foi passando para Apollinho.

Quando tinha 17 anos tentou ser jogador. Entusiasmou-se e foi aos testes. Primeiro na zaga: era admirador do Oscar da seleção. Tinha até algum jeito nas bolas altas, mas era sofrível nas baixas. O técnico, condescendente, talvez para que não se sentisse excluído por culpa do nome – ou melhor, da alcunha -, tentou encaixá-lo como centroavante. Nessa posição também ainda não estava no estágio adequado. Nas bolas altas talvez valesse um tostão, mas seus chutes erravam o gol pela simples razão de teimarem entrar em órbita. Nova frustração. Tentou realizar-se no amor. Fracasso sobre fracasso. Vivia no mundo da lua. As meninas queriam alguém com os pés no chão. Vê lá se alguma mulher ia tolerar um homem – talvez estimulado pela alcunha – que dizia querer ser o primeiro astronauta brasileiro. E ainda mais num tempo em que sequer se sonhava com isso. Elas sorriam e despediam-no com um simples: “Apollo, desce! Apollo, desce!”.

Profissionalmente também dava tudo errado. Era fraco o seu desempenho em qualquer profissão, literalmente eclipsava-se.

Quando Marcos Pontes virou celebridade e transformou-se no primeiro astronauta brasileiro, eu liguei para o Apollo. Alguém havia roubado o seu lugar.

– E aí, rapaz, tudo bem?

– Beleza.

– Esse lugar do Pontes, por direito era seu, não?

Ele me surpreendeu pela simplicidade e conformismo:

– Qual nada.

– Claro que sim. Até o nome daria certo.

– É aí que você se engana.

– ??

– Apollo 11 não seria bem aceito pelos russos. Mesmo sem guerra fria eles não se sentiriam à vontade divulgando para o mundo um mito americano.

– É, parece lógico – concordei contrariado.

– Ficaria melhor se fosse o meu primo.

Intriguei-me. Não conhecia o primo dele.

– Seu primo??

– Sim, o Sputnik. Não o conhece? O pai dele invejou o meu. Mas lhe faltou criatividade.

(jjLeandro)