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Opinião

No princípio eram os sinais. Os primeiros seres humanos ainda não eram dotados de linguagem falada, mas já sabiam usar sinais para se comunicar. Dispunham da mímica e dos gestos e era assim que podiam reconhecer o que os outros sentiam: conforto, desconforto, raiva, alegria, aborrecimento, medo ou agressividade. Foi com sinais identificadores destes estados que a comunicação começou.

No princípio era a imagem. Muito antes de ser capaz de articular frases o ser humano pensava em termos de imagens.

Via uma cabeça, dois olhos, duas orelhas, um nariz, uma boca e reconhecia uma pessoa: a mãe, o pai, um membro da sua tribo, um amigo ou um inimigo. Pegava num pedaço de carvão e desenhava um búfalo na parede, um mamute, um veado ou um homem com uma lança e todos os que vissem o seu desenho percebiam do que se tratava. E foi com esses desenhos, com essas imagens, que começou a cultura.

Os sinais são imagens. Permitem às pessoas expressar espontaneamente sentimentos e idéias, generalizando-os e partilhando-os com os outros. Dos sinais passou-se à escrita, mas as imagens ficaram.

As imagens e os sinais marcam-nos. Foram-se sempre criando novas imagens para representar a cultura dos povos, para lhe dar um cunho próprio, para definir, para levar outra pessoa a integrar-se num dado contexto musical, para convencer de alguma coisa ou até para a forçar a aceitar algo: conhecemos a cruz, a meia – lua, a estrela de David. As pinturas no corpo ou no escudo permitiam aos guerreiros distinguir-se dos inimigos. Usavam-se brasões e estandartes, para que todos soubessem (para) onde se marchava. Os títulos feudais provêm de insígnias primitivas e alguns brasões dessa época tornaram-se símbolos nacionais.

Tudo o que possamos sempre associar a uma nação, a uma religião ou a uma cultura terá sido bem – sucedido em termos da criação do símbolo: vemo-lo e imediatamente nos ocorre algo a que corresponde. Os símbolos têm a capacidade de despertar na mente determinadas noções e imagens, experiências e sentimentos; prendem-se à memória e estão sempre presentes.

As marcas são imagens que se têm na cabeça. Basta vermos um logotipo para começar logo a passar um filme nas nossas mentes. Vemos uma estrela desenhada de determinada forma e pensamos de imediato num determinado carro. A estrela desperta em nós o mundo das imagens das marcas: as imagens de um produto, daquilo para que serve, do meio em que é utilizado, da forma como a sua utilidade é comunicada, do seu prestígio. Essas imagens estão armazenadas nos nossos cérebros. Surgem no dia- a- dia e resultam da forma como a marca se faz representar e nos é comunicada. As imagens são formas de identificação. São-nos dirigidas, são-nos oferecidas.

Assim como a Cruz nos remete imediatamente à Igreja Católica, a estrela de Davi ao Judaísmo, imagens e marcas identificam, também com pragmatismo, países, povos, nações, estados, cidades, agremiações e tudo aquilo em que se prescise representar a muitos com um único simbolismo.

Quem, ao ver a imagem de uma águia não se lembra imediatamente dos Estados Unidos da América? Ou, ao notar os cinco elos coloridos unidos, cada um representando um continente, não pensa nos Jogos Olímpicos?

Aqui no Brasil, as bandeiras – que por si só já assumiram o papel de símbolos, quase logotipos dos estados que representam – trazem em seu contexto imagens daquilo que remete ao rincão que representam. A bandeira do estado do Rio de Janeiro traz pés de cana de açucar, lembrando a época áurea da economia nacional, tocada pelo cultivo da cana e pela exportação do açucar. Na bandeira da Paraíba, em letras garrafais, o NEGO, que demonstra a obstinação do povo paraibano. Na de Minas Gerais, o triângulo da inconfidência mineira e a mensagem de Tiradentes “Libertas Quae Sera Tamen”.

Está na Wikipédia: o capim dourado é uma espécie de capim (Singhnantus sp) que existe somente na região do Jalapão, localizada no Estado do Tocantins, com a palha do qual se faz artesanatos, tais como: pulseiras, brincos, chaveiros, bolsas, cintos, composição de telas, ornamentação de ambientes, entre outros.

Sua característica principal é a cor que lembra o ouro. Ou seja, ao contrário do girassol, originário da América do Norte, o Capim Dourado é genuinamente tocantinense e, para os mais puristas, do Norte de Goiás. Sem dúvida nenhuma, tocantinense de coração e origem.

Pois aproveitando esse momento de mudanças profundas nos rumos e no cenário político do nosso Estado, o seu aniversário, data na qual, incljusive, sua história política recomeça do zero, com o surgimento de novas lideranças e , com isso, uma oportunidade de readequação, para o surgimento de novos e mais abrangentes laços entre território e povo, nada melhor que propor uma reformulação, também, de simbolismo, de simbologias.

Por quê não adotarmos o Capim Dourado como o símbolo do Tocantins? Sim, o Singhnantus sp! O ouro que brotou do solo arenoso do Jalapão para ofuscar outros símbolos e amuletos que se mostraram tão valiosos quanto o ouro de tolo.

Eis o momento de o Tocantins aproveitar a oportunidade que lhe é oferecida para, enfim, se colocar nos trilhos – reais, palpáveis e literais – do progresso que se vislumbra em seu horizonte, tendo como exemplo e símbolo máximo dessa arrancada, algo que é original e genuinamente seu, como o Capim Dourado.

Uma verdadeira dádiva que, de uma forma natural e simples, surgiu do solo tocantinense para, em forma de arte, correr o mundo adornando corpos femininos – e porque não, masculinos –, salões, ambientes, escritórios, residências, dos mais simples aos mais luxuosos, levando para cada canto do mundo, cada cultura, um pouco do Tocantins, de forma natural e gratuita, sem que houvesse a necessidade de uma campanha, de uma explicação, ou mesmo de um planejamento.

É o simbolimso perfeito para retratar o que o Tocantins realmente representa no contexto nacional. Uma terra de gente criativa, trabalhadora, sem medo de desafios e com ganas de progresso, desenvolvimento e participação na construção de um Brasil cada vez melhor. Que tira do seu ventre uma coisa única, sua, para trazer possibilidades várias de engrandecimento; que no seu solo mantém uma riqueza capaz de sustentar sua gente e que pode – e está – levando o nome do Brasil onde quer que vá, de uma forma bela e natural.

Talvez seja uma mensagem, um sinal enviado de forma simbólica pelo próprio Tocantins, que, ao completar 21 anos de história efetiva e 200 anos de luta separatista, vive um momento ímpar de transformações e oportunidades e que tem no Capim Dourado a sua principal – senão a mais vistosa – demonstração de sua capacidade de tirar de si próprio, do seu solo fértil, não apenas um símbolo, mas uma espécie de ferramenta com a qual municia seu povo para abrir os caminhos da plenitude.

A partir de hoje, então, que o Capim Dourado passe a receber o valor e a importância, por parte não só dos tocantinenses, mas dos brasileiros, que lhe são realemente devidos e passe a ser considerado de fato e de direito, como o símbolo maior do nosso Estado.

Um Estado que tira das suas entranhas coisas tão valiosas e importantes que podem sim, sustentar o progresso e o desenvolvimento não apenas de si mesmo, mas de toda uma nação.

(José Carlos Leitão, empresário de comunicação e ex-presidente da Conorte)