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Cultura

Foto: Emerson Silva

Foto: Emerson Silva

Acontece no dia 07 de outubro, às 19 horas, na Galeria Mauro Cunha da Fundação Cultural do Estado do Tocantins, o Projeto Fotográfico Roda de São Gonçalo e a Lagoa da Pedra.

O projeto que foi contemplado no 1º Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afrobrasileiras, realizado pelo Centro de Apoio e Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves (CADON), parceira com a Fundação Cultural Palmares - Ministério da Cultura e Patrocinado pela PETROBRÁS; e conta, ainda, com o Apoio da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e Fundação Cultural do Estado do Tocantins (FCT).

O projeto Fotográfico que contém fotos do Fotógrafo Emerson Silva e textos do pesquisador e jornalista Wolfgang Teske, elaborado pelo Produtor Cultural Manoel Júnior, é a maior exposição fotográfica do Estado do Tocantins e a segunda maior da região norte.

Ele é composto por um gigantesco quebra-cabeça, selos, cartões postais, grandes quadros de fotografias, e marca o lançamento da primeira edição inédita de um fotolivro no Estado do Tocantins. A exposição irá circular pelos sete campi da UFT e também terá o maior tempo de duração de uma exposição no Estado, que será de quase três meses.

Comunidade Lagoa da Pedra

A Comunidade Quilombola Lagoa da Pedra localiza-se no extremo sudeste do Tocantins, no município de Arraias, fazendo divisa com o Estado de Goiás. Dista a 34 quilômetros da sede da cidade e 450 km de Palmas, capital do Estado. É composta por 34 famílias, totalizando 157 pessoas, vivendo da agricultura familiar, pecuária em pequena escala e criação de pequenos animais.

A grande mudança na comunidade se deu a partir do recebimento da Certidão de Auto-Reconhecimento, que a declarou remanescente de quilombos, assinada no dia 25 de agosto de 2004, pela Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura.

Um dos maiores patrimônios da comunidade é a preservação de sua cultura centenária, que se revela na Roda de São Gonçalo; nas Novenas de maio e de junho, também denominadas de Festa dos Solteiros e dos Casados; a Folia do Sagrado Coração de Jesus; as Fogueiras de São João, nas quais realizam batizados e casamentos; as Fogueiras dos Viúvos; a Festa do Judas; a celebração do Bom Jesus da Lapa e Nossa Senhora D’Abadia, que ocorre na caverna da Lapa do Bom Jesus, entre outras. Além disso, preservam um rico imaginário sobre o espírito dos mortos, que ultrapassa o período da escravidão e remonta à época dos antepassados livres na África.

Segundo os relatos dos moradores, especialmente os mais velhos, pertencentes a quarta e quinta geração de quilombolas, a ocupação da região, se deu em meados do século XIX, por volta de 1854, com Joaquim Francisco Machado, portanto, vários anos antes da assinatura da Lei Áurea.

Roda de São Gonçalo

A Roda de São Gonçalo, ritual empregado em pagamento a alguma graça alcançada, ou concedida por meio de uma promessa a São Gonçalo, tem sua origem na cidade de Amarante, Portugal, em 1259. Tudo inicia com um frade violeiro português, chamado Gonçalo. Ao iniciar sua vida sacerdotal na ordem dominicana, Gonçalo dedica-se a ajudar as pessoas, principalmente as mais necessitadas. Vários milagres são atribuídos ao beato e por essa razão os devotos passam a considerá-lo como o São Gonçalo, quando, na realidade, ele nunca foi canonizado pela Igreja Católica.

Quando o culto ao frade português chega ao Brasil no século XVI, no período colonial, ele não perde as influências pagãs e islâmicas que o caracterizavam em Portugal e, além disso, agrega novos elementos de influência da cultura africana. Nesse ponto reside, uma das possíveis razões do setor ortodoxo da Igreja Católica em combater e resistir a esse culto popular.

Na Comunidade Quilombola Lagoa da Pedra, Arraias, TO, a Roda de São Gonçalo só ocorre de forma completa por ocasião do pagamento de alguma promessa, sendo uma das manifestações culturais marcantes da comunidade. Apesar de apresentar diferenças das festas realizadas nos séculos XVIII e XIX, em homenagem ao beato, vários aspectos e características ainda se mantêm. Para os moradores dessa comunidade, São Gonçalo é quem socorre os doentes, manda a chuva em época de seca e quem pode livrar os devotos de diversos males. Sempre que São Gonçalo é invocado por algum dos moradores e é atendido em suas preces, o pagamento da promessa terá que ocorrer com a Roda de São Gonçalo, sem data fixa para a celebração.

A Roda de São Gonçalo na Comunidade Quilombola Lagoa da Pedra consiste em várias ações, tais como, mobilizar toda a comunidade local e lugarejos vizinhos. A dança propriamente dita é antecedida como uma janta coletiva sem que haja a necessidade de pagar-se ingresso. Após a janta, 24 mulheres denominadas de rodeiras, orientadas por dois guias, todos paramentados e acompanhados por um violeiro dançam durante mais de quatro horas. Tudo é feito com dedicação e de forma voluntária. A beleza dos arcos enfeitados com flores de papel crepom colorido e das candeias, da vestimenta das rodeiras, do cruzeiro de buriti iluminado com as velas é notória e demonstra que a Roda de São Gonçalo nessa localidade é símbolo de resistência cultural e um dos elementos que denota a riqueza do patrimônio imaterial quilombola do Tocantins.