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Estado

Durante reunião na Câmara de Vereadores de São Félix do Araguaia nesta última terça-feira, 14, o procurador da República Álvaro Manzano intermediou o retorno do trabalho dos funcionários da Companhia de Energia do Mato Grosso (Cemat) que executam serviços de manutenção e leitura de medidores na Aldeia Santa Izabel, na Ilha do Bananal.

A relação amigável entre os indígenas e os trabalhadores da Cemat, que atendem a aldeia devido à maior proximidade que as unidades da Celtins, foi abalada após um indígena ameaçar com arma de fogo um eletricista que cumpria a ordem de serviço para corte no fornecimento por falta de pagamento.

Com presença do advogado da Celtins, Fabrício Azevedo e do gerente de eletrificação rural João Carlos Sarri Júnior, foi esclarecido aos índios que a colocação dos postes na aldeia pelo Programa Luz para Todos não dá direito à indenização ou mesmo isenção dos pagamentos, e que os índios devem quitar suas contas como todos os cidadãos. Também foram esclarecidos os procedimentos para requerimento das tarifas rural e social, negociação de dívidas e obtenção de segunda via da conta.

Diversas lideranças indígenas ressaltaram que a energia elétrica, disponível para a aldeia há cerca de dois anos, é uma antiga reivindicação que traz muitos benefícios, e que o fato ocorrido com o trabalhador foi isolado e não reflete a postura da comunidade. Diante das acusações feitas ao indígena envolvido na agressão, Manzano ressaltou que o objetivo da reunião era definir a forma para retorno dos trabalhos dos técnicos da Cemat à aldeia, e não julgar o acontecido.

Presente na reunião, o índio que ameaçou o eletricista reconheceu o erro e alegou estar psicologicamente abalado no momento do fato, devido à morte recente de um filho e um cunhado. Ele assumiu a dívida e disse que a comunidade não deve sofrer as consequências de sua atitude e se desculpou com o trabalhador, também presente. Como encaminhamento, foi definido que os eletricistas da Cemat serão acompanhados por um grupo de indígenas durante os trabalhos na aldeia por um período de tempo, e o serviço será retomado na quarta-feira, 15.

No segundo momento da reunião, foram debatidos os diversos problemas causados pelo abuso de álcool entre os índios, que começam a beber cada vez mais cedo. Relatos de lideranças presentes na reunião apontam casos de crianças de doze e até dez anos que já se embriagam, além do frequente uso de gasolina como entorpecente. A venda de bebidas nas aldeias foi outro problema relatado. Diversas lideranças cogitaram a criação de leis que impeçam a venda de bebida alcoólica aos índios.

Apesar do último caso de suicídio ter ocorrido no segundo semestre de 2012, houve três tentativas recentes. Além dos suicídios, é atribuído ao abuso de álcool transtornos nas aldeias como agressões entre parentes, acidentes e mortes por afogamento. Manzano salientou a dificuldade de uma intervenção estatal que impeça os índios de comprar e fazer uso de bebidas alcoólicas, mas que a aldeia é soberana em suas decisões dentro da terra indígena, e pode impedir a entrada se for consenso de todos. O índice de suicídio entre os índios karajás é um dos mais altos do mundo.

Medida cogitada desde a realização do seminário sobre alcoolismo em 2009, os índios decidiram escolher pessoas para impedir a entrada de bebida durante reunião entre as lideranças, com remuneração pela própria comunidade. Manzano sugeriu a realização de um trabalho com as famílias para que apoiem o grupo em seu trabalho. Outro ponto foi a construção de um local, na aldeia, para abrigar índios sob efeito de álcool que estejam alterados e causando problemas até que cesse o efeito do álcool. (Ascom MPF)